Uma matéria no jornal britânico Guardian do último domingo, 8/9, trouxe à tona uma questão super pertinente: o racismo velado na música. De acordo com a reportagem, a cantora de funk Anitta, de acordo com alguns críticos no País, tem ficado mais branquinha depois que assinou com uma grande gravadora. O Guardian cita o ótimo blog Blogueiras Negras, em um artigo da educadora sexual e feminista Jarid Arraes.
Jarid escreveu no post afirmações veementes: “Seja ao chamar mulheres negras de morenas ou aceitar o ‘branco’ como padrão, o racismo articula com a violência imposta sobre as classes desfavorecidas e encontra seu apogeu quando atua de forma machista” ou “Enxergar Anitta como uma pessoa branca demonstra a naturalização do processo de embranquecimento racial. Em uma sociedade que tem como branca qualquer pessoa miscigenada de pele clara, o caso de Anitta merece no mínimo uma reflexão”.
Recentemente, também vimos uma série de reportagens se referindo à intolerância religiosa contra a umbanda em morros cariocas. De acordo com textos como o do jornal Extra, mães-de-santo estariam sendo expulsas de comunidades por evangélicos ligados ao tráfico de drogas.
Bem, 1 Papo Reto sabe que racismo e intolerância religiosa são dois males diversos que resistem no País. São faces de um Brasil ainda arcaico, que não tolera o diferente.
O curioso é que, nos dois casos, de Anitta, que está se branqueando, e da intolerância contra uma religião, o efeito prático é exatamente o mesmo: apagar traços da cultura africana. A consequência de tornar invisíveis traços negros na música e na religião faz com que só enxerguemos “morenos” de cabelos lisos e sem relação alguma com religiões de origem africana.
Curioso, né? Pode ser. Mas não é estranho em um País onde um dia Ronaldo Fenômeno, o maior ídolo de futebol então, disse saber da existência do preconceito, pois tinha amigos negros. Justo ele, outro que virou “moreno”, ou quase branco – seja lá o que isso possa significar.
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