A lista de “queridinhas do mercado” inclui ícones globais como as americanas Ben&Jerry´s e a rede varejista Whole Foods Market, passando pela brasileira Natura. Ao apostar nos preceitos da sustentabilidade em todas as etapas – do relacionamento com fornecedores e funcionários, até o processo produtivo e a preocupação com a cadeia pós-consumo –, elas se credenciaram para obter o selo de Empresa B (B Corporation, no original). Em fevereiro, a filial brasileira deste seleto clube ganhou mais uma integrante: a Cervejaria Praya.
“Desde o começo, nosso objetivo era ter um produto que estivesse alinhado com nossos valores e nosso estilo de vida”, conta Paulo de Castro, sócio-fundador e diretor de comunicação da Cervejaria Praya. “Ao longo do desenvolvimento da marca, nós percebemos que tão importante quanto nosso discurso, era praticar tudo que defendíamos.”
De fato. Em menos de seis anos de existência, a Cervejaria já acumula quase uma dezena de certificados (Carbono Neutro, Certificado Produto Vegano, One Tree Planeted, Amigo do Clima, Capitalismo Consciente, Sea Shepherd, entre outros). Mais. Também se aliou a entidades na luta antirracista, como o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) fundado pela ativista Luana Génot.
Para entender como uma empresa de pequeno porte, nascida em 2016, conseguiu se tornar a primeira do setor a obter essa certificação é preciso conhecer seus quatro fundadores. Criados na Zona Sul do Rio de Janeiro, eles sempre estiveram sintonizados com os principais movimentos nos segmentos de música, cinema, moda e esportes, em nível global. Em uma de suas viagens a Califórnia, no final de 2013, o surfista Marcos Sifu ficou intrigado com a quantidade de cervejas artesanais existentes. Muitas das quais produzidas apenas para eventos específicos em casa de amigos ligados à modalidade esportiva.
Ao voltar para o Brasil, ele fez algumas experiências num dos cômodos do apartamento onde morava. Tudo pronto, chamou os amigos para degustar. “A primeira prova foi um desastre!”, recorda Castro, mais conhecido como Zeh Pretim, seu nickname na extinta rede ICQ. A sorte do quarteto foi Sifu ter esquecido de jogar a cerveja fora. Isso porque, 15 dias após outro conhecido foi ao apartamento e acabou bebendo a cerveja e, para surpresa geral, elogiou bastante. “Foi aí que descobrimos que Sifu tinha pulado a etapa da maturação, fundamental na apuração do gosto das cervejas do tipo Witbier”, conta Zé Pretim.
Para colocar o negócio de pé, o quarteto investiu cerca de R$ 80 mil na aquisição de tanques exclusivos, dentro da Cervejaria Antuérpia, situada em Juiz de Fora (MG), que cria fórmulas e produz cervejas sob encomenda. O fato de cada um ser especialista numa área distinta: marketing, design, esporte e comunicação; foi vital no desenvolvimento do negócio. Sem contar, é claro, a extensa rede de contatos, que facilitou o acesso aos canais de distribuição. Hoje, a Praya pode ser degustada em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Distrito Federal.
“Não queríamos ser como a maioria das marcas que reproduziam os estereótipos do setor de bebidas, como o sexismo, além de apostar somente nos consumidores de maior poder aquisitivo”, diz. O ativismo gerou recompensas importantes. Uma delas foi a fidelização do público feminino, que responde por 45% das vendas do produto, ajudando a transformar a Praya na líder entre as artesanais no Rio de Janeiro.
Mesmo com a crise gerada pela COVID-19, que trouxe o distanciamento social e o fechamento de bares, reduzindo em muito os momentos de consumo de bebidas geladas, fora de casa, a Cervejaria Praya continua crescendo em ritmo de startup. “No início da pandemia de COVID-19, as vendas derreteram. A queda foi de 90%, no mês. Porém, conseguimos reverter a situação e fechamos 2020 bem perto da meta”, conta Castro.
Para 2021, a ambição do quarteto é ampliar em 30% em volume de vendas de todas as versões: garrafa 600 ml, lata e long neck. Desde 2019, elas saem da fábrica da Indústria Nacional de Bebidas (INAB), em Toledo (PR), dona da marca Colônia e que atua, também, com produção sob encomenda para outras marcas consagradas, como a gaúcha Dado Bier, pioneira entre as artesanais distribuídas em larga escala.
Apesar da profusão de rótulos, esse segmento está longe da saturação. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), de 2008 a 2018 o número de cervejarias artesanais saltou de 70 para cerca de 900. Juntas, elas respondem por um faturamento de R$ 2,4 bilhões, uma “ninharia” quando comparado ao desempenho da gigante Ambev, no ano passado: R$ 58,4 bilhões.
Detalhe: no player de vídeo, na home do portal 1 Papo Reto, é possível conferir um documentário sobre o surfista paulista Victor Bernardo, patrocinado pela Praya.