Montadoras investem em "uberização"

E se em vez de apenas produzir veículos as montadoras começassem a administrar serviços de compartilhamento de carros? Pois é isto que vem acontecendo nos Estados Unidos e em diversos países da Europa. Este movimento começou a ganhar força com a popularização do debate sobre mobilidade urbana e o uso mais racional dos automóveis. Neste contexto, serviços como o pagamento por hora de uso ou a carona remunerada tendem a ter cada vez mais espaço. Inclusive no Brasil.

Na última semana a subsidiária da Ford lançou um serviço piloto para os funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC, o primeiro da montadora na América do Sul. A partir de um aplicativo, eles podem alugar os carros da frota interna, no fim de semana. A adesão surpreendeu os executivos da montadora. “Na primeira semana recebemos mais de 500 consultas de interessados”, conta Marcel Bueno, Gerente de Marketing Avançado da Ford América do Sul. “Estamos com as reservas fechadas para quatro finais de semana.”

Apesar de os números se mostrarem animadores, é preciso não perder de vista que se trata de uma ação embrionária. Afinal, está circunscrita a um ambiente controlado (os funcionários da empresa) e a uma frota de apenas três unidades do Ford Fastback. O custo também é competitivo em relação ao aluguel convencional e ao táxi: R$ 175 pelo final de semana, chegando a R$ 87,50, por dia, nos feriados. A expectativa é que ao longo de seis meses, os resultados obtidos pelo programa rendam insights para os executivos da empresa entenderem quais mecanismos e quais formatos podem viabilizar a adesão dos brasileiros, em particular, e dos latino-americanos, em geral, a este tipo de serviço.

Afinal, não é segredo para ninguém que os brasileiros têm uma relação bastante diferenciada com os veículos. A começar pelo sentido de posse. Enquanto nos Estados Unidos e na Europa a maioria os consumidores optam pelo leasing (aluguel com opção de compra ou renovação, ao final do contrato), aqui o que se vê são consumidores que não admitem pensar em nada além da compra de veículos, para depois personalizá-los com a cara do dono e guardá-los com carinho na garagem de casa.

De um modo geral, todas as montadoras esperam mudar esta cultura. Prova disso é que a General Motors escolheu o Brasil para ser o segundo país para testes do sistema Maven de compartilhamento de veículos, que começou nos Estados Unidos. Assim como na compatriota Ford, o serviço está em estágio Beta e se limita aos funcionários da fábrica de São Caetano do Sul, também no ABC paulista. De acordo com a assessoria de imprensa da GM, a subsidiária espera colocar o serviço na rua ainda neste ano. A tarifa para aluguel por hora está prevista em R$ 35, para o Cruze e o Cobalt.

Pelo visto, a era do compartilhamento, também chamada de “processo de uberização”, é um caminho sem volta. Até porque as demais montadoras também investem pesado nesta tendência. A Daimler, dona da Mercedes-Benz e da Smart, opera o sistema Car2Go, enquanto a italiana Fiat criou o Enjoy.