A discriminação racial se manifesta de diversas formas, no Brasil. Uma das mais difundidas é a “atenção redobrada” que os seguranças de lojas e supermercados dão aos consumidores afro-brasileiros. Aliás, um caso recente, ocorrido em Curitiba, no Atacadão (empresa do Grupo Carrefour), foi motivo de repúdio em discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após ter sido seguida por seguranças do Atacadão, a atriz e professora Isabel Oliveira resolveu tirar a roupa para realizar a compra de leite para sua filha, como forma de mostrar que não iria subtrair produtos da loja, escondendo-os em suas roupas.
Não raro, estes mesmos seguranças instam os clientes não-brancos a apresentar a nota fiscal de compra do produto, antes que eles deixem o estabelecimento comercial. Muitas vezes, esse procedimento é feito até por vendedores de lojas. Independentemente do agente responsável pela abordagem, trata-se de uma conduta criminosa, tipificada no artigo 146 do Código Penal como constrangimento ilegal.
Foi para lutar contra esta forma de racismo institucional que surgiu o projeto Racismo Zero: Notas do Respeito, uma parceria entre a Universidade Zumbi dos Palmares e a agência Grey Brasil. Além do caráter pedagógico, a iniciativa tem por objetivo inibir essa prática criminosa, ao ressignificar o papel da nota fiscal, transformando-a em um instrumento de denúncia.
Em um primeiro momento, serão instalados cartazes em espaços públicos das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília exibindo as notas fiscais coletadas de pessoas que já foram vítimas deste tipo de abuso. De acordo com Jose Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, a nota fiscal é um componente com uma comunicação sensorial indispensável. “Ela comunica, coloca um símbolo potente para fazermos um georreferenciamento e traz evidências de como isso, além de ser uma realidade, produz danos e malefícios que podem ser evitados, enfrentados e, ao final, eliminados”, destaca.
Além dos cartazes, também será veiculado um filme-denúncia que sintetiza o escopo da campanha que pretende angariar a adesão dos comerciantes. Eles serão instados a baixar um software gratuito que permite a impressão, nas notas fiscais, de relatos de casos reais de racismo, indicando como o cliente pode se defender desta prática.
“O Notas do Respeito parte de uma dor cotidiana, dor essa que as pessoas negras são ensinadas a normalizar desde a infância: ter sempre em mãos a nota fiscal para provar que pagamos por objetos e produtos que compramos. E a ideia de ressignificar um item tão emblemático quanto a nota fiscal, transformando-a em um canal de denúncia, parte da necessidade de questionar e coibir as violências racistas que ainda são muito normalizadas e aceitas pelo varejo e pela sociedade”, diz Gabriella Batista, criativa da Grey Brasil.
No player de vídeo, na home do site 1 Papo Reto, é possível assistir o vídeo da companha Notas do Respeito.
Com informações da Assessoria de Imprensa do Projeto Notas do Respeito
