Em agosto de 2013, em meio às passeatas de jovens secundaristas e universitários em busca de melhores condições de vida e mais participação política, o jornalista Renato Meirelles, então sócio-diretor da consultoria Data Popular cunhou uma expressão bastante original para explicar esse novo brasileiro. “Estamos diante da geração like, deslike, change. São jovens que não querem seguir um líder messiânico, mas ser parte integrante da mudança”. Nesta terça-feira (28/11), Meirelles, agora na posição de sócio e presidente do Instituto Locomotiva, apresentou ao mercado uma visão atualizada deste jovem, no evento de lançamento do Observatório do Estudante.
Trata-se de uma plataforma que nasce com a ambição de produzir pesquisas e estudos sobre o que vai pela cabeça de um contingente formado por 58,1 milhões de brasileiros, com idade entre 6 anos e 50 anos. A ideia é fazer pesquisas de grande fôlego (com um universo de 10 mil respondentes) e apresentá-las em fóruns de discussão. “Não queremos que o conhecimento fique confinado ao PDF”, explica Meirelles.
O primeiro trabalho da safra foi um amplo raio-X da cabeça e do coração de 4.630 estudantes do ensino superior, em parceria com a Brodda, plataforma de produtos e serviços para estudantes. E os números, impressionam. Afinal, estamos falando de um grupo com poder de consumo estimado em R$ 138 bilhões, por ano (levando-se em conta o universo de 8,1 milhões de matriculados no ensino superior) e que está muito próximo de assumir um papel de protagonismo emm diversos setores da sociedade. Da economia à política, passando pelas carreiras do judiciário.
Se fossemos traçar o perfil médio deste brasileiro teríamos o seguinte: mulher (57%), faixa etária entre 20 anos e 24 anos (41%), não negra (56%) e solteira (78%). De certa forma, a riqueza do levantamento está nos dados “minoritários”, mas ainda assim expressivos, que desafiam o senso comum. “Uma leitura atenta dos dados mostra inúmeros caminhos que as empresas podem adotar na hora de falar com este público”, destaca Meirelles.
De fato. Aos esmiuçar os números vemos que muitos lugares-comuns e ideias pré-concebidas caem por terra. A principal delas é sobre o local onde reside a maior fatia de universitários, e também sobre a faixa etária média. No primeiro caso, 50% deles estão em cidades do interior, no segundo, 25% têm mais de 30 anos. São os integrantes do grupo formado pela primeira geração de universitários de determinadas famílias.
As formas de ingresso e de manutenção no curso superior também refletem as mudanças vividas pelo Brasil a partir da estabilidade da moeda e dos programas de universalização do ensino. Afinal, 41% dos estudantes só estão na faculdade graças a mecanismos de inclusão: programa de cotas, financiamento estudantil a juros subsidiados e bolsas de estudos.
Estudantes na Universidade de Brasília/EBCMesmo participando da vida acadêmica, este jovem mantém hábitos culturais muito próximos da média da população na mesa faixa etária: 49% vai ao cinema menos de uma vez por mês e 58% jamais pisaram num teatro. Aqui é preciso fazer uma observação importante. Afinal, metade dos estudantes vivem no interior, locais nos quais são escassos os equipamentos culturais.
Por outro lado, apesar de 62% assistirem TV com regularidade, além de lerem jornais (42%) e revistas (27%), o acesso se dá por meio de aparelhos eletrônicos. “O smartphone se tornou o principal local de busca de informação e de conteúdo”, destaca o presidente do Instituto Locomotiva.
MUITO MAIS DO QUE APENAS NÚMEROS:
Veja outros dados levantados na primeira pesquisa do Observatório do estudante
89% acredita que a crise está longe de acabar
87% acreditam que o Brasil está no rumo errado
84% não se sentem representados pelos políticos
82% acreditam que a vida delas vai melhorar (por esforço próprio)
79% gostaria de morar em outro país
45% dizem que o pior problema do país é a corrupção
28% das universitárias têm filhos