Quem é: Luly Vianna
Por que é importante: uma das pioneiras no uso de câmaras de pneus descartadas na produção de bolsas e acessórios de luxo
Não passa um mês sequer sem que a design Luly Vianna invente alguma novidade. É assim desde criança. De tanto inventar moda, essa paulistana acabou descobrindo sua verdadeira vocação: o design de malas, bolsas e bijuterias feitas de câmaras de pneus descartados. Para conhecer melhor essa história precisamos voltar no tempo. Mais precisamente a 2012, quando ela passeava pela orla de Teresina e deu de cara com pilhas de pneus e câmaras. Na hora, ela experimentou sentimentos diametralmente opostos: ficou chocada com a cena de poluição e ao mesmo tempo curiosa em relação àquele material.
De volta à cidade natal, ela se lançou em pesquisas para tentar dar sua contribuição para reduzir um passivo ambiental. Foi aí que lhe ocorreu o reaproveitamento do material como base para produção de bolsas e malas de viagem. A linha Smile, a primeira a figurar em editorias de revistas de moda como exemplo de produto eco chic, foi parar em uma exposição no museu A Casa, em São Paulo. “Nunca fiz moda para pessoas pobres ou ricas”, diz. “Mas para pessoas inteligentes”.
Desde então, as linhas da Saissu Design vêm ganhando projeção e crescendo bastante. Sua nova investida são os acessórios (colares, brincos e pulseiras), além de chapéus sacolas, toalhas e saídas de praia da coleção Saissu by Piauí. Estas linhas marcam o retorno da design ao estado no qual ela se inspirou para se tornar empreendedora.
A grife Saissu mantém parceria com grupos de artesãs
Só que em vez da bela capital Teresina as incursões a levaram para rincões do estado como Pedro II e Várzea Queimada. Ao conhecer o trabalho de tear típico da região, Luly ficou encantada e decidiu unir seus conhecimentos de design com o saber local. “O desenvolvimento das peças respeita o saber e as técnicas ancestrais”, explica. Contudo, como ainda existem limitações técnicas na mão de obra local, a finalização das peças é feita em duas oficias: em Taboão da Serra (município da região Metropolitana de São Paulo) e no bairro de Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo, numa atuam moradoras de duas favelas. O ateliê fica numa charmosa casa no Jardim Paulistano, bairro de classe alta da zona Sudoeste.
Nascida numa família de classe média alta, Luly teve a chance de conhecer o mundo. Morou em Nova York, onde cursou artes na prestigiosa School of Visual Arts (SVA, da sigla em inglês) da Universidade de Nova York (NYU), passou pela Itália e acabou na Índia. Mas foi na terra de Gandhi foi que ela acabou se reconectando consigo mesma e redefinindo sua visão de vida e de trabalho. Entre idas e vindas, foram 18 meses atuando como professora de artes e inglês numa ONG situada numa vila, na fronteira com o Paquistão.
Apesar de ter o trabalho reconhecido em editorias de moda, e valorizado por lojas de shoppings sofisticados, especialmente no eixo Rio-São Paulo, Luly diz que ainda há muito o que conquistar. Para ela, a produção sustentável deveria ser a regra e não ocupar apenas um nicho de mercado. “O mercado e o jeito de fazer negócios estão mudando”, destaca. “O consumidor não deseja apenas comprar um produto, mas ser parte de um projeto que transforma vidas”. Ah, duas curiosidades: Saissu significa amor, em tupi-guarani. E cada peça vendida pela empresa gera o plantio de uma árvore, numa parceria com a ONG Plant Tree.
