Wilton Duarte, ou simplesmente Will. A arte desse multiartista é tão autêntica, que está presente até no seu sobrenome. Will trafega com total desenvoltura pelo teatro musical, pelo canto, pelas teclas do piano, e agora pela arte da alta gastronomia. Ele foi vice-campeão da 10ª. edição do Masterchef Amador 2023, programa transmitido pela Rede Bandeirantes de Televisão, competindo com dezoito candidatos. A pressão pela conquista do título não o intimidou. A cada episódio ele se destacava não só pelo seu talento, mas pela ousadia de se mostrar por inteiro como ele é.
“Sou gordo, preto e do gênero não-binário (Will se identifica com os dois sexos; ele ou ela, tanto faz). O Brasil é um país preconceituoso onde o racismo é forte. Um preto tem que estudar dez vezes mais que um branco e, ainda assim, fica pra trás. Somos pessoas. Não importa a roupa, a sexualidade, o gênero ou a cor”, desabafa essa figura carismática que conquistou o Brasil com seus turbantes, faixas, lenços coloridos, tranças, salto alto e alegria contagiante.
A estratégia
Will planejou muito bem como falar sobre diversidade no reality, sem que fosse preciso se expressar verbalmente a cada semana. Investiu na identidade visual e, sabiamente, deu o seu recado. “Apostei nos acessórios de cabeça, como turbantes e lenços, com amarrações diferenciadas, sempre mesclando com roupas coloridas e maquiagem, e assim, mostrei quem eu sou”. É fato que, na abertura do programa, aquela curiosidade: qual será o look que o Will escolheu pra hoje? Sua estratégia deu tão certo que o número de seguidores nas suas redes sociais saltou de 1783 para quase 80 mil atualmente. Tornou-se uma figura pública, reconhecido por onde passa e com muitos pedidos de selfie. Detalhe: não recebeu nenhuma mensagem de desapreço em seus canais de divulgação.
A carreira
Estudar. É a atitude que move. “Eu não tinha lagosta e nem vieira. Tinha livros e foi neles que me apeguei”, enfatiza Will, ao longo de seus 27 anos, quase dois metros de altura e um currículo de professor de canto e de piano,
além de ator. O educador deu aulas de canto por cinco anos no Projeto Guri em várias cidades do interior do Estado de SP, e ainda hoje leciona no Instituto Eurofarma, em São Paulo, ensinando a garotada a cantar. “Meus alunos acham o máximo o jeito de eu me vestir; hoje essa geração discute as questões de gênero e sexualidade, e isso é muito bom, pois começam a entender que o importante é ser feliz”. Neste momento, ele está fazendo a transição para a gastronomia, trabalhando em eventos, com a chef Cíntia Sanchez, masterchef profissional.
Rede de Apoio
A família e alguns poucos amigos mais próximos foram a sua maior rede de apoio, pois sabiam do seu desejo muito forte de um dia chegar a ser um masterchef. Will é de Martinópolis, uma pequena cidade no interior do estado de São Paulo, na região de Presidente Prudente. Chegou à capital em janeiro de 2023 para fazer teatro musical, mas logo conquistou uma vaga no Masterchef, após três tentativas. Aproveitou o isolamento imposto pela pandemia para se “jogar” nos livros e focar nesse sonho. Desta vez deu certo e ele pode, finalmente, desfilar com o seu scarpin 43 sobre o tapete vermelho, com figurino e make cheios de brilho, glamour, muitos aplausos e holofotes.
O programa
Sua passagem pelo Masterchef foi marcada por uma gangorra de emoções. Chorou, sorriu, fez alguns amigos, cometeu erros, mas também foi se surpreendendo e se superando a cada prova. E ao chegar à final, apresentou
um menu autoral (entrada, prato principal e sobremesa) inspirado nas referências da infância e na culinária de sua mãe. Com ingredientes simples utilizados no preparo das refeições do dia-a-dia, Will fez “do ordinário, o extraordinário”. Uma minuciosa releitura com o requinte da alta gastronomia, digno de um masterchef.
O menu
“Trajetória” foi o nome escolhido para o menu da final, que contou um pouco da sua história e resgatou a sua memória afetiva. De entrada, a “desconstrução” da coxinha que sua mãe fazia, ganhou uma “pegada francesa” e se transformou na batata fondant (crocante por fora e macia por dentro), velouté de frango (molho), farofa de pele de frango, cogumelos, cenoura e ervilha.
Para o prato principal, optou pela copa lombo, temperada com várias especiarias. A carne suína envolveu inúmeros processos durante o preparo. Foi servida com purê de cará, gel de cenoura, farofa cítrica e crispy de
taioba. O desfecho se deu com o pão de mel diferente, mas com o cuidado de preservar o sabor original. Remeteu a mais uma lembrança de suas primeiras incursões pela cozinha, ainda adolescente. Os jurados provaram um mousse de chocolate com especiarias, farofa de honeycomb (caramelo de mel com bicarbonato) e gelatina de tangerina. O toque final da sobremesa foi uma obra de arte: um tuile de açúcar mascavo, que mais parecia uma toalhinha rendada, encantou pela delicadeza e sensibilidade.
O prêmio
Pelo 2º. lugar nessa competição, Will ganhou um curso de Patisserie na Le Cordon Bleu Brasil, uma das mais conceituadas escolas de gastronomia do mundo. “Não conquistei o 1º. lugar, mas a minha maior recompensa foi a
oportunidade e a coragem de expor, em rede nacional, a minha identidade e poder representar milhares de pessoas que buscam se encontrar, se entender e ser feliz da maneira que escolheram viver”.
O Futuro
Will projeta para o futuro abrir um teatro-restaurante, unindo a arte do teatro musical com a gastronomia, contemplando as suas duas profissões. Um espaço com palco e mesas na plateia, onde o público possa ter a
experiência sensorial completa: visual, auditiva, gustativa e olfativa.
Jogo rápido
Prato mais difícil: Zampone (pata de porco recheada)
Um erro: sopa de beterraba
Um acerto: ganache de erva-mate com bolo de aipim
Pratos prediletos: lasanha e pudim
Estilo musical: trilhas sonoras da Disney
Música: Escravos da Dor (música da Úrsula, de A Pequena Sereia)
Receita de superação: ser autêntico
O céu é o limite
Sincronicidade à parte – e sem perder de vista a vibe musical – o trecho pinçado da canção Favo de Mel, composta por Carlinhos Brown e Sérgio Mendes para o filme “Rio”, parece ter sido feito sob medida para o Wilton Duarte, ou simplesmente Will:
“Dentro de mim há esperança/ Quero aprender a voar/
Esse é meu sonho desde criança/ Venha comigo, levanta/
É hora de encontrar o céu /A gente se ama/
E a vida é um favo de mel”.
(“Favo de Mel” faz parte da trilha sonora do filme de animação “Rio”, dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, lançado internacionalmente em 2011 e indicado ao Oscar no ano seguinte, na categoria de melhor canção original).
Contato: (11) 98436-0670 -
@willdu.arte
