Quem é: Edson Urubatan
Por que é importante: transformou um projeto de educação popular numa das maiores potencias do setor, no Brasil
Faz tempo que Edson Urubatan, 39 anos, adquiriu o hábito de relaxar a mente fazendo caminhadas pela areia da praia do Recreio dos Bandeirantes, bairro nobre da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, onde mora com a família. Dezessete anos atrás, ele cumpria este mesmo trajeto vendendo guaraná natural, atividade com a qual bancava as despesas pessoais e complementava a renda dos pais. Entre um momento e outro, muitas coisas aconteceram na vida do criador do Sistema PeC de Ensino, um dos mais efetivos do País em matéria de aprovação em concursos e vestibulares. “Hoje, ocupamos a terceira posição em número de alunos e o sexto lugar na quantidade de escolas conveniadas”, diz.
A história deste empreendedor nascido em Mesquita, então um distrito empobrecido de Nova Iguaçu, cidade da Baixada Fluminense, nunca foi linear. Com o objetivo de se tornar rico (ou seja: possuir uma casa e um automóvel), ele apostou na carreira militar. Prestou concurso e ingressou na escola de oficiais do Exército, de onde saiu com a patente de tenente. “Era o oficial mais duro do quartel”, recorda. “Mandava quase todo o salário para casa e ficava apenas com uns trocados”. Para economizar, tinha de morar e se alimentar no quartel.
Acabou desistindo da carreira militar e tentou ser empreendedor. Abriu um negócio com um colega, mas faliu pouco tempo depois. Sem dinheiro, mas com belas credenciais (ex-oficial do Exército e graduado em matemática e física) ele foi à luta. Distribuiu cerca de dois mil currículos e nada. Sem emprego e arrimo de família, Edson não pensou duas vezes e foi se virar no mercado informal. Nas idas e vindas entre a empobrecida Baixada e a rica Zona Oeste ele conheceu o jovem Richarlisson, que sonhava em ingressar na Marinha. Edson, então, criou um método para acelerar o aprendizado do rapaz. “Ele acertou todas as questões”, lembra.
O que deu certo com um aluno poderia funcionar com dezenas e até centenas. Foi o que pensou o vendedor de guaraná natural, professor e empreendedor bissexto, que decidiu arriscar. Bateu de porta em porta no bairro onde a família morava de favor na casa de parentes e foi pedindo uma cadeira ou o “filho emprestado”, para inaugurar um cursinho à sombra de uma árvore, na praça de Mesquita. Todos os cerca de 20 jovens que acreditaram nele foram aprovados em concursos públicos e universidades cobiçadas.
O sucesso fez crescer o número de alunos que pagavam uma taxa simbólica para estudar com o professor que ensinava de português a biologia e inglês, passando por literatura e matemática. A formalização do PeC veio a partir de outra tacada que misturou ousadia e muita cara de pau. O embrião da rede de três colégios próprios foi o prédio de um motel falido, às margens da via Dutra. Edson foi conversar com o dono do edifício e levou um rotundo não. Voltou na outra semana, na outra, na outra… repetindo o gesto por seis meses até vencer pelo cansaço.
Àquela altura, ele ainda se dividia entre o cursinho popular e as vendas de guaraná natural nas areias do Recreio. Mas a recompensa chegou mais cedo do que ele esperava. Em quatro anos, os 20 alunos se transformaram em cinco mil e a escola da praça se converteu numa rede com três filiais, na Baixada. O sucesso, diz ele, é fruto do desenvolvimento de uma metodologia capaz de corrigir os “gaps” do deficiente ensino público, especialmente nos bairros pobres.
Edson também adquiriu a habilidade de ler o mercado de forma estratégica, enxergando riqueza nas cidades fora do radar das grandes empresas do setor. Para isso, criou uma editora, formatou cinco diferentes sistemas de ensino para diversos perfis de público e passou a vendê-los (às vezes pessoalmente) às escolas com menos de 500 alunos, pelo interior do país. Hoje, o sistema PeC está presente em 12 estados e é utilizado por 150 mil alunos. “Minha meta é chegar a 200 mil alunos, em 2018”, diz.
Alguém duvida?