A lei da oferta e da procura é um dos balizadores para a atividade econômica. Afinal, ninguém pensaria em fabricar determinado produto ou ofertar um serviço para o qual não existam pessoas interessadas em pagar por isso. Ocorre que a economia nunca foi uma ciência exata, tampouco uma matéria simples. Em muitos casos, as condicionantes políticas e sociais fazem cair por terra os axiomas que regem o manejo da economia. De certa forma, é isso que explica a solidificação do segmento de reciclagem de garrafas PET. Até bem pouco tempo elas eram vistas como “patinhos feios” em um setor no qual sempre brilharam o alumínio, o ferro e o papelão.
Diversos fatores contribuíram para que o PET se tornasse uma estrela, por assim dizer, aos olhos de catadores e recicladores. O principal deles foi o aumento no preço pago a catadores e recicladores pelo quilo do produto pós-consumo. Houve alguns meses que o valor superou o da resina virgem. “A garrafa PET é a nova queridinha do setor”, diz Leonardo Maeda de Carvalho, 37 anos, CEO do Grupo Maeda Recicla. E não se trata apenas de discurso. Prova disso é que o empreendedor planeja investir R$ 500 mil em uma unidade para receber, classificar e prensar as garrafas.
Para adicionar maior valor ao material, Leonardo fez uma parceria com um empreendedor encarregado de fazer as demais etapas do processo: lavagem, moagem e extrusão. Com isso, a matéria prima voltará à indústria pronta para dar vida a uma nova garrafa. A expectativa é coletar e processar 40 toneladas de PET por mês.
Essa não é a primeira vez que a Maeda investe neste tipo de material. Em 2007, a empresa fez a mesma aposta, mais abandonou o PET três anos depois. “Nunca deixamos de receber as garrafas trazidas pelos catadores. Fazíamos isso como forma de premiar o trabalho desses profissionais, mesmo quando o material tinha pouco valor de revenda e não agregava em nada às nossas receitas”, lembra. Agora, a expectativa é que o PET colabore com 20% do faturamento mensal. As maiores fatias continuarão sendo geradas com alumínio (25%) e papelão (37,5%) e ferro (37,5)%.
Nova aposta do Grupo Maeda Recicla é no PET pós-consumo
A virada na lei de oferta e procura foi fruto de fatores, digamos, alheios à vontade da indústria como um todo. Afinal, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) está em vigor há mais de 10 anos e, somente, agora, os fabricantes de produtos de consumo começaram a se mexer para valer. Esse despertar se deve a forte pressão do Ministério Público e dos órgãos ambientais sobre grandes e médios fabricantes de embalagens. Sem contar a ação de ambientalistas que passaram a apontar a indústrias de bebidas (leia-se refrigerantes, sucos, água mineral e lácteos) como as principais responsáveis pela poluição dos oceanos.
É nesta maré que o Grupo Maeda Recicla está surfando. A empresa surgiu em 1979, a partir da iniciativa de José Teixeira de Carvalho Filho, pai de Leonardo. Na época, José era sócio de um botequim, no bairro de Ipiranga, quando soube que o terreno em frente estava à venda. “Ele enxergou uma oportunidade de migrar para uma área promissora que era o processamento e venda de papel e papelão pós-consumo”, recorda Leonardo, que começou a trabalhar no ramo aos 13 anos. A sucessão, segundo ele, foi natural. Mas o patriarca continua dando seus pitacos.
E é a partir dessa interação intergeracional que o Grupo vem se expandindo. Em média, as três unidades (de papelão, ferro e alumínio), situadas no bairro da Vila das Mercedes, na Região Metropolitana de São Paulo, movimentaram um total de 800 toneladas de recicláveis por mês: ferro, papelão e alumínio, coletadas em 54 empresas parceiras. Para fazer o trabalho, eles contam com 10 caminhões próprios. À essa frota estão incorporados os catadores, tidos por Leonardo como a parte mais relevante desta cadeia.
“Em uma época de crise econômica e social, essa área acaba absorvendo pessoas que têm pouca escolaridade e não conseguem se inserir no mercado formal”, diz. Nosso porte já nos permite trabalhar de portas fechadas. Contudo, decidimos manter o esse componente do DNA da empresa que é a valorização de todos os integrantes da cadeia.” A união dessa atuação social com o ganho de escala servirá de base para a empresa se credenciar para atuar no nascente mercado de Certificados de Créditos de Reciclagem. Isso deverá se tornar um dos principais instrumentos para atestar que os geradores de resíduos estão cumprindo a legislação constante na PNRS.
