"Meu alface e o mais caro do mundo. Mas também o mais feliz!"

"Meu alface e o mais caro do mundo. Mas também o mais feliz!"

Na semana na qual se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5/6, 1 Papo Reto publica uma série de reportagens e artigos que falam sobre as coisas boas que estão rolando nesta área. Afinal, as notícias ruins são tão eloquentes que nos assombram diariamente. Começamos este especial jornalístico contando a paixão do jornalista Alex Branco pelo cultivo doméstico de frutas, legumes, hortaliças… Boa leitura:

“MEU ALFACE É O MAIS CARO DO MUNDO. MAS TAMBÉM O MAIS FELIZ!”

Limão, uva, berinjela, abobrinha, chuchu, caqui, alface, rúcula, tomate, morango, jabuticaba, pimenta biquinho, cogumelos, couve, lavanda, pimentão, ovos frescos, cebolinha, alecrim… Ufa, aja fôlego para falar de todas as delícias existentes no quintal da casa do paulistano Alex Branco e de sua mulher Luci Ayala. O casal pode ser apontado como uma espécie de símbolo de um movimento mundial de agricultura urbana que, aos poucos, vai ganhando força no Brasil.

O plantio de legumes, hortaliças e frutas para consumo familiar segue as técnicas orgânicas de produção, que veda a presença de agrotóxicos e respeita o ciclo natural das espécies. “Para mim, mexer com a terra sempre foi uma terapia”, diz ele. “Uma forma de resgatar a infância nas ruas de terra do bairro do Itaim.”
Deste passado do qual fala com uma ponta de saudade, Alex conta que uma das atividades dele e do irmão era pegar peixe nos córregos da região e cuidar de uma hortinha. O primeiro era ensacado e vendido como “peixe ornamental” aos motoristas que passavam pela parte asfaltada do bairro. Trabalhando atualmente como consultor de comunicação para grandes empresas, Alex dedica ao menos três horas de seu dia à lida na horta.

A intimidade com as técnicas agrícolas é resultado dos mais de 30 anos dedicados ao jornalismo de agronegócio, com passagens por publicações de destaque, como o extinto jornal Gazeta Mercantil. Também foi proprietário de um sítio de cinco hectares, no interior de São Paulo. Apesar disso, Alex rejeita o engajamento em movimentos estruturados de hortas coletivas mantidas, por exemplo, por grupo como os Hortelões Urbanos, na cidade de São Paulo.

“Gosto de um processo mais anarquista, no qual planta quem quer e colhe quem tiver vontade”, brinca. Apesar disso, não se furta em atuar como consultor daqueles que o procuram. A começar pelo filho Yuri, que possui uma pequena horta em sua casa no bairro do Alto da Lapa.

Mesmo sem pretender assumir uma posição de liderança comunitária nesta seara, Alex acompanha de perto o que rola neste segmento. Aqui e lá fora. Em suas viagens pelos países da Europa e os Estados Unidos, ele sempre aproveita para conferir as experiências de valorização de um estilo de alimentação mais natural e saudável.
A mais recente ele viu em Paris, onde o poder local criou um selo para os bistrôs a partir da “frescabilidade” dos produtos usados para fazer as refeições. “Foi a forma encontrada de fazer com que o paladar da comida deixasse de ser tão homogêneo, devido ao uso intensivo de produtos industrializados”, conta.

FRUTAS E FRUTOS

Esta abordagem mais natural na alimentação do dia a dia vem
produzindo experiências marcantes, especialmente na Califórnia e outros Estados da Costa Leste dos Estados Unidos. Em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Curitiba brotam, literalmente, hortas comunitárias em diversos bairros.
Para Alex, isso mostra que existe espaço para trabalhar nas mudanças de atitude. “Nos países desenvolvidos isso e mais fácil, pois já existe uma cultura nesta direção”, diz. “Aqui, precisaríamos de uma política específica de conscientização e incentivo.” Faz sentido, afinal, como lembra o jornalista e hortelão, mesmo na cidade de São Paulo o número de casas ainda é predominante. Com todo concreto, os edifício respondem por apenas 30% das moradias.

Com um padrão de vida estabilizado, Alex pode investir o necessário para transformar o barranco dos fundos de sua casa em uma área produtiva. Para criar platôs, aonde instalou os canteiros, o sistema de captação de água da chuva usada para regar as plantas, o minhocário de onde extrai o biofertilizante, e o pequeno galinheiro onde ciscam Genoveva, Brotoeja e Petrolina. No total, o gasto chegou a R$ 10 mil.

“Meu alface é o mais caro do mundo. Mas também é o mais feliz!”, brinca, numa alusão ao fato de que por mais farta que seja a colheita, dificilmente irá recuperar o valor investido. Mas não é isso que está em questão. “Posso me alimentar de uma forma saudável e ainda desfrutar de instantes de paz interior e fazer uma higiene mental”.
Parece exagero. Mas não é. Na visita de 1 Papo Reto à casa de Alex ficou evidente a paixão com a qual ele fala de cada pedacinho de solo no qual foi colocando suas plantas. Guarda uma especial atenção para um vaso pendurado em uma parede entre dois barrancos. “É capuchinho. Pegue uma folha e come para você ver como e gostoso”, sugere.

De fato, é bonito ver na árida São Paulo uma casa que começa com um laguinho de carpas e acaba, barranco acima, com um galinheiro e uma pequena estufa para criação de cogumelos. Suficiente para alimentar o corpo e a mente de muitas pessoas!