Ah, Nova York! A cidade das oportunidades no país das oportunidades. Cheia de arte, encanto e empresas, potenciais contatos, bares, baladas e museus. Cada dia é uma aventura. Você nunca sabe o que ou com quem se pode encontrar na rua. Para quem procura por emprego ou novas oportunidades de vida, é um (quase) paraíso. Como ensina Alice no País das Maravilhas, se você não sabe exatamente para onde vai, qualquer caminho pode te levar até lá – e Nova York tem caminhos infinitos
Em uma tarde, por exemplo, eu estava na estação de trem Grand Station, quando uma mulher veio puxar papo comigo. Pelas perguntas, tinha pinta de ser jornalista. Ela não parecia estar buscando uma história nem me interrogando sobre nada específico, mas o jeito de suas perguntas tinha um tom de curiosidade diferente, que não era perigoso, mas que também não tocava em assuntos banais, como o calor que fazia lá fora.
Sentindo uma oportunidade, comentei que era jornalista e estava na cidade à procura de emprego, jogada que ela entendeu, já que circulou o assunto sem comentar de seu trabalho. Perguntei o que ela fazia. Respondeu que era editora de arte da revista americana New Yorker, uma das maiores do país. Mas, assim que tentei tirar uma “casquinha” ela disse que tinha que pegar seu trem. Saiu sem me dar muitas dicas e disse “espero te ver nos corredores da revista um dia”. Não me deu a oportunidade de pegar seu contato.
Por isso chamo a cidade de um quase paraíso. Passei dois meses por lá após o fim da faculdade e concluí que para agarrar as oportunidades é preciso adentrar nos círculos sociais, um verdadeiro desafio. Como diz um amigo meu que se mudou para lá faz um ano, morar em Nova York é uma experiência que te faz mais humilde. Em maioria sobrecarregados e mal pagos, os moradores da cidade tem muito o que fazer com suas vidas.
Apesar de serem extremamente simpáticos, ao contrário dos estereótipos que já ouvi, não têm tempo para se preocuparem com “novatos” ou ficarem apresentando pessoas ao círculo. Para convencê-los de que você vale o tempo deles, tem que correr muito atrás. No fim do dia, você é só mais um no meio da multidão. Não importa de onde veio, o que estudou, ou se você é uma pessoa do bem. Ao chegar a Nova York, você não é ninguém e encara dias extremamente solitários até criar uma rede própria.
Apesar disso, chamo os nova-iorquinos de simpáticos por sua facilidade de puxar assunto com qualquer um. A cidade tem gente do mundo inteiro, trazendo uma grande riqueza cultural, étnica e racial. Somando isso com a cultura de bares, baladas, e networking, ela é o lugar perfeito para “bater um papo” e conhecer gente, mesmo que num nível superficial. O segredo é insistir nesses papos sem cessar. Com certeza alguma coisa sai. Infelizmente, por razões de visto, tive que voltar para Boston assim que essa ficha caiu, mas, se tivesse o tempo e recursos, teria adorado ficar por lá.
Não se engane, por ser a capital do capitalismo nos Estados Unidos –com o turismo de compras, o trabalho incessante, os grandes fundos de investimento e a famosa Times Square, símbolo da cultura do consumo e da obsessão pelos lucros– a cidade é EXTREMAMENTE cara. Um estúdio porcaria em cima de um bar barulhento custa em média US$ 3 mil. Na sorte da vida, conheci uma cantora de flamenco que ia viajar para um tour e me deixou alugar seu apartamento num porão do Queens por um desconto, coisa que só acontece em Nova York. Também ofereceu para me apresentar para seus amigos artistas e jornalistas quando voltasse de viagem, mas ainda não o fez, um exemplo do que descrevi anteriormente sobre ter que correr atrás para conseguir alguma coisa. Não desisti desse contato. Os bate papos por Nova York às vezes vem com promessas como essa, mas é preciso insistir para que elas realmente aconteçam.
Agora, é impressionante o número de veículos de imprensa na cidade. Eles cobrem desde a casa branca até pequenos negócios e vem em todos os formatos e tamanhos – newsletter, jornal online, rádio, rádio online, jornal impresso, tv online, estúdio de tv, redes sociais, etc. É um mundo de possibilidades. Se você tem interesse em cobrir assuntos de nicho ou tabu, com certeza vai encontrar uma publicação na cidade que cubra o que você gosta. Me emocionei ao passar pelo prédio do New York Times, um arranha céu chiquérrimo com letreiros gigantes na entrada do térreo. Quase entrei e pedi para subir, mas acabei não fazendo. Se pudesse voltar atrás, teria tentado.
Uma coisa que percebi na minha saga por empregos é que a maioria dos jornais hoje em dia exigem aproximadamente 1 a 3 anos de experiência para começar em qualquer posição. E mesmo com essa experiência, a competição é muito grande, principalmente em Nova York, onde a maioria dos jornalistas são pessoas com muitos anos de indústria nas costas. É importante fazer contatos com os gigantes, mas começar voando baixo. O melhor ponto de entrada são os estágios, mesmo entre americanos. Dos que se formaram comigo neste maio, a maioria está desempregada ou estagiando. Conheço apenas duas pessoas que conseguiram “empregos de verdade” – e não foi em Nova York.
Mas mesmo com todos os seus obstáculos, a cidade é incrível. Vale muito a pena. Para mim, o mais bonito e chocante é como cada um faz o que bem quer. Ao entrar num bar, você vê as pessoas de terno, de chinelo e de maquiagem drag, todos num mesmo espaço. Não importa quem você seja ou como decida se vestir, você pode existir como é. Isso é muito libertador. Ao mesmo tempo, a vastidão de possibilidades pode causar aquela ansiedade de não saber quem se quer ser, e o fato de poder conhecer gente pode fazer a existência ser exaustiva já que você precisa se apresentar ao mundo o todo tempo.
Nova York é uma cidade performativa. Ela exige que você constantemente se imponha para ser alguém. Por isso, recomendo muito que, se você se mudar para lá, conecte com pessoas que você conheça de antes. Elas vão ser sua âncora em meio a tantos caminhos a se tomar.