Quando o assunto é reciclagem, o Brasil é destaque global em diversos produtos. A lista inclui desde as latinhas de alumínio, cuja taxa de reaproveitamento chega a 98%, passando por embalagens plásticas de defensivos agrícolas (94%), papel (66,9%) e vidro (47%). Muitas dessas cadeias foram criadas por interesse econômico dos fabricantes ou de empreendedores individuais que enxergaram nesse processo uma forma de ganhar dinheiro. Em outros tantos casos, porém, o gancho para a consciência ambiental foi o peso da lei. Especialmente no que se refere ao segmento de resíduos perigosos, como é o caso de óleos lubrificantes.
Desde 1999, a partir de dispositivos legais editados pelo Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) e a Agência Nacional de Petróleo (ANP) passou-se a exigir a reciclagem de 30% do total de óleo lubrificante comercializado no Brasil. Trata-se de um segmento que praticamente desconhece a palavra crise.
Nesse ano, a junção da retomada da economia com a explosão do agronegócio causou um grande impacto no consumo de máquinas agrícolas, aumentando a demanda pela coleta do óleo usado. É neste ponto que entram empresas como a Lwart, baseada em Lençóis Paulista (SP) e líder na América Latina na coleta e rerrefino de óleos. No ano passado, a empresa processou nada menos que 180 milhões de litros de OLUC, acrônimo para Óleo Lubrificante Usado ou Contaminado.
Mais do que apenas reciclar, a empresa utiliza um processo inovador, o hidrotratamento, para produção de óleo reciclado, que volta à cadeia de consumo. “Esse óleo é tão puro que pode ser usado até mesmo para lubrificar máquinas de indústrias alimentícias”, destaca Aylla Kipper gerente de relações institucionais e sustentabilidade da Lwart. Em termos globais, a empresa possui um fatia de 12% do mercado global de óleos lubrificante, abocanhando 49% no segmento de óleos básicos rerrefinados.
Para atingir este patamar, a empresa conta com 17 pontos de coleta que atendem 3,3 mil municípios. Apesar de utilizar cerca de 400 veículos neste processo, a executiva diz que o balanço ambiental da Lwart é positivo. “O rerrefino de OLUC emite 7,1 vezes menos Gases de Efeito Estufa que a queima deste material”, diz. Para dar conta da demanda crescente, a Lwart está abrindo mais duas bases de coleta. Os locais ainda não foram definidos, mas a opção está entre as regiões Sul e Sudeste, onde se concentra a maior taxa de consumo do produto.
Na estratégia de atração de novos parceiros os executivos da Lwart embutem em seu discurso os ditames legais acrescido do argumento ambiental. “Quando um parceiro contrata nossos serviços ou adquire o óleo rerrefinado é como se ele estive adquirindo uma espécie de crédito de carbono”.
Apesar do rigor legal e da fiscalização, a executiva, que também é vice-presidente da Ambioluc, entidade que reúne as empresas do setor, destaca a existência de coleta feita por empresas ilegais. “Sem um controle rigoroso, esse insumo acaba sendo queimado sem o rigor técnico exigido”, lamenta. Pelas contas da entidade, a coleta irregular representa cerca de 30% do volume potencial de coleta. "As empresas têm capacidade instalada para coletar muito mais do que absorvem anualmente. Só não o fazem por conta dos ilegais."