A estratégia da 99 para eletrificar a frota brasileira

A estratégia da 99 para eletrificar a frota brasileira

O Brasil possui todos os componentes para liderar, em diversos campos, a agenda da sustentabilidade. E se você, caro leitor, pensou no potencial ecossistêmico da Amazônia, acertou. Porém, nossas contribuições nesta arena vão muito além dos serviços ambientais prestados por uma das maiores florestas tropicais do planeta. No que se refere às fontes de energia renováveis e de menor impacto, como as modalidades solar e eólica, o potencial é igualmente gigantesco. Afinal, por aqui, o nível de insolação médio é um dos maiores do mundo, sem contar a intensa “produção” de ventos, especialmente na região Nordeste, justamente no período de seca, quando o nível dos principais reservatórios atinge um nível crítico. 

No segmento de transportes a história se repete. O desenvolvimento do etanol, em meados da década de 1970, conferiu ao Brasil o pioneirismo na oferta, em larga escala, de uma opção aos derivados de petróleo. Com a progressiva concentração da população nas regiões metropolitanas das capitais, que abrigam cerca de 80% dos brasileiros, seria natural supor que a conversão da frota de veículos para combustíveis alternativos, e não poluentes, fosse o caminho natural. 

Mas não foi isso que aconteceu. Apesar de 90% dos automóveis serem equipados com motor flex (que rodam com etanol ou gasolina), a poluição causada pela frota de 31,5 milhões de veículos (automóveis, ônibus, caminhões etc.) ainda é a principal vilã da saúde respiratória dos moradores da cidade de São Paulo. Uma das opções para mitigar este problema seria a eletrificação da frota. 

Contudo, assim como aconteceu com outras inovações no campo da sustentabilidade, a aceitação dos veículos elétricos tem esbarrado em fatores estruturais e até preconceitos. Esse cenário começa a mudar paulatinamente, graças, em boa medida, à mobilização de empresas privadas, antenadas com o que está acontecendo na Europa e na Ásia. “Na China, 95% dos motoristas de aplicativos já utilizam veículos elétricos”, destaca Fernando Pfeiffer, diretor de eletrificação da 99. 

Foi a partir deste exemplo que a empresa lançou, em abril, a Aliança pela Mobilidade Sustentável. O primeiro esforço tem sido no sentido de equacionar os “pontos fracos” desta modalidade de transporte, que incluem desde a deficiente infraestrutura de recarga das baterias até o elevado custo dos veículos. 

Na quarta-feira (27/9), a Aliança deu mais um passo para resolver a primeira questão, com a inauguração de mais um hub de recarga. Os nove postos estão instalados dentro de um dos principais estacionamentos da Estapar, na região da avenida Paulista. 

Apesar de ser de uso geral, o hub tem como público alvo os motoristas associados ao aplicativo de mobilidade que terão exclusividade na utilização de sete dos nove postos, além de contarem com um belo desconto em relação ao preço oficial: R$ 2,10 por kWh. Com um desembolso de R$ 0,99 por kWh, estes profissionais do volante vão pagar R$ 63 para “encher o tanque” do modelo D1. 

“Com este valor é possível rodar por 360 km”, explica Pedro Schaan, sócio-fundador e presidente da Zletric, associada à Ecovagas, uma das empresas do grupo Estapar. A Zletric é dona de metade dos 3,3 mil pontos de recarga de veículos em operação no Brasil. 

Para dar conta da outra ponta da equação, a 99 se apóia no acordo global celebrado com a chinesa BYD que resultou no desenvolvimento do automóvel.  Com isso, garantiu a aquisição de mil unidades do D1 para o Brasil. Até agora, cerca de 300 já rodam por aqui, mas a ambição da 99 e de seus parceiros na Aliança é bem maior:

- Aumentar a participação dos veículos elétricos entre carros novos para 10% das vendas até 2025 (hoje o índice é de 2%);

- Criar 10 mil estações públicas de carregamento em todo o Brasil até 2025 (atualmente existem cerca de 1.500);

- Lançar, no mínimo, 300 automóveis elétricos da 99 ainda esse ano, com objetivo de chegar a 10 mil até 2025 e 100% da frota até 2030;

- Chegar à emissão zero de carbono pela 99 até 2030 (hoje, 48% das emissões de CO2 são do setor de transporte no Brasil);

- Adotar a cidade de São Paulo como pólo pioneiro para implementação de programas a fim de inspirar outras regiões do país.

Para isso dispõe de uma verba de R$ 250 milhões, alocada no DriverLAB, unidade de inovação ligada ao app de transporte. Nessa bolada constam projetos relativos ao fomento da mobilidade elétrica no Brasil, além de benefícios diretos para os motoristas parceiros, focados no bem-estar: seguro de vida e descontos em academia, por exemplo. “Eu dirigi por 10 horas pelas ruas de São Paulo e vi como pode ser extenuante essa jornada. Sabemos como é importante para os motoristas esses benefícios”, destaca o executivo da 99.