Bullshit Jobs é um livro que promete causar polêmica no mundo do trabalho. A começar pelo título “Trabalhos Absurdos”, em tradução livre de um jeito mais palatável a ouvidos, digamos, sensíveis. De acordo com a resenha publicada no jornal Folha de S. Paulo de sábado (2/6), a obra escrita por David Graeber, professor de antropologia da prestigiosa London School of Economics and Political Science, joga luzes sobre uma questão que muitos de nós já percebemos ao longo de nossas carreiras, mas que não tínhamos como mensurar: a imensa quantidade de trabalhos inúteis realizados diariamente no setor público e no privado.
Sim. O mundo do trabalho está mudando e isso já não é novidade para ninguém. Um estudo publicado pela gigante PwC indica que 33% das profissões na Alemanha, Estados Unidos, Japão e Reino Unido irão desaparecer até 2030. O futuro do trabalho vai excluir desde as mais óbvias (como caixa de banco, corretor de seguros e recrutador de pessoal) até profissões que exigem um elevado grau de conhecimento e técnica: médico anestesista, piloto de avião e engenheiro de software.
No entanto, o que prega Graber é uma outra dimensão para o mundo do trabalho. Segundo ele, o futuro do trabalho também nos deixará mais livres para atuar a partir de uma visão menos pecuniária e mais baseada no propósito de vida. Em linhas gerais, isso significa que saberemos de forma clara e objetiva os impactos causados no mundo por nossa atividade laborial.
Talvez nem os integrantes da geração Y, os nascidos no período 1980-1995, consigam conhecer esta era. Afinal, a transição do modelo atual que, no caso do Brasil se assemelha bastante com a dinâmica de meados do século 20, pode levar décadas. E entre a chegada da nova ordem e o fim da anterior as pessoas precisam seguir em frente.
Opções no presente
No Brasil, reinventar-se se tornou uma expressão da moda, assim como empreendedorismo. Especialmente para quem ultrapassa a faixa etária dos 50 anos. E isso vale até mesmo para profissionais experientes e que atuam em áreas modernas e destacadas como a Tecnologia da Informação (TI). É o caso do paulistano Rogério Francisco Vieira que decidiu abandonar o mundo da TI para se tornar empreendedor em um ramo totalmente novo, se tornando franqueado de uma lavanderia.
Segundo ele, a transição foi planejada e relativamente suave. Tudo começou em 2017, quando, ao completar, 47 anos, ele percebeu que seria engolido pela dinâmica do mercado que considera “velhos” os profissionais acima dos 50 anos. “Percebi que estava na hora de cavar um novo poço antes que o anterior secasse”, diz ele. Em sua guinada de carreira, optou em ser tornar franqueado da rede Quality Lavanderia.
A escolha obedeceu à lógica de aproveitar a enorme experiência acumulada na área de prestação de serviços. “Para dar a guinada na carreira, optei em manter a similaridade com o setor que já conhecia”, diz. “Atuar com a venda de produtos estava fora de questão porque isso embute um custo elevado em matéria de estoques, por exemplo”.
De fato, as franquias cresceram no Brasil a partir de ondas de empreendedorismo que vêm ganhando fôlego desde a década de 1990. Primeiro, como uma forma de absorver funcionários de empresas estatais e privadas dispensados em Programas de Demissão Voluntária (PDV) que, em muitos casos, envolviam polpudas indenizações.
Tornar-se empreendedor, no entanto, não basta. Afinal, o Brasil é um dos países mais desafiantes para quem deseja montar um negócio próprio. E isso está expresso em estudos e pesquisas globais como o levantamento do Banco Mundial sobre o tempo médio para se abrir um negócio: 119 dias. Neste quesito, estamos em 179ª posição, à frente apenas de Guiné Equatorial (137 dias), Venezuela (141), República do Congo (160) e Suriname (694 dias).
Mas as facilidades esperadas por quem decide empreender ou a possibilidade de sucesso fácil, que norteia o pensamento de muitos que se vinculam a uma marca de sucesso, no caso de franquias, não escondem os riscos embutidos neste processo. “Não existe essa história de trabalhar menos, quando nos tornarmos patrões. Ao contrário. No meu caso eu costumo dizer que sou o maior empregado do meu negócio”, define Vieira.
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