Seu lixo, nosso lucro

Quem é: Tom Szaky

Por que é importantefundou e dirige a TerraCycle, a mais festejada empresa de upcycling do mundo

A literatura de negócios está repleta de exemplos de inventores e empreendedores que tiveram suas ideias "gongadas" em disputas acadêmicas ou na busca por recursos em agências de fomento ou fundos de investimentos. Em muitos casos, elas são tão simples, e ao mesmo tempo tão revolucionárias, que os integrantes de bancas examinadoras têm dificuldade em identificar os benefícios que podem advir da iniciativa. Com o americano Tom Skazy, de 32 anos, não foi diferente. Antes de transformar a TerraCycle na queridinha de corporações globais do calibre de PepsiCo, Mondelez (ex-Kraft Foods), 3M e Faber-Castell, Szaky teve de cumprir uma verdadeira via-crúcis.  "Ideias disruptivas nem sempre são fáceis de serem assimiladas", diz o CEO da TerraCycle, que atua na pesquisa de tecnologias para aproveitamento de embalagens e outros produtos descartados.

E bom que fique claro que a empresa não faz reciclagem. Ao menos não do jeito convencional. Bitucas de cigarro e pacotes aluminizados de salgadinhos não têm valor comercial na cadeia de reciclagem. Porém, nem por isso deixam de ser produzidos e comercializados aos bilhões em todo o mundo. E para aonde vai este material? Para os aterros sanitários. Inconformado com isso, Szaky buscou os fabricantes para convencê-los a patrocinar iniciativas de conversão dos resíduos em outros produtos de consumo e até mesmo novas matérias primas, ação conhecida como upcycling (a adição de valor a todos os itens que compõem determinado resíduo).

Neste contexto, as bitucas viraram insumos para diversas indústrias, enquanto embalagens de batatinhas fritas se tornaram bolsas e mochilas transadas. "Isso reduz a necessidade de compra e de produção de matéria prima virgem, diminuindo a exploração de recursos naturais", destaca. O mais bacana é que a coleta é feita a partir da ação de voluntários, que podem ser tanto funcionários de empresas quanto estudantes, reunidos nas famosas brigadas. Parte da remuneração decorrente deste serviço ambiental se reverte em recursos para escolas e ONGs.

A TerraCycle não processa os resíduos. Em vez disso, desenvolve tecnologia para seu reaproveitamento. Apenas em pesquisas já foram investidos US$ 30 milhões desde 2003. Outros US$ 20 milhões deverão ser aplicados apenas neste ano. O montante sai do bolso de empresas e fundos interessados em se associar a esta iniciativa. Mas em se tratando de Szaky, a TerraCycle não poderia ser um negócio convencional. "Nosso lucro é limitado a 1%", afirma. "Todo o restante é aplicado em pesquisas."

As parcerias também incluem o poder público. Os acordos mais recentes foram assinados com a prefeitura de Vancouver (Canadá) e de New Orleans (EUA). Hoje, a TerraCycle opera em 26 países, incluindo o Brasil. Até chegar neste ponto, Szaky e a TerraCycle, tiveram de enfrentar muitas barreiras, incluindo a desconfiança de parte do mercado. Em 2001, aos 19 anos, ele se inscreveu no concurso de startups da prestigiada Universidade Princeton, no qual ficou em quinto lugar. A partir daí, foi acelerando sua veia empreendedora com novas iniciativas em outras disputas.

A insistência acabou sendo recompensada. Ao menos e parte. Skazy ganhou o Desafio do Plano Empresarial Carrot Capital que dava direito a uma verba de US$ 1 milhão para investir. Contudo, os financiadores queriam subverter a proposta do empreendedor. Ele recusou o dinheiro e resolveu, por conta própria, bancar o negócio. Trancou a matrícula na universidade e… Bem, o resto, como sabemos, é história.