Conheça o professor Chokito, cujo método de corrida rende R$ 2 milhões por ano

Conheça o professor Chokito, cujo método de corrida rende R$ 2 milhões por ano

Em 1968, o médico americano Kenneth Cooper lançou um livro que mudaria para sempre a história da prática esportiva mundial. Na obra O Método de Cooper ele propôs que a receita de longevidade, com bem-estar, estaria nos exercícios físicos aeróbicos, em ritmo dosado, realizados no ambiente externo. Apesar de parecer simples, a fórmula sintetizou as descobertas e os aprendizados nos muitos anos de pesquisa e de sua passagem pelo exército dos Estados Unidos. A partir daquele momento, a expressão “fazer um cooper” se tornou sinônimo de prática esportiva ao ar livre. Decorridos mais de 50 anos, as corridas de rua seguem como um fenômeno global, difundido em todo o planeta.

No Brasil, estima-se em 13 milhões o número de adeptos. Muitos dos quais viajam pelo país para participar das cerca de 150 mil provas realizadas ao longo do ano. São eventos como a Maratona do Rio, cuja 22ª edição (em 2/6) reuniu 45 mil participantes. Neste pelotão, um dos que despontaram foi o soteropolitano Carlos Felipe Albuquerque, mais conhecido como professor Chokito. Ele desembarcou na Cidade Maravilhosa acompanhado de uma comitiva formada por 330 dos 1.480 integrantes do seu Runners Club, negócio criado em 2020 e que deverá atingir faturamento bruto em torno de R$ 2 milhões neste ano.

Fã declarado do doutor Cooper, Chokito compreendeu desde o início que para ser bem-sucedido como empreendedor do setor teria de ir além do convencional. O trabalho do médico americano serviu de inspiração para o desenvolvimento do Método Chokito. Em linhas gerais, a fórmula usa os conceitos de ciência física para customizar rotinas de treinamento de acordo com o objetivo de cada pessoa. Hoje, sua utilização está disseminada em todo o Brasil, além de contar com alunos nos Estados Unidos, Dubai, Canadá e diversos países da Europa. “A tecnologia sempre fez parte do meu trabalho”, destaca.

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Até chegar neste ponto, Chokito teve de superar os obstáculos comuns aos jovens de baixa renda, como a conciliação da rotina da faculdade com o trabalho, além de ter se munido de muita resiliência. “Minha trajetória foi marcada por desafios e para superá-los sempre contei com o suporte da família e os ensinamentos da capoeira, na qual liderança e resiliência são pontos importantes”, diz.

E nada disso é uma, digamos, força de expressão. Para bancar a faculdade privada, situada em Lauro de Freitas, município da Região Metropolitana de Salvador, ele teve de trabalhar duro. Morador do bairro Boca do Rio, em Salvador, sua jornada diária começava às 6h, quando pegava o ônibus em direção à faculdade. De lá, seguia para o estágio em uma escola pública no âmbito do Programa Segundo Tempo, do governo federal, e entre 18h e 22h atuava numa academia no bairro de Ondina, em Salvador.

Foi nessa verdadeira roda vida que ele foi conquistando seu espaço no setor e se tornando referência para outros jovens. Atributos que, a partir de um determinado ponto, funcionaram como combustível para acelerar sua veia empreendedora. A Runners Club, no entanto, só surgiu após mais de 10 anos de parcerias que ajudaram a popularizar seu método e a ampliar o networking, mas que nunca lhe deram o devido retorno financeiro. “Trabalhava muito, mas não via a cor do dinheiro”, lembra. A crise gerada pela pandemia de Covid-19, em 2020, foi o estopim para a carreira solo.  Com um nome consolidado no segmento de corridas da Região Metropolitana de Salvador, ele investiu R$ 4 mil para estruturar o negócio.

Em setembro daquele ano, o educador físico colocou os antigos alunos para correr em 7 de setembro, em meio aos festejos da independência, na prova intitulada 1º Desafio do Chokito. Em abril do ano seguinte, lançou a Maratona dos Três Faróis, entre Itapuã e Humaitá. “Fui chamado de louco. Mas a aposta valeu a pena, pois reuni 800 corredores e consegui consolidar meu nome como empresário do setor.”

Na época, não apenas os praticantes de corrida estavam ávidos a retomar os treinos como, também, as empresas que formam a longa cadeia do setor (fabricantes e revendedores de calçados, roupas, óculos, relógios e outros medidores de performance, por exemplo). Foi aí que o professor Chokito foi atrás de um grupo de empresas dispostas a assinar um contrato de risco, atuando como parceiros de referência na venda do material para os alunos do Runners Club. Além disso, eles ganham espaço de merchadising nos uniformes, nas provas e nas mídias sociais do clube.

Hoje, o empresário lidera um time formado por professores de educação física e nutricionistas, que atuam nas quatro unidades de Salvador, além da equipe contratada especificamente para cada prova de rua promovida pela Runners Club. Para disseminar ainda mais a prática de exercício e incentivar a trajetória de outros “Chokitos”, Carlos Felipe concede bolsas para alunos de baixa renda. “Meu desejo é que os jovens da periferia de Salvador atinjam o mesmo patamar de excelência dos demais”, diz. A função social da empresa acabou sendo a base para a concessão da Medalha Thomé de Souza, outorgada pela Câmara Municipal de Salvador, em 2023.

Como celebrizado pelo doutor Cooper, pesquisa técnica e prática cotidiana continuam sendo uma receita para a longevidade com qualidade. Tanto na vida, em geral, quanto no mundo empresarial, em particular.