"Sevirologia" ou empreendedorismo?

Olhando o último levantamento do Sebrae Nacional, é possível dizer que o brasileiro continua sendo um “empreendedor nato”. Afinal, entre 31 de março e 15 de agosto, nada menos do que 784,3 mil novas empresas surgiram no país. Um volume 0,8% maior em relação a igual período de 2019. Os números, no entanto, às vezes mais escondem que revelam. Isso porque, boa parte dos 684 mil novos Microempreendedores Individuais (MEIs) são, na verdade, trabalhadores que perderam o emprego e, sem expectativa de voltar ao mercado formal, optaram por atuar por conta própria.

Ainda segundo o Sebrae Nacional, no período pesquisado surgiram cerca de 100 mil novos negócios classificados como Microempresas ou empresas de pequeno porte. Neste ponto, também é preciso chamar a atenção para a possibilidade de que muitos destes negócios já existissem e tenham apenas se formalizado, como forma de acessar linhas de crédito disponíveis por conta da pandemia.

Independentemente dos motivos que têm levado um número maior de brasileiros a se tornarem empreendedores, as taxas de desocupação e desalento nunca estiveram num patamar tal elevado. Dados extraídos da PNAD Contínua, elaborada pelo IBGE, indicaram um crescimento de 20% no número de pessoas que desistiram de procurar emprego formal

Fila de emprego, no Rio de Janeiro, no final de julho de 2020

Nada menos que 5,6 milhões de pessoas se encontravam nesta condição no final de junho, aumento de 913 mil trabalhadores nestas condições. No mesmo levantamento ficou escancarado o fosso que separa os brasileiros de ascendência africana, dos demais: a taxa de desemprego entre pretos e pardos ficou em 17,8% ante o patamar de 10,4% verificado entre os brancos.

De acordo com o IBGE, o perfil do novo desempregado é o seguinte: negro (preto ou pardo), mais jovem e possui pouca instrução. Isso ajuda a explicar porque a taxa de desocupação na faixa etária entre 18 e 24 anos saltou de 27,1% para é 29,7%, num único trimestre. A taxa global de desemprego é 13,3%.