O valor da diversidade

Existem diversas formas de se mudar comportamentos nas esferas social e econômica. Em linhas gerais, as mudanças de atitude têm início a partir da adesão de um grupo de pessoas engajados numa causa. No 3º SP Diverso, ao longo da quarta-feira, 9/11, algumas dezenas de empresários, gestores graduados do setor público, empreendedores e estudantes se reuniram no Auditório Elis Regina, no Centro de Convenções do Anhembi, para discutir como as empresas baseadas na cidade estão tratando a questão da diversidade. Tanto racial, quanto de gênero e etária, além do que se refere aos deficientes físicos.

O resultado, expresso na pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero dos 200 Principais Fornecedores da Prefeitura de SP, indica que ainda é preciso mudar muitas coisas na maior metrópole do continente.

A boa notícia é que nada menos que 56% das empresas possuem programas de ações de capacitação para que as mulheres evoluam na carreira. Outras 44% adotam medidas de conciliação entre trabalho, família vida pessoal.

Por outro lado, continua patente a invisibilidade dos afro-brasileiros no mercado de trabalho, especialmente nos postos mais qualificados. E olha que este grupo representa 37% da população paulistana ou cerca de 4 milhões de pessoas – o maior contingente, em números absolutos, numa cidade brasileira.

Apenas 8% dos entrevistados disseram adotar políticas destinadas a incentivar a presença deste contingente nas 53 empresas que participaram da amostragem. O dado vale tanto para os postos de diretoria, quanto de estagiários. O mesmo acontece em relação às ações pontuais de diversidade racial, adotadas em 6% das empresas ouvidas.

A conclusão dos pesquisadores do Ethos, quem assina o trabalho, é que “o baixo incentivo à equidade racial (…), revela uma maior vulnerabilidade dos negros em comparação com as mulheres”.

No caso das pessoas com deficiência física, os números são mais alentadores. Ao todo 28,3% das 53 empresas pesquisadas disseram dispor de políticas específicas para este contingente.

Além das mesas de debate, o evento também homenageou profissionais e empresas que se destacaram na promoção da diversidade racial, na cidade de São Paulo. Eles foram escolhidos por um júri independente do qual fez parte o fundador e publisher do portal de notícias 1 Papo Reto, Rosenildo Ferreira.

A lista de premiados inclui Rodney Williams, vice-presidente da Microsoft Brasil, Lisiane Lemos e Wagner Cerqueira, criadores da Rede de Profissionais Negros – SP, Alex Jean Gonçalves, gerente de loja do Magazine Luiza, e Lorival Ferreira dos Santos, presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-Campinas).

De acordo com o jornalista e cartunista Maurício Pestana, titular da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da cidade de SP, o SP Diverso já se firmou como uma ferramenta importante no combate à discriminação. “A falta de diversidade reduz a competitividade das empresas”, destaca.

Para além da frieza dos números que fazem parte da amostragem, pode-se perceber, no entanto, que os jovens afro-brasileiros começam a ganhar mais espaço no mundo corporativo paulistano, em particular, e brasileiro, em geral. A própria existência de um grupo no Facebook que reúne profissionais com este perfil evidencia este fenômeno. Em apenas um ano de existência, a Rede de Profissionais Negros – SP já reúne 2.359 integrantes. Uma parte expressiva deles atua em multinacionais que usaram a experiência americana como fonte de inspiração.

Talvez ainda estejamos distantes de viver numa cidade (e numa sociedade) que valorize, na prática, a inclusão racial e de gênero em todas as esferas, especialmente no mercado de trabalho. Talvez seja preciso que façamos uma revolução neste sentido.

Entrega do Prêmio SP Diverso 2016