Por Rosenildo Ferreira, especial para COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO, NEO MONDO e O MUNDO QUE QUEREMOS)
Os livros de história apontam a Conferência Rio-92 como um marco histórico da agenda ambiental. Afinal, foi neste importante fórum de discussões que o debate em torno desse tema começou a envolver as empresas e as ONGs. Contudo, mesmo antes dessa data, diversas empresas já despontavam na causa socioambiental. Uma delas é a britânica The Body Shop que, em 1987, lançou uma das primeiras plataformas globais de Comércio Justo, o programa Trade Not Aid. No varejo alimentício, a referência é a americana Whole Foods Market, rede de lojas criada em 1978, no Texas, que se tornou uma potência mundial na venda de produtos orgânicos. Aqui no Brasil, o destaque é a paulistana Natura que, na década de 1970, tomou a decisão de incluir insumos vegetais na formulação de seus cosméticos, ampliando essa aposta em 2000, com o lançamento da linha Ekos, produzida exclusivamente com ativos amazônicos.
Na segunda-feira (10/6), esse pioneirismo foi reconhecido de forma categórica com a certificação Platina de Integridade de Carbono, o nível mais alto de declaração emitido pela Iniciativa de Integridade dos Mercados de Carbono Voluntários (VCMI). “É um reconhecimento do que temos feito desde 2007 (quando a empresa se tornou carbono neutro). Somos a primeira empresa do hemisfério Sul a obter essa certificação”, diz Fernanda Facchini, head de Mudanças Climáticas e Economia Circular de Natura&Co Latam. Em linhas gerais, o selo indica que a empresa está no caminho correto para cumprir as premissas do Acordo de Paris, que prevê esforços de corporações, governos e ONGs para atingir a meta de manter em 1,5 ºC a elevação da temperatura da Terra.
O anúncio da certificação foi feito durante o Sustainable Day, evento realizado no centro administrativo da Natura, em São Paulo. Ao longo de cerca de três horas, executivos da empresa prestaram contas das medidas de adaptação às mudanças climáticas. A plateia, composta de quase uma centena de parceiros de negócio, estudiosos do tema e integrantes de Organizações da Sociedade Civil (OSCs), acompanhou atentamente os painéis nos quais foram detalhados pontos vitais do Plano Integrado de Transição Climática que prevê a redução em 90% das emissões da fabricante de cosméticos.
As iniciativas estão listadas na Visão 2030 – Compromisso com a Vida e têm como norte os seguintes pontos: enfrentar a crise climática e proteger a Amazônia, garantir igualdade e inclusão e fazer com que seus diversos negócios operem na lógica da circularidade e da regeneração. Desde seu lançamento, em 2020, a Natura já tem muita coisa para contar:
— Os projetos de crédito de carbono da companhia contribuíram para a conservação de mais de 21 mil hectares de floresta, através das quais foram compensadas mais de 4 milhões de toneladas de carbonos;
— Desde 2007, quando se tornou carbono neutro, foi evitada a emissão de 1,6 milhão de toneladas de carbono;
— A Natura comprou e aposentou créditos de carbono de alta qualidade, iguais ou superiores a 100% de suas emissões remanescentes.
De acordo com João Teixeira, gerente de Sustentabilidade de Natura&Co Latam, um dos destaques da agenda de sustentabilidade da empresa é o conceito de Justiça Climática, que busca dimensionar os impactos da crise climática na vida e no trabalho dos parceiros da empresa. “Estamos elaborando um Índice de Vulnerabilidade Climática, tendo como base os dados do IBGE e outra fontes oficiais, para entender os riscos associados a toda nossa operação”, conta. O projeto piloto, contendo propostas de ações e soluções para mitigar os impactos na produção e na população do entorno das fábricas, foi apresentado na COP de Dubai, em 2023, e teve como base a cidade de Benevides, no Pará. É lá que está situado o Ecoparque que concentra unidades de pesquisa e desenvolvimento de produtos da Natura e de alguns parceiros.
Teixeira explica que os impactos causados na atuação da empresa no Rio Grande do Sul, assolado por chuvas intensas, servirão para compor uma nova rodada de análise “Vamos utilizar os acontecimentos no Estado como base para quantificar financeiramente os riscos dos impactos das mudanças climáticas em nosso negócio”, diz. O ponto de partida serão a perda de estoques que estavam no Centro de Distribuição, situado em Canoas, os prejuízos com o atraso na entrega de produtos e o impacto sofrido pelas consultoras.
Fotos: : Elizabeth Ferreira / Marcus Lopes (Divulgação)