A conservação dos recursos hídricos foi o ponto central dos debates, hoje em São Paulo, no Fórum Água 2016 promovido pelo Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Quem deu o tom ao primeiro painel foi Samuel Barreto, gerente nacional de Água da ONG The Nature Conservancy (TNC).
Segundo ele, a questão hídrica só vai avançar se governos e as empresas privadas se engajarem no que ele chama de infraestrutura verde. “A destruição da cobertura verde chega a 70% em algumas bacias hidrográficas”, disse. Barreto criticou as políticas de reparação e remediação do quase colapso do Sistema Cantareira, que abastece boa parte da capital de São Paulo.
Ele diz que o governo estadual está investindo de forma errada, pois gasta cada vez mais para trazer água de locais mais longe. Um exemplo disso, diz ele, são os cerca de R$ 3 bilhões gastos para trazer 6,4 m³ de água, por segundo, do Sistema São Lourenço para matar a sede de 1,5 milhão de moradores das cidades da Grande São Paulo.
“Os efeitos benéficos desta obra serão anulados em 15 anos”, critica. “O padrão de consumo de água está mudando. Cresce cada vez mais e gera maior efeito residual, como o esgoto, criando um círculo vicioso.”
Medidas como esta que, a bem da verdade se repetem pelo Brasil afora, estão na contramão das políticas globais que mostraram resultados expressivos e sustentáveis. Um exemplo citado pelo técnico da TNC foi o caso da cidade de Nova York que, em vez de obras vultosas, investiu na preservação das nascentes dos rios que alimentam seu sistema hídrico. “O gasto foi de US$ 1,5 bilhão e a economia é estimada em US$ 8 bilhões.”
(a partir da esq.) Barreto, Domingues, Simone e Flávia Oliveira (mediadora)Pelo lado empresarial, Simone Veltri, gerente de relações socioambientais da Ambev, destacou a atuação da iniciativa privada neste debate. “A água começa a ser encarada como um ativo financeiro e não apenas como um insumo produtivo”, destacou. Uma prova disso é que as empresas, mesmo as concorrentes como Pepsico e Coca-Cola, integram a Coalizão Cidades pela Água, inciativa que visa a adotar estratégias para a conservação deste insumo.
Mas, ao que parece, a ficha começa a cair. Pelo menos é o que diz Antônio Félix Domingues, gerente geral de articulação e comunicação da Agência Nacional de Águas (ANA). “O debate já chegou ao parlamento. Prova disso é que existe uma mobilização para a criação de uma Frente Parlamentar de Municípios Produtores de Água”, contou.
Responsável pelas outorgas na captação de água em rios e lagos por parte de empresas e produtores rurais, a ANA vem trabalhando fortemente, de acordo com ele, na política de preservação de florestas. “Recurso existem”, destaca ele. “A recuperação de cada hectare custa R$ 20 mil e o montante disponível para isso no governo é suficiente para recuperar 22 milhões de hectares.”
Os números, de fato, jogam a favor da preservação. “Se levarmos em conta os ganhos indiretos com a redução de gastos na área de saúde em relação ao total investido em saneamento básico, a economia chega até R$ 5, para cada real aplicado em tratamento de água e esgoto”, afirmou Barreto, da TNC. “Mas, se colocarmos neste bolo o ganho global, incluindo a redução do absenteísmo e outros impactos na produtividade do país, a economia chega a R$ 45”,