Pesquisa comestível

Quem é: Rubens Bernardes Filho

Por que é importante: coordena o grupo de cientistas da Embrapa que desenvolveu uma película comestível que conserva os alimentos por mais tempo

O Brasil é um dos campeões mundiais de desperdício de alimentos. Do total do material descartado como lixo, nada menos que 55% são compostos de materiais orgânicos, leia-se alimentos. Um problema e tanto em um país que tem na agricultura uma de suas molas econômicas, e aonde a carência alimentar ainda é uma realidade para muitas pessoas. Este quadro sempre foi motivo de preocupação para inúmeras pessoas. Inclusive os pesquisadores da Embrapa Instrumentação, situada em São Carlos (SP). O trio composto pelos cientistas Odilio Assis, Lucimara Forato, e Rubens Bernardes Filho desenvolveram uma película invisível e comestível que, ao envolver os alimentos, prolonga sua vida útil de oito para até 17 dias, no caso das maçãs. "As frutas representam 30% do lixo orgânico e, assim como inúmeros rejeitos agroindustriais, poderiam ter um destino mais nobre", destaca Bernardes Filho. O trabalho ainda está em escala laboratorial. Contudo, sua efetividade já foi comprovada.

Agora, de acordo com o cientista, vem a parte mais difícil. É que entre a pesquisa, a formatação do produto ou serviço, e sua chegada ao mercado às vezes leva um tempo enorme. "A liberação de financiamento para pesquisas vem melhorando no Brasil", diz. "O que ainda não está resolvido é a falta de investimentos por parte da iniciativa privada." Algo que destoa do discurso de nove entre 10 empresários que muitas vezes se queixam da falta de interlocução com a academia. "Quando contatamos empresas de grande porte, elas querem todo o conhecimento, sem pagar nada por ele", critica.

A importância desta película vai além da conservação de alimentos. Ela é a parte mais visível de um trabalho robusto conduzido pelo trio, cujo objetivo é a aplicação dos benefícios da nanotecnologia. "Estamos tentando, da melhor forma possível, utilizar os conhecimentos e técnicas que desenvolvemos para uso na agroindústria." Segundo ele, a película não é universal. Ou seja, para cada alimento ou produto é preciso criar uma fórmula específica. Além da maçã, já foram feitos testes com banana, pera, manga, castanha e até hortaliças. Os filmes são feitos a partir do amido de milho ou da proteína de soja obtidas de compostos normalmente rejeitados pela indústria.

A aplicação se da com o "mergulho" do produto na solução líquida. A partir daí, ela "sela" o alimento, evitando a entrada de fungos e bactérias, além de evitar a perda de água. Parece simples. Mas, de acordo com Bernardes Filho, ainda existe um logo caminho a ser percorrido até que este trabalho se transforme em um produto à disposição de indústrias e também das pessoas. É a ciência "Made in Brazil" dando sua contribuição à resolução de problemas do dia a dia.