“Perdi o meu amor por causa dessa mania de conexão o tempo todo!” A frase não é minha, vou logo dizendo. É de um conhecido que veio desabafar, quase chorando. Não fiquei com nenhuma pena. Afinal, ele optou por pular a cerca sem se preocupar muito com a “vigilância” exacerbada graças ao costume – e às vezes, vício – de muitos em usarem a toda hora alguma rede social ou afins para mostrar suas pegadas.
Estava o sujeito, com uns 5 anos de casado, meio cansado da rotina sexual e resolveu dar atenção a uma periguete – ele mostrou a foto. Foi uma, duas, várias vezes ao encontro furtivo, durante o dia e também à noite.
Em uma dessas, a esposa ligou. Ambos, inclusive a periguete, moram em Brasília, cidade um tanto setorizada: aqui tem setor policial, setor militar, setor de gráficas, setor de abastecimento, setor de indústrias e até setor de motéis. Tem gente de fora que se diverte muito quando falamos sobre este último.
A esposa, desconfiada da tal “reunião”, pediu para ele ligar o “facetime” do iPhone. É um aplicativo que permite conversar com a câmera ligada nas duas pontas. Ele titubeou um pouco e disse que estava tentando, mas não conseguia fazer aquilo funcionar.
A esposa mandou esta: – Então, faz o seguinte, amor. Você que registra quase tudo o que faz no Foursquare, faz um check-in de onde você está agora…
Se você não conhece, o Foursquare é um aplicativo em que você pode registrar o local onde está em determinado momento e compartilhar isso pelas redes sociais. Nosso personagem havia dito que estaria em uma reunião na Asa Norte, sem precisar muito o endereço. A Asa Norte é um dos bairros centrais de Brasília. Só que o camarada estava no setor de motéis, situado bem longe do local fictício, na parte sul da capital. Titubeou de novo, disse que tinha clicado no aplicativo, mas que estava um tanto lento.
– Mas, querida, por que essa agora de querer que eu prove onde estou? – disse meio que ensaiando uma fúria por causa daquela inquisição.
Ela não desistiu: – Nada, não. Mas faz o seguinte: acessa o Facebook e faz um check-in – se o Foursquare tá ruim…
“Xiii…”, pensou ele. Enrolou um pouco no telefone e disse que o 3G devia estar ruim e que não estava conseguindo acessar o Facebook. Bem, como você já imaginou, no Facebook você também faz o registro de onde está em um determinado momento.
– Olha, querida, vou voltar à reunião agora e depois eu falo contigo. Desculpe, mas a tecnologia nem sempre ajuda né?
Aí veio a frase matadora: – Não se preocupe amor. Já sei onde você está. Usei o aplicativo “Find my iPhone” e ele mostra que você está na região do setor de motéis, bem longe da Asa Norte. A tecnologia, como você pode ver, ajuda e muito. Aguardo você…boa reunião.
Ele diz que aprendeu a lição. E já calcula quanto será a pensão. A esposa não quis saber de conversa. Expulsou-o de casa e só fala com ele por meio de advogado. Se tiver alguma leitora solteira, na faixa dos 32, acho que posso apresentá-los. Mas aviso logo: ele trocou o smartphone por um celular bem vagabundo, sem internet…
Leia outros textos do autor:
Imagens de Brasília
Virei brasiliense. Você também deveria
Sergio Cross é diretor da Profissionais do Texto Agência de Comunicação
