Em geral, o Brasil é um exemplo em matéria de cumprimento de acordos internacionais. Foi assim no caso das 8 Metas do Milênio definidas pela organização das Nações Unidas (ONU), para os países em desenvolvimento. Contudo, quase sempre pecamos em detalhes que acabam enfraquecendo nossa posição no cenário global. Um deles é a questão do saneamento básico, embutido no item 7) Garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente). Até hoje no entanto, este serviço não está presente em metade dos lares brasileiros.
Trata-se de um quadro lastimável e que enfraquece a posição do país nos fóruns e debates mundiais sobre sustentabilidade ambiental. Sem contar os efeitos deletérios na saúde das pessoas e em nosso desenvolvimento econômico.
No caso dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), cujas metas devem ser alcançadas até 2030, a expectativa é igualmente grande. Apesar dos problemas, fica evidente que o país vem avançando em diversos campos. Exemplos não faltam e alguns deles foram apresentados no seminário Sociedade, Empresas e Futuro do Brasil, realizado hoje (19/4) no Instituto Tomie Ohtake, na cidade de São Paulo.
A subsidiária da Siemens, anfitriã do evento, aproveitou a ocasião para apresentar sua visão sobre o tema e algumas das conclusões do relatório Business to Society (B2S). “A sustentabilidade não pode ser apenas um departamento dentro de uma empresa”, diz Paulo Stark, CEO e presidente da Siemens no Brasil. “Mas sim um valor que integre a estratégia de crescimento e de geração de lucro, defendida por todos, a começar pelo presidente”.
E não se trata de benemerência ou de uma atitude para ficar bem na foto. Afinal, a expectativa é que a transição do modelo atual, baseado na exploração desenfreada de recursos, exigirá US$ 12 trilhões em investimentos, gerando 380 milhões de empregos, em nível global, até 2030.
Neste contexto, a subsidiária da gigante alemã de infraestrutura tem muito o que mostrar. No biênio 2014-2016, os equipamentos e serviços vendidos pela empresa ajudaram seus clientes, do setor público e privado, a reduzir em 32% as emissões de gases que causam o efeito-estufa, como o dióxido de carbono (CO2). “Em linhas gerais, as empresas vêm dando sua contribuição para que o Brasil cumpra os compromissos acertados nos fóruns internacionais”, destaca Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Ela diz isso com propriedade, pois foi uma das interlocutoras do setor privado no Acordo de Paris. Para Marina, é importante que o governo também se engaje com força nesta luta, viabilizando a implantação de mecanismos que valorizem os diferenciais competitivos do Brasil.
Um deles é a precificação do carbono, que consiste na atribuição de um valor econômico para os serviços ambientais prestados pela floresta. Ou então a possibilidade de as empresas instaladas no Brasil receberem “um prêmio” pela substituição de equipamentos e tecnologias baseados no combustível fóssil, por outros renováveis e menos poluentes. Mas, para isso, é necessário que tenhamos uma voz mais ativa perante o mundo. “O governo precisa mostrar governança nesta área, especialmente na questão do desmatamento zero”, destaca Marina.
De certa forma, os mecanismos para financiar e premiar as iniciativas sustentáveis já estão sendo criados. Quer seja pela força de acordos globais, ou a partir de arranjos no âmbito da sociedade. Um exemplo é a ação dos grandes investidores como os fundos de pensão, que preferem aplicar seus recursos em títulos (bonds ou ações) de empresas preocupadas com o meio ambiente.
“Os bonds verdes não são um sucesso porque pagam maior remuneração, mas porque os investidores já colocam em suas decisões de alocação de recursos os aspectos sociais e ambientais”, argumenta Denise Hills, superintendente de sustentabilidade e negócios inclusivos do Itaú Unibanco. No ano passado, foram emitidos globalmente US$ 86 bilhões em papéis com estas características.
Coube ao jornalista André Trigueiro, especialista em sustentabilidade, traduzir de forma mais direta a questão da sustentabilidade no dia a dia dos brasileiros. “As metas do Desenvolvimento Sustentável são ambiciosas e só vão sair do papel com o compromisso de todos”, diz.
Para o apresentador do programa Cidades e Soluções, da Globonews, é um engano pensar que ainda exista espaço para produtos ou serviços insustentáveis do ponto de vida socioambiental. Trata-se de uma tese com a qual Stark, da Siemens, faz coro: “As decisões que vão impactar a vida em 2030 estão sendo tomadas agora, por empresas, governos e a sociedade, em geral”.
Legenda da foto que abre esta reportagem: (a partir da esq.) Paulo Stark, Denise Hills, André Trigueiro e Marina Grossi
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