Na língua quimbundo, idioma falado na região noroeste de Angola, a palavra quitanda significa tabuleiro ou feira. No Brasil, mais especificamente nas Minas Gerais do final do século 18, passou a designar, também, comida de afeto, especialmente doces (compotas, rosquinhas e broas, por exemplo), cujas receitas são transmitidas entre as gerações de forma oral. Na São Paulo de 2024, Quitanda é o nome afixado na fachada de um dos mais inovadores hortifrútis da cidade, e que, desde 2007, funciona como o cartão de visitas do Grupo Raízes, que reúne empresas do segmento de food service e faturou R$ 340 milhões no ano passado. “Somos a porta de entrada para inúmeros pequenos produtores no mercado paulistano”, destaca Paula Contim, gerente sênior de sustentabilidade do Grupo Raízes.
Mais que apenas exibir em suas gôndolas produtos in natura ou industrializados vindos de granjas e agroindústrias, a varejista também os coloca em destaque, por meio da campanha O futuro é local. A iniciativa, que abarca 150 fornecedores e um total de 900 itens, é dividida em diversas frentes. Começando por uma espécie de consultoria destinada a auxiliar na qualificação do fornecedor. Tem também o trabalho de divulgação no ponto de venda, a partir de cartazes com a filosofia da campanha e outros, de menor porte, contendo um pequeno histórico do produto, como origem e características. “Nós incentivamos os produtores a realizarem degustações e outras atividades na loja, para que eles fiquem ainda mais próximos dos consumidores”, explica Paula.
Segundo ela, essa receita tem ajudado no fortalecimento do estabelecimento, que cada vez mais vem se convertendo em um local de encontro de quem mora ou trabalha em Pinheiros, bairro de classe média alta, na Zona Oeste da cidade. Pela loja passam cerca de 60 mil pessoas por mês, algumas das quais aproveitam para fazer a destinação de embalagens e outros recicláveis no ecoponto montado no estacionamento. A unidade é operada pela Yougreen, cooperativa certificada pelo Sistema B, selo concedido a empresas que atendem critérios de responsabilidade socioambiental, transparência e equidade.
“O ecoponto funciona 362 dias do ano e sempre tem um funcionário da cooperativa no local para orientar os consumidores e ajudá-los a entender a lógica ambiental e econômica da reciclagem”, destaca. “Hoje, cerca de 10% do volume de reciclados do ecoponto vêm dos consumidores”. E como educação ambiental e consciência social começam em casa, na Quitanda a palavra de ordem é desperdício zero. Um desafio e tanto, em se tratando do segmento de frutas, hortaliças e legumes.
É neste ponto que entram os trabalhos de gestão de estoques e o da cozinha industrial que atende tanto o refeitório dos funcionários, localizado em uma charmosa casa em frente ao estabelecimento, além da marca própria de molhos e massas, por exemplo, composto por um total de 700 produtos que representam 10% dos itens à venda na Quitanda. Além disso, uma parte também é doada para campanhas de combate à fome. As ações e os resultados estão listados na primeira edição do Relatório de Sustentabilidade, lançado recentemente.
Expansão
Fundado em 2001 pelo engenheiro Carlos Alberto Costa e sua mulher Solange, do ramo de gastronomia, o Grupo Raízes nasceu com o objetivo de atender uma vertente do food service ainda nascente no Brasil: o da alimentação saudável e com tempero familiar. Fez isso por meio da Cucinare que atua na terceirização de médias e grandes empresas. Hoje, a lista é composta por 140 clientes do porte de Coca-Cola, Vigor, Lojas Marisa e Vinagre Castello, nos quais serve 40 mil refeições por dia. Há dois anos, foi a vez de levar essa experiência para cantinas de colégios privados com a marca Quitanda Escolas.
Apesar do sucesso da rede no varejo, ela diz que os controladores do Grupo não pretendem seguir a trilha de outras marcas com o mesmo foco e abrir filiais próprias ou por meio de franquias. Para ampliar o portfólio de clientes e chegar a outras cidades e estados, a estratégia definida inclui o serviço de delivery, por meio do iFood, e as vendas para empresas (brindes e cestas temáticas). “Nossa expansão no varejo será feita por meio do comércio eletrônico explorando a potencialidade do segmento corporativo”, explica.
