Por Oscar Lopes*, especial para Coalizão Verde (1 Papo Reto e Neo Mondo)
Dirigir um Volvo sempre foi sinônimo de segurança e sofisticação. Hoje, a fabricante sueca busca se antecipar aos novos desafios que a indústria automobilística enfrenta em todo o mundo, em especial no uso de combustíveis fósseis e descarbonização, e ter seu propósito fundamentado no tripé da oferta de uma mobilidade segura, sustentável e pessoal. Por isso, ao recebermos o convite da empresa para viajar à Patagônia Argentina para conhecer os novos modelos híbridos de seus dois principais SUVs, o XC60 e o XC90, líderes de vendas no Brasil e no mundo, nos incumbimos da missão de trazer para os nossos leitores uma análise da sustentabilidade dos celebrados automóveis da montadora.
Sim, a experiência de dirigir um SUV Volvo é especial, poderíamos aqui falar da potência, conforto e estabilidade dos novos modelos híbridos experimentados ao longo dos 70 quilômetros de estrada da Ruta 40, entre Villa La Angostura até Largo Hermoso, mas vamos deixar esta cobertura para os veículos especializados em automóveis.
De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), os carros elétricos e híbridos bateram o recorde de vendas no Brasil em 2021 ao atingirem a marca de 34.990 unidades comercializadas, o melhor resultado desde 2012. Ainda é uma parcela muito pequena da frota brasileira e o alto custo dos modelos disponíveis no mercado certamente não contribuem para que que haja uma migração expressiva em médio prazo, especialmente sem qualquer tipo de incentivo ou subsídio ao consumidor brasileiro.
Assim como outras indústrias automobilísticas, a meta da Volvo é transformar toda a sua frota em modelos 100% elétrico até 2030 e atingir a neutralidade climática até 2040. Atualmente, todos os automóveis da marca sueca premium têm uma versão eletrificada. “Mudar para o 100% elétrico é um desafio e sabemos que dirigir um modelo híbrido geralmente é um trampolim para tornar-se totalmente elétrico. Por isso, a partir de agora, estamos com uma nova opção, fazendo com que as pessoas possam usar o modo elétrico a maior parte do tempo”, explica João Oliveira, diretor geral de Operações e Inovação da Volvo Car Brasil. Aqui cabe o parênteses para destacar que a autonomia no modo elétrico é de 78 quilômetros na linha 2023 do XC60 e de 71 quilômetros no novo XC90, o que dificilmente pode ser considerado um trajeto expressivo, mas é um avanço quando comparado com modelos concorrentes.
Também é importante lembrarmos que o veículo elétrico é um substituto do veículo de combustível fóssil, mas ainda não é a grande solução em razão do passivo ambiental que a mineração do lítio e de outros minerais raros traz para se produzir a bateria. A eletrificação, para a Volvo, assume um papel importante na visão da empresa para atingir a neutralidade climática até 2040. Mas os carros elétricos também criam desafios para todos, especialmente se a eletricidade do carregamento for gerada a partir de combustíveis fósseis e a carga por energia renovável reduz significativamente as emissões de cada automóvel ao longo do tempo de vida útil. Para isso, é necessário ampliar a infraestrutura de carregamento para mais pessoas poderem fazer a transição para automóveis híbridos e elétricos.
De acordo com Rafael Ugo, diretor de Marketing da Volvo Car Brasil, as mudanças trazidas na linha 2023 do XC60 e do XC90 são “mais um passo rumo à eletrificação. É uma forma que estamos dando às pessoas para se acostumarem a andar 100% eletrificadas”.
Como líder de vendas nesse segmento e cientes dos desafios de infraestrutura necessária para a recarga dos veículos híbridos e elétricos, Rafael conta que “a Volvo Cars está investindo em infraestrutura urbana e rodoviária para viabilizar ainda mais o acesso das pessoas aos modelos. Não vamos parar e, a cada dia, trabalhamos para oferecer mais opções e mostrar como a eletrificação está e estará presente na vida das pessoas”.
Calcanhar de Aquiles
As baterias de íons de lítio são o padrão atual dos carros elétricos – também o seu ponto fraco quando avaliamos os aspectos de sustentabilidade do material. Elas gastam uma quantidade enorme de água na sua produção. De acordo com a BloombergNEF, podem ser necessários cerca de 70.000 litros de água para produzir uma tonelada de lítio. E o mundo vai precisar de cinco vezes mais lítio até o final da década.
Além disso, a cadeia de suprimentos de lítio para a produção das baterias está longe de ser sustentável. Mais da metade dos recursos globais estão localizados no chamado triângulo do lítio entre Argentina, Bolívia e Chile, onde os produtores bombeiam salmoura rica em lítio de lagos subterrâneos e permitem que o líquido evapore por 12 a 28 meses para produzir uma pasta que pode ser processada de forma lucrativa. A tecnologia atual recupera apenas cerca de 50% do lítio na salmoura.
O lítio está passando por um boom sem precedentes porque uma queda em 2018-2020, que reduziu pela metade seu valor, causou um subinvestimento crônico em novas fontes de fornecimento, exatamente quando a demanda por veículos elétricos estava decolando. Para os fabricantes de baterias, esses problemas foram agravados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, que acabou com os suprimentos de outros ingredientes necessários, incluindo níquel, grafite e cobalto. A China hoje produz cerca de 80% da produção mundial de baterias de lítio no mundo.
Nos novos modelos da Volvo, a capacidade da bateria aumentou 62% e passou a 18.8 kWh. Combinados, os motores ganham 14% a mais de potência, passando de 407hp para 462hp, e um torque de 709 Nm. Com mais pessoas dirigindo no modo puramente elétrico, a Volvo Cars estima uma redução de 50% na emissão de CO2 na atmosfera.
De acordo com a empresa, tudo isso é possível graças a novas tecnologias de construção das baterias, que passam a ter três camadas de células, resultando em uma capacidade maior de armazenamento, porém com o mesmo tamanho.
Repensando também as operações
Além de eletrificar a sua frota de automóveis até 2030, a Volvo está empenhada em repensar a sustentabilidade em suas operações, de forma atingir a neutralidade climática até 2040 (a empresa não especifica se a meta abrange os escopos 1, 2 e 3).
O site global da empresa diz que o objetivo é ter operações de produção com impacto neutro no clima até 2025. “Desde 2008, todas as nossas fábricas europeias são alimentadas com energia hidroelétrica. Atualmente, as nossas fábricas globais são alimentadas por mais de 80% de eletricidade com impacto neutro no clima. Precisamos reduzir todas as nossas emissões diretas e indiretas. Por isso, estamos combatendo as emissões de CO2 em nossas operações, bem como na cadeia de abastecimento, o que inclui a adoção de economia circular”, destaca a página da marca.
A economia circular é outra das bandeiras de sustentabilidade pregadas pela companhia. Em seu documento público sobre a economia circular, a Volvo afirma que “nossa transição para uma economia circular exigirá que a empresa: minimize a extração e o uso de matéria-prima primária; mantenha materiais, componentes e produtos em uso; e elimine o desperdício e a poluição”.
A divulgação da pegada de carbono do ciclo de vida completo de cada novo modelo é outro dos compromissos da empresa, que diz que adotará esta prática a partir do modelo XC40BEV. Esperamos ansiosos pelos resultados.
Para 2025, a montadora sueca firmou ainda a meta de que 25% do plástico usado em seus automóveis seja reciclado. Isso vai passar por uma série de partes do carro, como os carpetes, o estofamento de bancos que tem uma composição misturada, com um tecido feito de poliéster reciclado a partir de pet e materiais de base biológica.
Os carros elétricos da Volvo já vem sem a opção do couro animal, substituído por um tecido reciclado. Curiosamente, no caso dos carros híbridos, responsável pela maior parcela de vendas, a empresa atravessa “um período de transição”, então os clientes podem escolher tecidos mais sustentáveis, enquanto o couro ainda permanece na linha que sairá gradualmente.
Por outro lado, o aço é o resíduo mais comum que reciclamos. De acordo com a empresa, em 2020, mais de 176.000 toneladas do material foram reciclados, evitando a geração de quase 640.000 toneladas de CO2.
Ainda com o objetivo de se consolidar na vanguarda sustentável da indústria automobolística, a Volvo declarou publicamente que “para atingir nossas metas corporativas de CO2 para 2025, a compensação de carbono não é aceita. Isso significa que todas as partes de nossa cadeia de valor (incluindo fornecedores e varejistas) devem atingir as metas de 2025 sem recorrer a compensações”. E que também não considera “ PPA (acordos de compra de energia) ou certificados de atributos energéticos compensadores”. Palmas para a Volvo! Seguiremos acompanhando os próximos passos desta longa jornada de sustentabilidade na indústria automobilística,
*Oscar Lopes, publisher de NEO MONDO, viajou para a Argentina a convite da Volvo