Para criar o canal, Paulo e Armando Rálio, especialistas na bebida, se inspiraram em Seinfeld e outros sitcom americanos que usam passagens do dia a dia como fio condutor do roteiro. “As redes sociais transformaram o mundo em um grande Big Brother. Além disso, pensamos que por se tratar de gêmeos isso poderia aguçar ainda mais a curiosidade das pessoas”, diz Paulo.
De fato, nos seis episódios que integram a playlist do programa semanal, que vai ao ar toda sexta-feira às 12h, o que dá o tom são curiosidades e peculiaridades acumuladas em 40 anos de vida. A edição ágil, a cargo da jornalista Ana Paula, mulher de Paulo, garante boas risadas. Especialmente quando são mostrados os erros de gravação. Contudo, além de divertir os espectadores, a dupla também ajuda a desmistificar o mundo das cervejas importadas e artesanais. “Procuramos fazer a degustação de rótulos que são facilmente encontrados no mercado”, explica Armando.
Desafiados por amigos e internautas, eles decidiram gravar um episódio dedicado às cervejas de combate: Brahma, Itaipava e Schincariol. “Vamos falar das marcas que consumíamos quando não tínhamos grana ou não existiam opções”, adianta Armando. Para isso bolaram um “teste cego” para o programa que vai ao ar na sexta-feira (10/4). Eles garantem que o processo seguiu a liturgia recomendada por especialistas. Afinal, capacidade técnica não lhes falta. Paulo, que é graduado em economia, foi aluno da primeira turma de Sommelier de Cerveja, curso promovido pela Associação Brasileira de Sommeliers, em 2010. Armando, formado em direito, recebeu o diploma de sommelier sete anos depois.
A incursão da dupla no universo da internet aconteceu como uma forma de colocar em prática os conhecimentos sobre a bebida. É que ambos ganham o sustento como funcionários de grandes empresas privadas, sem qualquer relação com a cerveja. Para lançar o Cervegêmeos, eles investiram módicos R$ 340 na compra das cervejas para o primeiro episódio, de microfones de lapela e de um tripé que ancora o smartphone da multitarefa Ana Paula, que cumpre as funções de operadora de câmera, diretora e editora.
É digno de nota o jeito leve e divertido que a dupla encontrou para falar dos atributos de cada rótulo. Nada daquele tom professoral e pedante, comum a quem se intitula connaisseurs no mundo das bebidas. Além das características, eles discorrem sobre a história por trás da marca. “O retorno tem sido muito bom e já pensamos em desenvolver mecanismos de monetização do vlog”, diz Paulo, que enxerga futuro no canal e já desenha com o irmão estratégias neste sentido.
Os planos dos Cervegêmeos, no entanto, terão de esperar um pouco. É que devido à pandemia de Covid-19, eles não conseguiram gravar novos episódios, apesar de contarem com 24 roteiros prontos. Pandemias à parte, é certo que para ter sucesso na internet não é fácil. Especialmente num segmento que ganhou importância e cresceu de forma exponencial, nos últimos 20 anos. Basta ver a profusão de blogs e vlogs sobre o tema e a oferta de cervejas artesanais à disposição nas redes de varejo.
De fato. Mesmo com a grande fatia do mercado permanecendo nas mãos de três empresas: Ambev, Heineken e Itaipava, os brasileiros nunca tiveram tantas opções. São 27.239 rótulos produzidos por 1.209 cervejarias espalhadas pelo país, de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Em 1999, existiam apenas 33 fabricantes.
Colaborou para esse boom a redução no custo de produção, que fez surgir fábricas destinadas a desenvolver fórmulas e rótulos sob medida para investidores e amantes da bebida. Com isso, se você, caro internauta, dispor de recursos para apostar neste filão e um ponto de venda pode lançar uma loura com as propriedades que mais lhe agradam. Quem sabe sua criação não aparece, um dia, no Cervegêmeos!
*Texto atualizado às 14h, de 9/4.
