Uma feira com cor e bastante atitude

Uma feira com cor e bastante atitude

Quem é: Adriana Barbosa

Por que é importante: criou a Feira Preta, o primeiro projeto estruturado de "Black Money" do Brasil

Ser empreendedor no Brasil sempre foi mais uma questão de sobrevivência do que um ato de abraçar uma vocação. Essa tem sido a regra. Mas existem grandes e honrosas exceções. Uma delas é a paulistana Adriana Barbosa, de 36 anos, criadora da Feira Preta. Seu maior mérito foi apostar em uma vertente óbvia, mas que nunca fora devidamente trabalhada: um empreendimento econômico-cultural com caráter étnico. Iniciada em 2002, a Feira foi adquirindo visibilidade e prestígio a cada ano, e acabou sendo incluído, em 2011, no calendário oficial de eventos culturais da cidade de São Paulo, quando foi rebatizada de Feira Cultural Preta.

No ano passado, o evento movimentou cerca de R$ 700 mil como resultado da venda de produtos e serviços pelos seus 100 expositores. Mais. Também se tornou um polo de geração de negócios com perfil étnicos ou não. "A Feira acabou criando em torno de si uma série de novos empreendedores e empreendimentos", conta Adriana. "Muitos deles eram frequentadores do evento que acabaram descobrindo que suas habilidades artísticas e gerenciais poderiam ser transformadas em negócios."

Foi neste contexto que surgiram muitos outros negócios, como a agência HDA Model - do baiano radicado na terra da garoa, Helder Dias de Araújo, especializada em casts compostos por modelos afro-brasileiros - ou o coletivo Kultafro, uma rede de empreendedores em áreas como jornalismo, fotografia, produção de eventos, entre outras. Tem também uma empresa de personalização de calçados, a Pegada Preta, comandada por dois estudantes de administração da Faculdade Zumbi dos Palmares, de São Paulo.

Adriana diz que é neste quesito que reside um de seus maiores acertos, a formação da cultura do chamado Black Money. "É um conceito americano que prega que o dinheiro circule na comunidade onde é gerado". A empreendedora paulistana também está à frente do Instituto Feira Preta, que por meio da parceria com entidades como o Sebrae e o Consulado da Espanha busca qualificar e capacitar os candidatos a empreendedores. O trabalho se dá em áreas como elaboração de projetos, captação de recursos e estratégia de comunicação.

A trajetória de Adriana, no entanto, não foi feita só de bons momentos e boas notícias. A interlocução com patrocinadores nem sempre foi fácil. "Deixei de fechar muitos contratos porque não aceitei mudar o nome da Feira", conta. "Mas resolvi seguir em frente." Entre as "sugestões" oferecidas à empreendedora  está "Feira Étnica", recusada porque, segundo Adriana, abriria muito o leque de seu trabalho. "Neste balaio dá para incluir japoneses e indígenas", diz. "E nunca me passou pela cabeça abrir mão do perfil de meu projeto", sustenta.

E não se arrependeu. Hoje, a Feira Cultural Preta se consolidou como uma plataforma de empreendimentos culturais, econômicos e educacionais, capitaneados pelo  Instituto Feira Preta, e que possibilitaram um faturamento de R$ 370 mil, em 2013. Mas Adriana considera que ainda tem uma longa estrada à sua frente para caminhar.