Os efeitos e os aprendizados da geada

Os efeitos e os aprendizados da geada

Mas nada se compara ao trabalho e aos desafios de ser produtora rural. Na agricultura, é preciso aprender a lidar com as perdas e recomeçar.

Na semana passada, o frio amplamente anunciado gelou o coração de quem trabalha com agricultura. A geada do dia 30 de julho na região Sudeste foi a terceira em um único mês. O inverno mais frio das últimas décadas.

Nos grupos de produtores rurais, o frio intenso e histórico que se aproximava assombrava. Houve muita troca de informação, de receitas e de ações que pudessem amenizar os efeitos do frio congelante e tentar evitar ainda mais prejuízos. Foram feitas pulverizações, fumaça na madrugada, cobertura das plantas com plástico, TNT, folhas de bananeira e outros materiais.

As duas primeiras geadas, dos dias do 1° e 20 de Julho, já tinham deixado muitos prejuízos. Aqui na minha região, marcada pela fruticultura, queimaram pomares inteiros de goiaba, manga e maracujá. Reduziram a produção de limão, laranja, abacate e cana de açúcar. As perdas atingiram produtores das regiões Sul e Sudeste. Quem trabalha com horta ou cultiva milho, por exemplo, viu a produção secar de um dia para o outro.

Produtores de café vão demorar dois anos ou mais para recuperar a produção. A imagem do pós-geada é desértica. Para o consumidor, o efeito é falta de mercadoria e alta dos preços dos alimentos.

Os efeitos e os aprendizados da geada 1 papo retoNo dia 1° de julho fui pega de surpresa pela geada e tive muitas perdas. Morreram praticamente todas as mudas de mamão que eu tinha plantado duas semanas antes, perdi toda a cabotiá e abobrinha que estavam na iminência de produzir, e 60 pés de limão que estavam em áreas mais críticas secaram. Como as plantas ainda não têm dois anos, são mais afetadas que as plantas adultas. A geada intensa congela a seiva da planta, que acaba não resistindo.  

Diante de toda a tristeza e prejuízos provocados pela onda de frio, comove e aquece o coração presenciar a resiliência do produtor rural. Um profissional que entende e respeita o poder da natureza, que sabe que trabalha sujeito a algo muito maior. Age onde pode agir, sabe esperar e está sempre pronto para plantar novamente e recomeçar.

Eu ainda estou aprendendo. Tenho um longo caminho pela frente. Haja coração!

Milena Miziara

Autor: Milena Miziara

Sobre o/a Autor(a) Milena Miziara é jornalista. Desde 2019 também atua como sócia-fundadora da marca de frutas Laverani Orgânicos (SP)


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