Mais que apenas evitar o desmatamento, em geral, e das áreas de nascentes, em particular, a preservação dos cursos de água precisa ser visto a partir de uma abordagem múltipla que tem na tecnologia uma aliada poderosa. Este foi o mote do segundo painel Fórum Água 2016, promovido pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Neste quesito, um ponto sempre chama a atenção: a água de reuso.
Trata-se do reaproveitamento do resíduo resultante do tratamento de esgoto e até de atividades produtivas que tem na experiência da Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), em Mauá (SP), um dos exemplos mais exitosos na América Latina e que abastece o Polo Petroquímico de Capuava, em Mauá (SP).
Apesar disso, ficou claro que há muito a ser feito a começar pela viabilidade econômica dos projetos. “A malha de 17 km de dutos para levar a água até o Polo custou mais caro que a estação de tratamento do esgoto da água de reuso”, destacou a secretária adjunta de saneamento e recursos hídricos do Estado de São Paulo, Monica Porto. Ou seja, as ETEs ainda não são construídas perto dos locais nos quais existe potencial de consumo de água de reuso.
Para o diretor geral da subsidiária da francesa Veolia Water Technologies, Ruddi de Souza, a questão precisa ser enfrentada também pela via regulatória. “Hoje, apenas as empresas de saneamento podem oferecer este produto. Precisamos abrir este mercado”, defendeu.
Apesar de a tecnologia e regulação serem aspectos importantes neste debate, outro item que não deve ser desprezado, de acordo com os especialistas, é a questão cultural. “Na Austrália, a população rejeitou a água de reuso, para seu consumo, mesmo com a campanha feita pelo governo”, contou Souza. “Por conta disso, tiveram de investir em usinas de dessalinização, que são mais caras.”
Por sua vez, a gerente de controle de perdas e sistemas da Sanasa, Lina Adani, lembrou do trabalho contínuo feito pela concessionária que cuida da água e esgoto em Campinas (SP). Segundo ela, um dos mais fortes componentes nesta tarefa tem sido a conscientização. “Trabalhamos fortemente junto aos estudantes das escolas públicas para que eles aprendam que a água custa caro e não está à disposição de todos nós”, explicou.
Essa política é mais intensificada nas camadas populares, que pagam tarifa social de R$ 15 por água e esgoto, independentemente do consumo.
De fato, no Brasil existe uma percepção bastante equivocada sobre a água. Mas as empresas de saneamento, de um modo geral, também têm muito que acertar da porta para dentro. Hoje, os sistemas de distribuição e água têm perda média de 37%, chegando a 70% em alguns estados. Significa dizer que, de toda água tratada até 70% é jogada fora por conta de vazamentos na rede e também roubo, antes de chegar à casa dos consumidores.
No campo regulatório, Monica Porto, do governo de São Paulo, contou que o governador Geraldo Alckmin está prestes a assinar um decreto que regulamenta a utilização da água de reuso no estado. “Trata-se da primeira lei do gênero no Brasil”, conta. Segundo ela, os detalhes técnicos já foram acertados, falta apenas o sinal verde da área jurídica.