Por trás da máscara Black Bloc

Em “Mascarados – a verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc” (ed. Geração Editorial), os autores Esther Solano, Bruno Paes Manso e Willian Novaes buscam as razões de um dos maiores protagonistas das manifestações de 2013. Rotulados como violentos, por conta da destruição de mobiliário urbano e de alguns símbolos do capitalismo, como concessionárias de automóveis e agências bancárias, os Black Blocs recebem na publicação recém-lançada a oportunidade de dizer o que os motiva. O livro esgotou rapidamente sua primeira tiragem de 5 mil exemplares. Abaixo, leia entrevista com Novaes a 1 Papo Reto.

Lendo as resenhas sobre o livro e as entrevistas dos autores, fica evidente que a obra trata de mostrar a situação pela ótica dos Black Blocs. É isso mesmo, esta era a intenção do livro, dar voz a um grupo sobre o qual muito se falou, mas de quem pouco se escutou?
Exatamente isso, mas também ouvimos os policiais militares durante as manifestações, na sequência do trabalho entrevistamos um coronel da PM, que também deu o seu ponto de vista em relações aos Black Blocs. Fizemos algo que a imprensa por algum motivo não fez, ou não conseguiu fazer. Sentar com os garotos e ouvir as suas histórias e motivações para fazerem o que fizeram. A Esther Solano teve um papel fundamental nesta parte. Ela foi a primeira a se aproximar deles e conseguiu realizar a pesquisa indo em todas as manifestações no último ano e entrevistando eles e os policiais no calor dos fatos. O Bruno Paes Manso escreve sobre a sua percepção como jornalista em relação aos garotos. O nosso livro é uma grande reportagem sobre os Black Blocs.

A tática Black Bloc é oposta à dos movimentos reivindicatórios no Brasil, em que o protagonismo se dá a partir de cartazes e do grito de palavras de ordem. Eles, ao contrário, cobrem o rosto e partem para a radicalização. Isso explica, em grande maneira, a rejeição dos grupos históricos de esquerda a este movimento. Qual a função da máscara no “uniforme” e na ideologia deste grupo?
A máscara é o escudo. Dessa maneira, eles se identificam. São jovens que quebraram paradigmas durante as manifestações, na real mais um fenômeno social tipicamente brasileiro. Muitos deles aderiram à tática pela estética da violência, outros para revidar as agressões que a policiais militares cometeram contra alguns, diretamente, e contra amigos nas periferias paulistas. Pouquíssimos conheciam a tática Black Bloc antes de junho de 2013.
Essa radicalização, se olharmos em “close”, bem próximos, na real enxergaremos muito menos do que foi noticiado. O que eles destruíram de fato? Vidraças de bancos, pontos de ônibus e lixeiras, colocaram fogo na rua com sacos de lixos. Fora a concessionária de carros importados, que foi parcialmente destruída. Essa destruição não foi certa, mas ao nos aproximar vimos que eles conseguiram superdimensionar o poder que eles tinham, manipularam parte da imprensa e se deixaram ser manipulados por outra parte. O interessante é que o governador, que seria o responsável direto para lidar com eles perante a população, tirou o corpo fora e deixou o problema com a PM. Muitos policiais e oficiais entenderam que estavam sendo usados como massa de manobra política.

Recentemente, o Metrô de São Paulo vetou a propaganda do livro em seus vagões, alegando que os cartazes poderiam incitar a violência. Como você reage a isso. Censura?
Foi um grande exagero do Metrô. Podemos dizer que foi uma censura contra um material jornalístico, mesmo sendo uma publicidade. A gerência do Metrô partiu da ideia de que o livro seria uma apologia à tática Black Bloc. Isso mostra muito bem como o Estado age: “Não queremos e ponto final”. Chegaram a falar para o Marketing da editora que o anúncio não foi aceito porque poderia incitar a violência. Enfim, uma decisão equivocada e idiota ao mesmo tempo.

Passados quase 18 meses do auge do movimento popular, no qual os Black Blocs foram um dos pontos altos, o que ficou de saldo foi um rastro de destruição de mobiliário urbano, propriedades privadas (agências bancárias, concessionárias de veículos e bancas de jornais) e também de prédios públicos. Existe futuro para o movimento Black Bloc?
Volto a falar: será que eles destruíram tudo isso mesmo? Não sei se esses jovens que estavam nas ruas voltam, mas provavelmente outros devem aparecer, principalmente por causa do problema da falta d’água em São Paulo. Talvez apareça uma nova geração de Black Blocs, ainda mais radical. Sabe quantos adeptos da tática pararam a maior cidade brasileira por diversas vezes? Milhares, centenas? Ao ler o número em Mascarados, o leitor entenderá esse superdimensionamento.

Qual seria a gênese deste movimento? Existem grupos políticos que os financiam, eles derivam de grupos de punks, ou foram “domesticados” pelo sistema, mesmo o alternativo?
A essência é o movimento autônomo alemão dos anos de 1980, mas fica apenas na essência mesmo. É uma mistura de tudo, entre eles há punks, gente do Hip Hop, da periferia, ricos, brancos e negros, homens e mulheres. Um outro senso comum é que eles seriam ligados à esquerda radical ou a direita. Esse é um grupo odiado por todos, isso fica até engraçado. O PT tem ojeriza aos rapazes, dizem que são ligados a direta raivosa. Por outro lado, pessoas ligadas a direita também acham que eles pertencem ao PT que foram enviados pelo Lula e Zé Dirceu. Enfim, são jovens indignados contra o Estado, contra a PM, contra a corrupção e contra muita coisa por aí. Essa foi a proposta do livro, mostrar quem eles são e o que eles queriam afinal.

Como está a trajetória comercial do livro?
Já estamos na segunda edição. A primeira, com 5 mil exemplares, evaporou em quinze dias de distribuição. As pessoas querem saber quem são esses mascarados que infernizaram a vida dos paulistanos.