Carro feito de chiclete, de soja, de tequila, de abacaxi...

O governo do Reino Unido gasta o equivalente a R$ 500 milhões, por ano, para recolher os restos de goma de mascar colados em bancos de praça, nas carteiras escolares, nos monumentos e nas ruas das cidades. Um dinheiro que poderia ser mais bem gasto em saúde, educação e lazer. Mas e se, em vez de ser um problema, a goma de mascar usada se transformasse num cobiçado produto para a indústria automotiva?

Foi com esta questão em mente que executivos da Ford Motor Company foram bater à porta da startup britânica Gumdrop, criadora de um sistema inovador de recolhimento de gomas de mascar usadas. Para isso, espalhou coletores pelas ruas das mais populosas cidades do Reino Unido. O material é processado nos laboratórios da montadora e transformado em plástico moldável.

Os projetos da Ford na área da reciclagem e da reutilização de materiais não para por aí. Um dos projetos mais vistosos é o que deu origem à espuma feita a partir de sobras do processamento dos grãos de soja. Hoje, este substrato vegetal é a matéria prima de assentos e encostos de cabeça de 15 milhões de bancos instalados nos veículos da marca, em todo o mundo.

Com isso, a empresa procura se adaptar às diretrizes globais de redução da “pegada de carbono” das empresas. Ao utilizar um substrato renovável, de origem vegetal, a empresa reduz a aquisição de componentes derivados de petróleo, um dos vilões do aquecimento global. De acordo com Debbie Mielewski, responsável-técnica do departamento de pesquisa e engenharia avançada da Ford, em Dearborn, Michigan, cada veículo possui 180 quilos de plástico. “Nosso trabalho é encontrar o lugar certo para usar compósitos verdes que nos ajudem a causar menos impacto ambiental”.

Além do chiclete, os cientistas da Ford também estão fazendo pesquisa com outros componentes. A lista inclui matérias primas pós-consumo tão ou mais inusitadas:

Rolhas: a cortiça pode ser usada no isolamento acústico dos veículos ou na fabricação de autopeças

Meias-calças e collants: o náilon sintético é visto como um potente isolante termoacústico

Agave (planta da qual se extrai a tequila): a fibra se transforma em compósito, uma espécie de plástico de engenharia

Abacaxi: processo criado pela designer espanhola Carmen Hijosa deu origem ao piñatex, couro vegetal usado no revestimento de bancos e laterais das portas