Negócios para a classe G, de gente!

São Paulo poderá receber o primeiro empreendimento da rede FShopping (Favela Shopping), criada pelo carioca Celso Athayde, empresário, ativista social e fundador da Central Única das Favelas (Cufa), e o mineiro Elias Tergilene, empresário criador da rede Uai Shopping e sócio do Grupo Doimo, marca italiana de móveis.

Nesta sexta-feira, 30/8, eles estiveram na sede da Prefeitura de São Paulo, onde conversaram com o prefeito Fernando Haddad e o secretário de Direitos Humanos e Cidadania, Rogério Sottili. A rede FShopping terá como diferencial a instalação de suas unidades apenas em bairros periféricos ou favelas (ou comunidades, como preferem os cariocas) e contará com grifes conhecidas. Os donos das franquias teriam como obrigação treinar mão de obra local para atuar como funcionários, além de capacitar os comerciantes e moradores dispostos a explorar comercialmente o espaço.

O modelo começou a ser pensado para ser implantado no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Contudo, está emperrado devido a dificuldades ligadas à cessão do terreno, que abriga uma fábrica desativada (foto abaixo de Gustavo Campana/Divulgação).

O negócio idealizado por Athayde é, no mínimo, peculiar. Isso porque ele não coloca um centavo sequer de seu bolso. Seu capital é o conhecimento das “quebradas” e a capacidade de atrair patrocinadores.

Por sua vez, Tergilene entrará com os recursos e a experiência no ramo de comércio popular. Hoje ele comanda cinco shoppings: quatro em Belo Horizonte e um em Manaus. O poder público, por seu lado, em geral entra com a cessão do terreno.

Para São Paulo, o foco inicial da dupla seriam os comerciantes que estão temporariamente órfãos com a suspensão da chamada Feirinha da Madrugada, no bairro do Brás, região central da cidade.

Muito se falou nos últimos cinco anos sobre a classe C, a nova classe média brasileira. Contudo, poucos entenderam tão bem a dimensão das oportunidades de negócios nesta área quanto Tergilene, que criou a expressão “Classe G, de gente”. Ele ralou muito até conseguir montar uma serralheria, que se transformou em uma fábrica de móveis e acabou sendo comprada pelo Grupo Doimo, da Itália, um dos maiores do setor moveleiro na Europa.

Com dinheiro no bolso e um parceiro global, Tergilene foi atrás de novas oportunidades de negócios e viu no chamado comércio popular uma forma de garantir espaço. Afinal, boa parte dos empreendedores de shopping centers estão de olho apenas nos consumidores das classes A e B.

A parceria com Athayde, dono da Favela Holding, deverá render investimentos de cerca de R$ 500 milhões nos próximos 10 anos, com a construção de shopping centers pelo Brasil afora. Todos tendo como foco os brasileiros da base da pirâmide de consumo e que moram nas periferias.

1 Papo Reto procurou Athayde e Tergilene, mas não conseguiu localizá-los.