Quem é: Caio Guimarães
Por que é importante: criou uma tecnologia que promete revolucionar o tratamento de feridas em diabéticos, evitando a amputação de membros
O ano de 2017 tem passado quase que na “velocidade da luz” para o empreendedor Caio Guimarães, 26 anos. Neste período, ele vem tomando decisões difíceis tanto no campo pessoal quanto no profissional. A primeira delas foi a guinada no modelo de negócios da BeOneTec, startup da área de bioengenharia que desenvolveu uma tecnologia capaz de cicatrizar feridas. O processo é simples e se dá por meio de um equipamento que emite fachos de luz na cor azul em direção ao local infectado, matando as bactérias. Para ficar mais perto dos investidores e acelerar o negócio, Caio migrou para São Paulo e aterrissou no apartamento da noiva Lígia Cardoso, 36 anos, que ele conheceu numa disputa entre startups, no final de 2016.
A mudança, a 14ª na vida deste paulistano radicado desde a adolescência em Recife, fará com que Caio troque, pela segunda vez, de faculdade para tentar concluir o curso de engenharia elétrica, iniciado em 2014, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É que em 2015, ele conseguiu uma bolsa do programa Ciências sem Fronteiras e foi estudar na Universidade Hoffer, no Estado de Nova York, mas acabou sendo recrutado pelo prestigioso Wellman Center, parceria da Universidade Harvard com a Massachusetts Institute of Technology (MIT). Foi nesse périplo que ele desenvolveu o projeto da Lanterna Medicinal, usada no tratamento de infecções bacterianas.
Hoje, cada vez mais gestor e menos engenheiro e cientista, Caio conta que pensa quase todo dia em deixar a academia para se dedicar integralmente aos negócios. A pressão da família e dos amigos fez com que ele mudasse de ideia. “Vou ter de concluir o curso no sistema de ensino à distância”, estima. Apesar de toda sorte de incertezas e mudanças, Caio se diz bastante confiante no futuro. A lanterna se tornou uma máquina portátil e o protocolo de tratamento, a cargo de médicos e pesquisadores do Hospital Agamenon Magalhães, de Recife, tem mostrado resultados animadores na cura do chamado pé diabético, ferida de difícil cicatrização e que afeta os portadores da doença. Um bom exemplo é o seu tio, que já teve de amputar um pé e uma mão por conta dos efeitos da doença. “Em cinco semanas de tratamento conseguimos cicatrizar uma ferida que o atormentava há três anos”, conta o empreendedor.
Caio, numa feira de ciências nos EUA
Caio está ciente do papel social e científico de sua descoberta. Contudo, não deixa de olhar os atributos econômicos da empreitada. Hoje, os custos associados ao tratamento do pé diabético, enfermidade que atinge 200 milhões de pessoas globalmente, são bastante elevados. Chegam a US$ 50 mil, nos Estados Unidos, incluindo o tempo de internação e de acompanhamento, que dura cerca de três anos. Pior: em 50% dos casos, a amputação é inevitável. Ele diz que o uso da tecnologia da BeOneTec faria esta conta cair para cerca de US$ 2 mil.
Foi este potencial que chamou a atenção de investidores dos mais variados perfis. Para desenvolver o protótipo da lanterna e seguir com a pesquisa, Caio recorreu a uma vaquinha virtual, na qual arrecadou R$ 80 mil, em 2015. A BeOneTec também despertou o interesse da aceleradora de startups do Yunus Social Fund.
Com a mudança para São Paulo, ele espera dar início a uma série de road shows para apresentar a empresa e seu modelo de negócio baseado na venda do equipamento e num serviço de acompanhamento remoto dos pacientes. O software será capaz de monitorar a qualidade de vida dos diabéticos, atuando na prevenção. “A doença possui um fator comportamental muito forte. Por isso que o monitoramento é vital”. Nesta tarefa ele contará com o aconselhamento da noiva, que trabalhou na Europa com fusões e aquisições. Caio estima que serão necessários cerca de R$ 1 milhão para colocar a BeOneTec na cabeceira da pista. Nesta bolada constam os custos para obter das certificações exigidas pela Agência de Vigilância Sanitária e finalizar o desenvolvimento da máquina.