Lá vem o Dia das Mulheres, de novo

O Dia Internacional da Mulher vem sempre cercado de polêmica. Andei lendo em postagens de amigas minhas nas redes sociais que elas têm horror a qualquer abordagem do tipo: “Você é mulher, você é especial”. Também repudio a entrega de rosas e coisas como perfuminhos, enfeitinhos e outros “inhos”. Apesar de todos os rococós ridículos que envolvem a efeméride, eu acho importante que a data exista e seja celebrada todo ano em 8 de março. Nem que seja para a gente se lembrar do tal equal pay, como fez a atriz Patricia Arquette ao receber seu Oscar de coadjuvante este ano.

Pesquisas dizem que as mulheres são piores para negociar salários. São mesmo. Tiro por mim. Depois que virei mãe isso é uma parte fundamental da minha negociação. Como jornalista, faço freelas fixos mais do que tenho carteira assinada. E toda vez falo que preciso de uma semana em janeiro e uma em julho. Não é frescura, mas se a pessoa precisa de mim por seis meses, eu vou precisar de uma semana para ficar com minha cria nas férias letivas.

Minha promessa é: vou te oferecer meu melhor, mas você tem que me dar em troca a sua humanidade mínima. Posso trabalhar à noite, mas preciso ser comunicada com certa antecedência. Se minha filha fica doente, preciso levá-la ao médico. Tem coisas que não delego.

Empresas e organizações, embora comprometidas em seus slogans por um mundo melhor, nem sempre apreciam isso. Elas querem dedicação total. Até acham bonito você ter sido voluntária no Médicos sem Fronteiras, mas na hora de levar seu filho ao dentista, insinuam que essa tarefa deve ser feita por uma empregada doméstica ou avó disponível.

É um problema em todos os países. Fui babá quando vivi na Inglaterra, onde não existem serviços domésticos em conta como (ainda) há no Brasil. Lá, a minha “ex-patroa” tinha três filhos de 1, 3 e 5 anos. Eu a ajudava em bases diárias, e ela também tinha uma cleaning woman semanal. Um dia, eu perguntei se ela gostaria de voltar a trabalhar, e Sue suspirou (vivia exausta, obviamente). Ela respondeu que, caso trabalhasse, teria que ser algo esporádico, como ser uma massagista em horários marcados previamente, até que os filhos crescessem.

Acho que a Sue tinha nível superior. Ela havia morado com o marido no Japão. Era mochileira, descolada, tinha seus 30 e tantos anos e eu 23. Isso foi no final dos anos 90, em Londres, uma cidade considerada mais avançadinha em termos de direitos (em comparação com nossas cidades brasileiras).

Por aqui, já tivemos programas de TV nos anos 80, com Marta Suplicy falando de orgasmos em rede nacional, já tivemos feministas do porte da Pagu, da Rose Marie Muraro. Tantas mulheres incríveis conversando, escrevendo, atuando politicamente. Hoje temos na TV o Saia Justa e na internet – este mundo cheio de projetos e blogs maravilhosos– iniciativas mil que falam para as mulheres e mães. Vou ser “injusta” e citar um que admiro pacas, o Mamatraca.

Trocamos ideias o tempo todo com as amigas casadas, solteiras com ou sem filhos. Tricotamos sobre aquelas que tiveram dificuldade na entrevista de emprego, na divisão de tarefas em casa e com as que sofrem caladas pensando que casamento é assim mesmo, à mulher cabe gerenciar a casa, os filhos e pronto.

Acho que padecemos do excesso de conversa. Sabe aquela coisa de homem que diz que mulher conversa demais e ele quer logo partir para a solução? Precisamos de uma solução.

Em um país latino como o Brasil onde nas favelas quase metade dos lares é chefiada por mulheres, a conversa já não é suficiente. Dizer que as empresas podem optar por dar 6 meses de licença-maternidade é uma balela. Dizer que a mulher não pode decidir sobre aborto é outra. Tudo muito conveniente: para os outros.

E não adianta Hollywood nos empoderar através de filmes e desenhos, se continuamos discriminadas e pouco reconhecidas!

O que precisa ser feito está posto e NENHUMA flor ou perfume vai cobrir essa lacuna do reconhecimento legal e social.

*Em minha casa as tarefas são divididas, mas sei que não é o usual!