Vai ter impeachment? Pergunte no posto Ipiranga...

… nem o numerólogo do Delcídio sabe dizer 

Em Brasília, berço do poder republicano federal, o suspense em torno da questão “Vai ter impeachment de Dilma?” é o assunto principal de qualquer roda de conversas. Lembra muito o que já se viu repetidamente ao longo das últimas décadas em novelas da TV Globo: “Quem matou Salomão Hayala?”, “Quem matou Odete Roitman?”, “Quem matou Saulo Gouveia?”,

“Quem matou Taís Grimaldi?”, “Quem explodiu o shopping Tropical Towers?”, “Quem matou Lineu Vasconcelos?” ou “Quem era o assassino do horóscopo chinês? (esta é bem velhinha, de ‘A próxima vítima’ – 1995) ou “Quem cai primeiro: o Vasco, o Eduardo Cunha ou a Dilma?”.

Esses dias mesmo, em três reuniões com públicos diferentes, empresários, profissionais liberais, empregados do varejo e de serviços, todos só falavam no assunto impeachment antes, durante e depois das ditas reuniões. Talvez pelo fato de aqui em Brasília convivermos mais de perto com os personagens envolvidos nessa história ou História – porque isso tudo vai para os registros históricos do Brasil em sua claudicante trajetória de maturação democrática e política.

Afinal, em um intervalo de poucos anos encarar dois processos de impeachment é sinal de que ainda há fragilidade em certas partes, que permitem a um país como o nosso ver afundar indicadores importantes a tal ponto que nos conduzem à discussão do impedimento da chefe do Executivo federal e, ao mesmo tempo, abafa outro debate: a ‘culpa’ disso tudo é ‘só’ da Dilma?.

Por enquanto, infelizmente, a maioria da população é mera espectadora do que se debate em Brasília. Com isso, Eduardo Cunha – ‘alcunhado’ pelos funcionários da Câmara dos Deputados de ‘Meu Malvado Favorito’ e também de Tião Gavião’ por outros cidadãos mais velhinhos que assistiam ao desenho animado com o personagem vilão na TV nos anos 70/80 – deita e rola por ser, de longe, muito mais articulado politicamente do que a presidente da República. Ela, assim como Cunha, também é chamada de muitos nomes por aí.

A formação e a vitória de uma chapa de opositores ao governo para a comissão especial encarregada de avaliar o processo de impeachment na Câmara comprova isso com sobras.

A votação secreta que elegeu a chapa oposicionista foi útil à dona Dilma e assessores porque deu o tom do esforço que terão que fazer para grudar seus traseiros por mais três anos nas cadeiras do poder em Brasília – apesar de as pesquisas de opinião demonstrarem que não são assim tão bem-vindos no comando do Brasil.

E bastou a Cunha dar andamento ao processo de impeachment que, na hora, o mercado financeiro reagiu com mais negócios. Basta uma leve sinalização como essa e os agentes econômicos, que produzem riquezas, geram emprego e renda – o que o Brasil precisa mais do que nunca nesta hora – deixam claro sua posição: que o Brasil volte a ter no comando alguém que possa ter sua confiança, ainda que temporária. Curioso que ao mesmo tempo, o governo insistia publicamente em elevar impostos e tornar ainda mais onerosa a produção e a prestação de serviços pelas empresas. Falta de sintonia, né?

A famosa carta de lamúrias do vice-presidente da República, Michel Temer, expõe cruamente como Dilma não cuidou adequadamente da articulação política e agora certamente se ressente disso. A prepotência do “eu sei o que faço” parece ter preponderado e deu no que deu: até compromissos afirmados durante a campanha eleitoral foram quebrados e fizeram com que a presidente fosse taxada de mentirosa. Os índices econômicos e a escalada inflacionária completam o cenário de desastre gerencial no Brasil. Difícil agora compartilhar esta culpa toda com o PMDB.

Mas, o impeachment é golpe ou não? Melhor perguntar no posto Ipiranga, ou melhor: pergunte ao numerólogo do Delcídio DO Amaral. Nunca um “DO” num nome ferrou tanto uma pessoa…

O fato é que nem o numerólogo vai saber disso e no momento vale qualquer argumento para os governistas tentarem abafar o processo de impeachment, que é previsto nas leis brasileiras, portanto, legal. Porém, para ser endossado pela maioria do Parlamento precisa ter embasamento e assim deixar a todos confortáveis, incluindo aí a população, com a decisão de apear ou não Dilma do Executivo.

A estratégia do Palácio do Planalto de tentar transformar o processo de impeachment em uma iniciativa isolada de Eduardo Cunha – de revanchismo – não cola entre os que acompanham a política. Mais uma vez, a votação que elegeu a chapa de oposição, por via secreta, para compor a comissão especial do impeachment na Câmara, demonstrou que muitos parlamentares – a maioria – estão a favor do impedimento. Falta agora ouvir as ruas.

Você que está lendo este artigo pretende levantar do sofá e expressar sua opinião ou vai continuar somente reclamando?

Quem sabe se de todo esse processo histórico saia uma boa novidade para o Brasil, que só tem condições de trocar de presidente pelo voto a cada quatro anos, seja ele (a) competente ou não.

Um exemplo – a discutir – seria estabelecer indicadores de gestão e também socioeconômicos que o (a) chefe do Executivo teria que atingir ao longo de seu mandato para poder concluí-lo. Se por acaso o (a) titular do Executivo deixar a peteca cair, poderia ser afastado (a) automaticamente, sem maiores traumas, diferente de agora, em que o país vive uma paralisia em termos de expectativa porque não sabe quais os rumos que seu núcleo mandante seguirá: permanecerá no comando ou cairá pelo caminho. Pelo menos, no grupo de comando, o pessoal parece estar muito bem de vida – ah!, as glória$$$ do poder – e não deverá sofrer muito.

Independentemente se Dilma fica ou cai, o fato é que os brasileiros esperam alguém que lidere a sociedade e combata efetivamente – com ações e não apenas com teorias ou formação de comissões cujas discussões nunca levam a lugar algum – os principais problemas que os afligem: promover desenvolvimento econômico, gerar empregos, reduzir custos de produção (inclusive com reforma tributária), combater a inflação, revisar as leis e simplificar os processos da Justiça, promover a reforma política, melhorar os serviços de educação e de saúde públicas, além de incrementar a segurança e a punição aos malfeitores.  E também bem que poderia fazer a seleção brasileira de futebol jogar um pouco melhor…

Não é simples, mas o Brasil precisa de alguém que aja e tenha comando; que seja respeitado para ter apoio real da sociedade e não de grupos pagos para isso. A atual chefe do Executivo perdeu essa capacidade de aglutinação, de simpatia, de respeito político em torno de si, infelizmente. E, em especial, sem o devido apoio político ela mal poderá se mover se vier a superar o impeachment.

Mas, quem sabe ela surpreende a todos e conclui seu mandato com louvor? Sejamos positivos e mais participativos nos rumos do Brasil. Seja Dilma, seja outro, não dá para governar sozinho, sem a participação efetiva da sociedade.