Perdidão em Fortaleza, rumo a Pentecoste

As aventuras da viagem para o sertão cearense, onde conheci de perto os projetos da Adel. Essa história estará em meu livro sobre empreendedorismo sustentável

Sexta-feira, 8 de maio de 2015 – Às 18h30 saio do trabalho, no bairro da Lapa de Baixo, em São Paulo, em direção ao Aeroporto Internacional Franco Montoro, situado no município de Guarulhos. São cerca de 25 km que podem ser cumpridos em 40 minutos (meu recorde) ou 1h30, 2h, 3h ou até mesmo 4h. Tudo depende do trânsito nas sempre problemáticas Marginal Tietê e rodovias Ayrton Senna e Helio Schmidt. Esta última tem pouco mais de 5 km de extensão e, como tem uma alça de acesso ligando a zona leste de São Paulo a rodovia Presidente Dutra e ao centro de Guarulhos, está sempre bagunçada.

Nesta noite, o trânsito estava especialmente congestionado. Cheguei ao aeroporto no limite. Parei o carro no estacionamento em frente ao terminal e saí correndo. Como se tratava de um voo noturno, pela GOL, sabia que não haveria comida a bordo. Por conta disso, antes do embarque comprei um sanduíche e um suco de caixinha, para devorar quando estivesse aboletado na poltrona do avião.

Desembarquei no aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza, perto da meia-noite. Como iria alugar um carro no outro dia para seguir para Pentecoste (CE), meu destino final, optei por uma pousadinha perto do aeroporto. Conheci o local pela internet. As recomendações eram razoáveis, o preço do pernoite (R$ 80), idem. Mas as fotos não faziam jus ao hotelzinho xexelento com cheiro de mofo no quarto e muitas pulgas. Muitas!

Acordei e segui para o aeroporto, onde iria pegar o carro. Pelo menos lá a coisa fluiu melhor. Na falta de um veículo basicão ganhei um upgrade. Com as indicações recolhidas no Google Maps, achei que chegaria fácil à CE-341 e depois à BR-222, que me levaria à cidade que abriga a base da Agência de Desenvolvimento Econômico Local (ADEL), comandada por Wagner Gomes, um “cabra arretado” cheio de boas ideias na cabeça e muita disposição para o trabalho.

A ADEL procura enxergar soluções onde muitos brasileiros, especialmente os gestores públicos, só enxergam problemas. O trabalho consiste em gerar renda nas comunidades rurais do estado, a partir da capacitação dos jovens. Com isso, eles se tornam produtores rurais e não têm o êxodo para a capital, ou para o Sudeste, como a única opção de vida.

A viagem foi tranquila. O problema foi sair de Fortaleza. A cada informação ficava mais distante da saída para a CE e a BR. Rodei por cerca de uma hora até me acertar. Confesso que não sou muito bom de caminhos. quando morei em Londres, conseguia me perder mesmo tendo em mãos o A-Z, uma guia de bolso fundamental no paleontológico período analógico de nossas vidas.

Bem, mas vamos em frente. Acertei a estrada e fui no ritmo dos inúmeros radares e detectores de velocidade. Parei mais umas duas vezes para pedir informações e, pasmem!, usei um orelhão para ligar a cobrar para a minha mulher Carolina, com quem não falava fazia dois dias. É que, na pressa para embarcar em Cumbica, eu havia esquecido o celular no carro, em São Paulo! E não estava a fim de gastar com telefone no hotel pulguento no qual estava…

Cheguei à Pentecoste e levei um baita susto. A paisagem em nada lembrava àquela vista em filmes sobre seca e retirantes. Na verdade, cheguei após três dias de chuva, o que deixou as plantas da Caatinga bem verdinhas. É a tal da “seca verde”. Explicarei isso melhor em meu livro.

Bem, corri para comprar um cartão telefônico. Dancei. Ninguém vende mais isso numa época na qual um aparelho celular é comercializado por camelô em qualquer canto. Era uma volta a uma vida mais rústica – sobrevivíamos bem, lembram?

Rodei pela via que liga a estrada ao centro da cidade, a XV de Novembro (avenida de pista dupla, largas e asfalto tinindo). Mas era uma miragem, um cartão-postal. A cidade não é pequena, contudo, tem apenas umas poucas ruas asfaltadas.

Na minha cabeça, todo mundo conhecia o Wagner. Só que não. Contudo, uma boa alma, dono de uma loja de material de construção, se oferece para fazer a ligação para o celular do diretor-executivo da ADEL. Ele chega em cinco minutos.

Vamos direto almoçar, em um restaurante singular. A começar pelo nome: Carneiro do Sertão. Diante disso, pedimos uma costela de carneiro, macaxeira frita e baião de dois. E uma jarra de suco de graviola para “molhar a palavra”. O calor de 30ºC nos obriga pedir a próxima jarra, desta vez de umbu. Como estava dirigindo, a tradicional cervejinha foi deixada de lado!

Passamos o dia juntos. À noite, voltei para Fortaleza e desta vez me hospedei em um hotel convencional. Ainda barato, claro. Mas sem pulgas!

Bem, o restante vocês vão saber no livro, que chega às livrarias no segundo semestre!