O dia do Folclore foi em 22 de agosto e isso me trouxe umas lembranças. Na infância, conheci Monteiro Lobato e um livro dele nunca – repito nunca – consegui ler: “O Saci”. Fiquei com medo, em especial pela descrição pavorosa do que seria o lobisomem.
Para quem acha que é aquela clássica europeia, pode se preparar. O lobisomem brasileiro seria um ser com o pelo virado para dentro e a pele para fora. Sério, é de meter medo em qualquer criança. Depois, perdi o interesse por ele. Quem sabe minhas filhas consigam ler “O Saci”, ultrapassando o pai delas.
Bom mas aí dessa lembrança me veio outra bem divertida. Minha avó, mãe do meu pai, era de Vassouras, interior do estado do Rio de Janeiro. Ela me contou que os irmãos dela saíam com uns amigos para fazer seresta para as moças. Uma noite alguém disse que lá por umas ruas não se podia passar porque tinha um lobisomem rondando.
A área era bem perto de onde moravam as moças e, com medo do Maldito, elas não abriam as janelas nem por decreto. Isso atrapalhava a corte dos rapazes – isso se passa lá pelos anos 20 do século passado – e alguém precisava tomar uma providência.
Afinal, lobisomem em Vassouras seria um atraso na vida sentimental de todos.
Dois dos irmãos da minha avó – ela tinha quatro ou cinco – decidiram tirar isso a limpo e munidos de um cacete cada um ficaram a espreita do Maldito.
E não é que ele apareceu mesmo? Meus tios-avôs não se intimidaram e partiram para cima dele. Aos primeiros gritos de ai do Maldito, reconheceram a voz e pararam a surra. Era um camarada que eles conheciam.
O sujeito começou aquela palhaçada de lobisomem, assustando o povo crédulo do interior, para poder entrar na casa de um motorista de táxi, que trabalhava à noite, só para namorar (minha avó disse namorar porque era uma senhora educada) a mulher do cara.
Com essa explicação, ficou combinado que o lobisomem podia uivar para outros lados, sem atrapalhar a seresta dos rapazes. Ele até nem uivou tanto mais assim e dessa forma, com um belo acordo de cavalheiros, o lobisomem de Vassouras desapareceu.
Fernando Neves é jornalista e sócio da Argonautas Comunicação & Design