Tempo de fazer aquele balanço do ano. Confesso que, desta vez, devido à pandemia, está difícil. Ainda não consigo ter a dimensão de como este ano me impactou. Às vezes, parece mentira que estamos no final do ano. Outras, parece que o ano valeu por dois. Um ano que nos mostrou o quanto somos frágeis e que não temos o controle de nada. Um ano em que pouco pudemos planejar, que fomos obrigados a abrir mão dos encontros, dos abraços. Um ano em que não pudemos ir e vir livremente. Um ano que nossas emoções oscilaram de forma difícil de assimilar. Acredito que cada um, a seu modo, sobreviveu aos dias da melhor maneira possível.
Muitas vezes, sinto como se estivesse no piloto automático. Simplesmente reagindo. Fui fazendo o que precisava ser feito e o que estava ao meu alcance. Agradeço por ter chegado até aqui com a saúde. Por meus pais estarem com saúde.
Olhando muito particularmente e considerando apenas o lado profissional, foi um ano bom, de conquistas. Uma delas foi começar a escrever esta coluna. Agradeço ao Rosenildo Ferreira, editor do 1 Papo Reto, por me provocar e incentivar. No início fui resistente.
No sítio, foi um ano intenso, de muitas mudanças, de reconstrução e de muito aprendizado. Um ano de muito trabalho. Algumas vezes cheguei a pensar que eu não teria forças. Outras chorei por não saber o que fazer ou se iria conseguir colocar as coisas em ordem.
Mas existem os anjos na vida da gente. Aqueles que a gente vê, que nos ajudam e nos orientam, e aqueles que a gente não vê, mas sente e sabe que estão conosco. É a mão de Deus. Apesar de todas as dificuldades e de alguns projetos não terem dado certo, eu olho para o sítio e fico feliz de ver que está cuidado, que consegui implementar práticas que avançam rumo a um modelo de agricultura sustentável e conservacionista. Hoje, eu sinto que tenho o sítio na mão. E isso, para mim, é uma grande conquista.
No meu primeiro texto aqui para o 1 Papo Reto, eu falei sobre ver o meu “castelinho” desmoronar e a sensação que eu tinha de estar vivendo um tempo de reconstrução. E de fato tem sido. Junto com a evolução do sítio eu estou moldando uma nova Milena. Ainda tenho muito trabalho pela frente. Fruticultura é um projeto de longo prazo e há muito o que ser feito para que tudo esteja funcionando mais “redondo”.
Acredito que 2021 ainda será um ano bastante desafiador. Por mais algum tempo, teremos que continuar nos esforçando para driblar o vírus que nos assombra. Mas, como toda virada de ano é tempo de renovação, e natureza também renova seus ciclos, tenho em um ano mais leve e sereno.
Na minha opinião, o poema abaixo, de autor desconhecido, nunca caiu tão bem como no final deste 2020:
“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante tudo vai ser diferente.”