Velho, eu? A arte de bem viver das “Blue Zones”

Velho, eu? A arte de bem viver das “Blue Zones”

O conceito de “velho”, ficou velho. As “Blue Zones” são a maior prova de que é possível sim viver muitos anos com saúde, qualidade de vida e prazer. A minissérie documental da Netflix “Viver 100 anos, o segredo das zonas azuis”, apresentada pelo jornalista e pesquisador americano Dan Buettner, mergulha na cultura da longevidade mostrando como vivem os habitantes de diferentes regiões do mundo, desfrutando de um envelhecimento ativo e saudável, muitos deles beirando os 100 anos ou mais. Alimentação, estilo de vida, socialização, espiritualidade e o não sedentarismo revelam o segredo do bem viver com o avanço da idade.

Nos estudos feitos por Buettner e pesquisadores da Universidade de Harvard, as comunidades de Okinawa (Japão), Nuoro (Sardenha-Itália), Nicoya (Costa Rica), Icaria (Grécia) e Loma Linda (California- EUA) se destacaram no mapa mundi como as regiões onde se vivem mais (essas localidades eram sinalizadas com tinta azul no mapa, daí a denominação).

De acordo com pesquisas realizadas com os “superidosos”, apenas 20% da longevidade são determinados por genes. Os outros 80%, pelo estilo de vida e ambiente (Danish Twin Study). Qual o segredo? Existe um denominador comum entre esses povos distantes e diferentes entre si para terem vida longa, com saúde e felicidade?
A minissérie, produzida em 4 episódios de até 45 minutos, retrata as peculiaridades de cada lugar e a rotina de seus nativos. Nesse “spoiler” do momento pipoca, algumas curiosidades e a receita para um envelhecimento sadio, prazeroso e longevo.

No arquipélago de Okinawa, por exemplo, seus habitantes praticam oIkigai, que significa “iki” (viver) e “gai” (razão). Ou seja, eles têm um propósito para sair da cama todos os dias, seja para trabalhar, cuidar o jardim, se divertir ou fazer qualquer atividade. A felicidade é estar sempre ocupado, com o corpo em movimento (eles sentam no chão, agachando-se e levantando-se várias vezes por dia). Vivem com autonomia, com baixos índices de doenças e rodeados de familiares e amigos.

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Manter a calma, focar no momento presente, comer menos do que a fome exige (parar de comer quando estiver 80% satisfeito), ter contato com a natureza e sentimento de gratidão é o que pregam. Os okinawanos privilegiam alimentação à base de soja, vegetais, peixes, chá de ervas e dão um destaque especial à batata-doce roxa, que contém fibras, carboidratos complexos e é um potente antioxidante.

Na aldeia de Nuoro, cravada na região montanhosa da Sardenha (Itália), a inclinação das ruas é quase vertical e a maioria das casas têm, pelo menos, dois pisos. Ali vivem pequenos agricultores, que “gastam” suas energias subindo e descendo morros, ladeiras e degraus, naturalmente. Percorrem as colinas com suas cabras e ovelhas, cortam lenhas, ordenham e abatem animais. Mantém fortes laços familiares, cuidando uns dos outros. Consomem grãos integrais, pães de fermentação natural, vegetais, leite de cabra e vinho da região.

Nicoya, na Costa Rica (América Central) também é detentora do selo Blue Zones e seus habitantes apresentam idade biológica 10 anos mais jovem. Entre os ingredientes do cardápio básico não podem faltar as “três irmãs”: feijão preto, milho e abóbora, que se complementam com vegetais e frutas tropicais. Andam a pé e aliviam o estresse reunindo-se com família e amigos para momentos de lazer. A água dessa localidade é rica em minerais, fortalecendo o coração e os ossos.

A dieta mediterrânea, à base de legumes, grãos integrais, frutas, peixes, azeite de oliva, ervas, leite de cabra, queijo, vinhos, mel e chás compõem a típica alimentação dos gregos que vivem na ilha Icaria. Gostam de festas, de dançar, interagem com os mais jovens e investem nas conexões sociais e afetivas, alegando que essas atitudes são determinantes para se alcançar a longevidade com saúde e bem-estar.

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Já para a comunidade urbana de adventistas de Loma Linda, na Califórnia, a fé e a espiritualidade são os pilares que sustentam a fórmula para o aumento da expectativa de vida. Na nutrição da longevidade, adotam o vegetarianismo ou o veganismo, alimentando-se preferencialmente de frutas, legumes, vegetais, grãos e cereais integrais, feijão e castanhas. Não bebem e nem fumam. Promovem a diversão ao ar livre, caminhadas em contato com a natureza e o trabalho voluntário com muita intensidade.
Alguns pontos comuns, no entanto, se entrelaçam no estilo de vida dessas cinco Blue Zones que Dan Buettner resume em nove lições sobre a arte de bem viver, chamadas de “Power Nine”:

1- Mexa-se naturalmente, movimente o corpo, ande a pé, suba escadas
2- Encontre o seu “ikigai”, o seu propósito de vida. Tenha objetivos
3- Desacelere, descontraia, relaxe, tire uma soneca
4- Adote a regra dos 80%: pare de comer quando o estômago estiver 80% cheio. Procure fazer a última refeição no início da noite
5- Diminua o consumo de carne e invista numa alimentação à base de vegetais, frutas, cereais e grãos integrais, soja
6- Beba moderadamente. Tomar duas taças de vinho por dia, com amigos ou durante as refeições é saudável
7- Desenvolva a fé e a espiritualidade
8- Preserve os laços familiares
9- Faça parte de comunidades, reúna-se com amigos e mantenha um circuito social ativo

Esse tema nos leva a refletir sobre como as atitudes e hábitos do dia-a-dia podem comprometer – positiva ou negativamente- a nossa longevidade. E, como curiosidade, a pequena cidade gaúcha de Veranópolis, com 24 mil habitantes, é uma forte candidata a receber o selo da primeira “Blue Zones” brasileira. Conhecida como “Terra da Longevidade”, seus moradores registram alta expectativa de vida, com hábitos muito similares às “Blue Zones” internacionais.

 

Angélica Soller

Autor: Angélica Soller

Sobre o/a Autor(a) Angélica Soller é jornalista e relações públicas, proprietária da Angélica Soller Comunicação. Escreve sobre assuntos relacionados à longevidade saudável, empreendedorismo sustentável e “cases” de superação que sirvam de exemplo para transformar e fazer a diferença


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