Salvador recebe investimentos para dar o novo tom da música brasileira, com apoio da Vale do Dendê

Salvador recebe investimentos para dar o novo tom da música brasileira, com apoio da Vale do Dendê

Não se pode falar de música, no Brasil, sem citar a Bahia. Afinal, foi na chamada Boa Terra que surgiram ritmos importantes, como o samba e o axé music, além de movimentos que renovaram o cancioneiro popular, como a Tropicália e a batida da Bossa Nova. Toda essa efervescência cultural fez com que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (UNESCO) reconhecesse Salvador como a Cidade da Música, em 2016.

De fato, quando o assunto é cultura, a capital da Bahia tem muito a oferecer em diversos campos e, especialmente na música. E essa contribuição não ficou circunscrita ao tempo pretérito. Depois da ressaca do axé music e dos ritmos característicos dos blocos afros, muita coisa aconteceu na cena musical da cidade. Parte dessa pujança é descrita no livro Pop Negro SSA: cenas musicais, cultura pop e negritude, escrito pelo jornalista e pesquisador Marcelo Argôlo. A obra, lançada no formato digital, em 2021, traça um panorama dos movimentos musicais da cidade, em suas diversas fases.

“Passamos por uma série de movimentos de continuidade e ruptura dentro da produção musical, envolvendo os blocos afros e os trios elétricos focados na classe média branca local e nos turistas. Hoje, estamos em um contexto no qual está mais acessível e barato produzir, gerando uma explosão de oferta, o que aumentou a competitividade”, destaca Argôlo.

Segundo ele, o barateamento das tecnologias de produção e distribuição de música abriu portas para um número expressivo de artistas (BaianaSystem, Larissa Luz, Afrocidade e ÀTTØØXXÁ, por exemplo) garantindo visibilidade nacional a ritmos regionais e hiperlocais: pagodão, arrocha, pagotrap e groove arrastado. Também valorizou o trabalho do produtor musical responsável por dar “uma roupagem” às ideias de compositores e intérpretes. "Alguns deles, inclusive, montaram seus projetos e assumiram a linha de frente das bandas, como é o caso do ÀTTØØXXÁ”, exemplifica o jornalista e pesquisador. 

marcelo argolo 1 papo retoArgôlo, jornalista e pesquisador musicalSe por um lado a internet, em geral, e as redes sociais, em especial, abriram as portas do mundo, por outro, possibilitaram que um número cada vez maior de artistas e técnicos (produtores, compositores e intérpretes) pudessem disputar a atenção do público. Foi neste contexto que a pandemia encontrou os integrantes da cena musical de Salvador. E os primeiros meses foram especialmente difíceis.

Isso porque a suspensão dos shows, principal fonte de renda para os artistas e músicos, gerou uma disputa desigual. A busca por espaço e renda se daria não apenas com os demais integrantes da cena local e regional, mas com o mundo. “O formato de apresentação em lives foi apropriado por artistas consagrados que têm seus nomes consolidados em nível nacional e por isso conseguem patrocínio das grandes marcas. Ao contrário dos artistas baianos com menor visibilidade, que passaram a competir pela atenção com tudo que era apresentado no digital, incluindo filmes e séries dos canais de streaming”, diz Argôlo.

Decorridos quase dois anos da suspensão das apresentações com público, a cena musical de Salvador começa a se rearticular. Vêm colaborando para isso uma série de iniciativas locais, como a implantação de políticas governamentais de incentivo, e a atuação de organizações focadas no desenvolvimento da Economia Criativa e Circular, na região metropolitana de Salvador.

No primeiro caso, o destaque fica por conta das Leis de incentivo locais e a adesão à Lei Aldir Blanc, instrumento que, aliás, viabilizou a produção do livro de Argôlo. No segundo, figuram iniciativas como o programa de incubação de produtoras de áudio - música e podcast - da Aceleradora Vale do Dendê.

Empreendedorismo nas periferias

Lançado em outubro de 2021, o Edital de Incubação é fruto do apoio da gigante americana Spotify, que fez uma doação de R$ 3,5 milhões à Aceleradora. E os seus objetivos são grandiosos. “Queremos ajudar a revelar integrantes da nova cena musical independente que têm uma grande possibilidade de ganhar escala nacional e mundial, pois suas batidas dialogam muito com o reggaeton, do Caribe, o rap, dos Estados Unidos, e outras vertentes musicais”, diz Paulo Rogério Nunes, cofundador da Vale do Dendê.

Em um momento de escassez, a verba de fomento definida em R$ 50 mil, para cada um dos 15 produtores musicais, e R$ 20 mil para cada um dos cinco produtores de podcasts, se impõe como um grande chamariz para quem participa do programa. Nunes destaca, no entanto, que é preciso enxergar o projeto em sua inteireza. “O apoio do Spotify permitirá que proporcionemos a esses profissionais um ferramental jurídico, técnico e mercadológico, destinado a prepará-los para se conectarem internacionalmente”.

parceria vale do dende 1 papo reto

 

A Vale do Dendê foi criada em novembro de 2016 como uma plataforma de atração de negócios e projetos sociais. Desde então, vem se firmando como uma das alavancas de fomento ao empreendedorismo e à inovação, em Salvador.

Com foco nos moradores da periferia, especialmente jovens e mulheres, a Aceleradora já promoveu programas para startups dos setores de gastronomia, moda, cosmética e beleza, tecnologia da informação (games e aplicativos) e turismo. No total, 150 empresas já foram aceleradas, gerando um impacto indireto em cerca de 800 negócios da região metropolitana da capital da Bahia.

 

Nota do Editor:

Esta é a primeira de uma série de reportagens que o portal de notícias 1 Papo Reto irá produzir e publicar em suas redes. Esse material é fruto da parceria entre o portal e a Vale do Dendê, com o intuito de ajudar a aumentar a visibilidade dos empreendedores de música e podcast para além das fronteiras de Salvador.

Na próxima reportagem desta série, contaremos sobre os principais marcos obtidos pela Vale do Dendê e como está se desenrolando o processo de incubação das produtoras de áudio (música e podcast).

Até mais!

 

 

Saiba mais:

- Sobre a Vale do Dendê

- Para baixar, gratuitamente, o livro Pop Negro SSA: cenas musicais, cultura pop e negritude

 

 Fotos: divulgação e arquivo pessoal