Por vezes, algumas vantagens competitivas acabam se tornando uma trava ao pleno desenvolvimento de um país. É o caso da abundância de petróleo no Oriente Médio, cujo baixíssimo custo de extração põe para o escanteio os projetos energéticos mais sofisticados. Alguém aí já ouviu falar de uma inovação no campo das moléculas petroquímicas pesquisada na região? Pois é.
No Brasil, não é diferente. Durante muito tempo, os burocratas do governo, com o auxílio de corporações de engenheiros, fizeram um grande lobby contra os investimentos em fontes alternativas de geração de energia elétrica. A “ficha caiu” apenas após o apagão de 2001, motivado pela falta de planejamento e agravado pela baixa recorde do volume de água nos reservatórios das principais hidrelétricas.
No campo da mobilidade essa história se repete.
O Pró-Álcool, lançado em meados da década de 1970, em plena crise do petróleo, colocou o Brasil na vanguarda dos biocombustíveis. Em 2007, a partir da descoberta do petróleo na camada de pré-sal, o etanol, como o álcool passou foi pomposamente rebatizado, foi relegado ao segundo plano.
A ambição de transformar o Brasil numa potência petrolífera causou muitos mais estragos do que apenas prejuízos aos investidores que apostaram no etanol. Na prática, acabou tirando o país da corrida para o desenvolvimento de carros elétricos ou híbridos (movidos a combustível e dotados de baterias elétricas), largamente utilizados na Europa e na Ásia e que ganham cada vez mais espaço nos Estados Unidos.
Mesmo diante de muitas dificuldades – a falta de uma política que privilegie o desenvolvimento de baterias ou facilite a aquisição dos veículos, por meio de incentivos tributários baseado no ganho ambiental –, as montadoras tentam emplacar seus modelos destas linhas no Brasil.
A mais recente aposta neste sentido está sendo feita pela americana Ford. Na quarta-feira (26/10), a empresa apresentou a um grupo de jornalistas a versão 2017 do Ford Fusion Hybrid. O sedan de luxo impressiona. Não apenas pela robustez, como também pelo pacote tecnológico que faz com que um carro dotado de motor de 2.0, de 190 cv, rode 16,8 quilômetros por litro de combustível.
Desempenho melhor do que o da maioria dos veículos populares, cujo principal apelo é a economia. Não existe mágica neste processo. O Fusion exibe esta performance graças ao reforço da bateria de íon-lítio, de 324 volts, instalada sob o porta-malas. No anda e para do trânsito quem garante a força para o motor é a bateria.
Os executivos da Ford encaram a chegada do veículo ao país como parte da aposta mundial em mobilidade elétrica. “Em nível global, a montadora está investindo US$ 4,5 bilhões para o lançamento de 13 veículos elétricos”, destaca Mauricio Greco, gerente de Marketing da Ford Motor da América do Sul. “A meta é chegar a 2020 com 40% do portfólio composto de veículos eletrificados.”
Nesta conta, o executivo inclui desde os híbridos (movidos a combustível e cuja bateria é carregada a partir da energia cinética e do acionamento dos freios) e os híbridos plug-in (nos quais as baterias são carregadas na tomada), até os puramente elétricos.
Com o novo Fusion, os americanos esperam manter a larga vantagem obtida no mercado de híbridos e elétricos no Brasil. Aqui, eles disputam e batem a japonesa Toyota, dona do Prius, o pioneiro mundial na categoria híbrido, a alemã BMW e a japonesa Mitsubishi. Desde 2010, a Ford já comercializou 1.810 unidades do Fusion antes as 876 do Prius.
Hoje, os veículos elétricos já representam 0,6% do mercado total de automóveis no Brasil. Pouco, é verdade, mas o crescimento segue de forma contínua, mesmo num setor com vendas em queda. O que significa dizer que existe público disposto a adquirir veículos mais sustentáveis do ponto de vista ambiental. O problema, como podemos deduzir baseado no valor de venda: o Prius custa R$ 120 mil e o Fusion R$ 160 mil.
Lá fora, essa questão foi parcialmente solucionada com as condições diferenciadas de financiamento e os subsídios governamentais. No total, o desconto sobre o preço de fábrica pode chegar a 50% e leva em conta o ganho ambiental proporcionado pela redução de gases que causam o efeito estufa.
“O bólido acelera e freia sozinho. Mas é bom ficar atento”
Passava um pouco das 10h quando embarquei em um dos 15 exemplares do sedan de luxo estacionados na orla da praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Estava acompanhado de dois jornalistas. Antes mesmo de ligar o motor recebemos a companhia de mais um passageiro: o gerente de marketing da Ford, Fernando Pfeiffer.
Sorte nossa. Afinal, no afã de nos mostrar tudo o que o carro é capaz de entregar, ele nos forneceu o passo a passo para extrair o que o bólido tem de melhor. A principal dica foi no quesito dirigibilidade. Em vez de ficar apertando o pedal do acelerador e do freio, Fernando disse que o melhor era deixar que o carro fizesse estas funções.
Sim! Graças ao piloto automático adaptativo, dotado de sistema “stop and go”, o Fusion faz um varredura do cenário à sua volta e aciona estes comando quando necessário. Confesso que senti um “friozinho na barriga” inúmeras vezes. Vai parar? pensava. “O sistema é inteligente, mas é preciso manter a atenção constantemente”, alerta Pfeiffer. “Afinal, quem está no comando é o motorista, e não o carro.”
Bem, posso dizer que as acelerações, de forma progressiva e respeitando a máxima programada por mim a partir de comandos no volante, funcionaram perfeitamente. Assim como as paradas. A frenagem é progressiva e suave. Mas só por garantia, mantive durante todo o percurso o pé direito a um milímetro do pedal de freio. Vai que…
- O jornalista Rosenildo Ferreira viajou ao Rio de Janeiro a convite da Ford Motor Brasil