Em geral, o trabalho de uma incubadora ou aceleradora de empresas se resume em garantir suporte tecnológico, mentoria e o acesso a uma rede de contatos, o famoso networking, que permite ao candidato a empresário captar recursos e potenciais clientes de um modo mais fácil.
A Feminaria, associação de apoio ao empreendedorismo feminino, funciona de modo semelhante. Contudo, adiciona alguns ingredientes que não constam na cartilha da chamada cultura maker. “Nosso trabalho tem como ponto de partida o afeto e a empatia”, conta Ana Carolina Moreira Bavon, fundadora da startup instalada num sobrado situado numa charmosa rua da Aclimação, bairro da região central de São Paulo.
Advogada de formação, ela possui uma trajetória muito parecida com a de milhares de brasileiras e brasileiros que têm feito a transição de carreira em busca de um propósito maior do que apenas ganhar dinheiro. É que apesar de desfrutar de uma boa posição num grande escritório, no qual cuidava da redução de passivos trabalhistas de empresas, Ana Carolina não se considerava realizada.
A partir desta angústia, ela resolveu pedir demissão e se reinventar, usando como base sua trajetória e as experiências (boas e ruins) acumuladas no mundo empresarial. “Da mulher é exigida a perfeição. Por isso, muitas têm medo de arriscar porque serão muito cobradas se algo não der certo”, disse a 1 Papo Reto, após participar do painel Representatividade importa: o poder da diversidade na inovação e negócios, no domingo (7/5), o segundo dia do Festival Path, realizado em São Paulo. “Nosso trabalho tem como base incentivar mais a coragem e a iniciativa do que a perfeição”.
Para cumprir essa missão, a Feminaria conta com uma rede composta por mais de 20 profissionais de diversos segmentos: psicologia, contabilidade, gestão de projetos e assistência jurídica, por exemplo. Para ter acesso aos serviços é preciso pagar uma pequena taxa mensal, que varia entre R$ 25 e R$ 65, dependendo do pacote. As consultorias e mentorias acontecem via redes sociais (Facebook e Skype) ou em eventos realizados na sede. Lá, também existe um espaço de coworking à disposição das associadas. A startup liderada por Ana Carolina é uma das 1.976.534 empresas abertas em 2016, em todo Brasil, de acordo com estudo da Serasa Experian. Dois detalhes chamam a atenção neste levantamento: trata-se do maior montante anual desde 2010, e as mulheres aparecem como sócias de 47% dos negócios abertos.
Estes números corroboram alguns dos pontos mostrados na recente pesquisa do Sebrae, com base em dados de 2014, que indica a existência de 7,9 milhões de empreendedoras no país. Trata-se de um salto de 34% em relação a 2000. Mais. As mulheres já ocupam cargos de gerência em 43,2% das pequenas e médias empresas. Sem dúvida, uma evolução e tanto num país no qual o machismo impera até mesmo em ambientes modernos, descolados e cool como o universo das startups.
No entanto, o ritmo ainda é muito distante do que prega o conceito de equidade defendido pela advogada e militante feminista que também se coloca como uma crítica severa da visão limitada em relação ao papel do empreendedorismo e da inovação. É neste contexto que ela rechaça, por exemplo, a ideia de resumir o trabalho da Feminaria num app para computador ou smartphone, como já lhe foi sugerido por alguns especialistas. “Mais do que um botão num aplicativo, queremos ser um local onde as mulheres possam trocar ideias e receber o auxílio necessário para executar seus projetos”, diz.
Tudo isso, sem perder a ternura, evidentemente.
