Já escrevi e risquei, apaguei, substituí texto algumas vezes antes de entregar esta versão a 1 Papo Reto. Isso porque aqui em Brasília tudo muda a cada ½ hora. O publisher do portal de notícias de sustentabilidade, o competente empreendedor Rosenildo Ferreira, está no meu pé há dias, mas é de se compreender que não está fácil fazer qualquer tipo de análise da situação político-econômica.
A mais recente mexida no cenário foi a saída do PMDB do governo federal neste dia 29/3. Dilma teve até que desmarcar viagem aos Estados Unidos porque Michel Temer assumiria seu cargo (antes do tempo imaginado por qualquer um), ainda que temporariamente; e se Temer quisesse tripudiar, poderia viajar também para que Eduardo Cunha, o réu, assumisse a cadeira presidencial – o complicado seria tirá-lo de lá… Restou a uma constrangida Dilma cancelar a viagem e o compromisso que tinha agendado com o presidente Obama.
Dilma, portanto, está “presa” politicamente, no Brasil… se tiver que se ausentar da presidência, seus atuais adversários, hoje mais perigosos do que os tucanos e os demos, passam a mandar no Executivo. Que situação, hein? A separação do “casal Dilma-Temer”, agora, comprova como pode ser fatal a um governante não se dedicar com afinco e competência à articulação política.
A tramitação dos pedidos de impeachment contra Dilma faz os ânimos se acirrarem ainda mais, consequência do que tem ocorrido nos últimos meses.
A guerra de informações e desinformações, com muito conteúdo dissimulado, distorcido, falso, impreciso ou carregado de ameaças aos discordantes de ambos os lados tomou conta das rodas de conversa e das mídias sociais e isso tem contribuído muito para o embate entre coxinhas declarados ou não; acarajés e petralhas; isentos (existem?); novos fascistas; esquerdistas declarados; e os direitistas (entre os quais os apoiadores do regime militar).
Tem gente compartilhando nas mídias sociais informações ridículas de tão falsas, notícias velhas ressuscitadas do nada (até eu fiz isso por descuido e o Rosenildo me chamou a atenção), frases feitas e indevidamente atribuídas a personalidades diversas etc.
Com tudo isso, o debate sério cede lugar a uma “guerra de informações e desinformações” que toma a forma de uma nuvem espessa estruturada para confundir o julgamento das pessoas e, assim, acredito que uma boa parte dos brasileiros não consegue afirmar com convicção de quem é a culpa de toda ou de boa parte da situação caótica da política e da economia.
E aqui em Brasília essa intensa troca de informações ocorre, além das mídias sociais, nos locais de trabalho, nos bares e restaurantes, em qualquer reunião, nos clubes, nas missas etc. Porque aqui e em Curitiba é onde se desenrolam os principais fatos da Lava Jato que repercutem em boa parte do País.
Acuado pela escassez de apoio político relevante, o governo federal tenta mostrar que é estranho à corrupção, uma vítima e não ator principal ou coadjuvante das maracutaias em investigação, e que merece a chance de propor aos brasileiros medidas, ainda que possam parecer impopulares, para tirar o Brasil do atoleiro em que se encontra. Foi eleito democraticamente e há um mandato legalmente instituído de quatro anos a ser respeitado. E por isso, chama de “golpe” qualquer tentativa de expurgar o mandato de Dilma antes da hora e sem que haja crime de responsabilidade comprovado.
Goste-se ou não da Dilma, do Cunha, do Temer, do Renan, do Lula e dos demais personagens desta crise, é preciso muita calma nessa hora. Antes de sair gritando “fora Dilma”, é bom também dar uma analisada nas alternativas, nos currículos dos que temos à mostra para eventualmente assumir o posto dela, caso seja catapultada de volta para casa antes do tempo.
Não se deixe influenciar por terceiros ou “se levar” simplesmente pelos argumentos apresentados por “intelequituais”, artistas e juristas que se surgem para defender A ou B. Pesquise, estude os fatos, forme sua própria opinião com argumentos sólidos, de preferência.
É preciso ter frieza para avaliar as informações sobre os que defendem e os que criticam os atuais governantes, inclusive as divulgadas pela imprensa.
Muitos veículos são severamente acusados de serem parciais, porém, são empresas livres para emitir opiniões e conduzir a cobertura jornalística de acordo com as convicções de quem está no comando. Quem não gostar que busque prestigiar outros veículos. Com a internet popularizada, o que não falta é veículo para curtir, seguir, opinar e compartilhar com os demais.
O juiz Sergio Moro é outro que é alvo de louvações e também de ataques viscerais por sua conduta à frente da operação Lava Jato. Parece ter cometido excessos (o Judiciário irá avaliar isso), mas o fato é que contribuiu – ele, o Ministério Público, a Polícia Federal e os tribunais, como o STF – para intimidar os corruptores mais audaciosos que o Brasil já viu agir no ambiente político. O Brasil poderá tirar uma boa lição disso tudo daqui a alguns anos…
Enquanto isso, o núcleo do governo federal segue cometendo erros, sinalizando para o Brasil e o mundo que a equipe dirigente claudica na hora de agir em época de crise e pratica como nunca o vergonhoso “toma-lá-dá-cá”, nomeando qualquer mané de baixo clero para importantes cargos, inclusive de ministro de Estado. Quanto mais isso irá custar pra nós?
Foram vários episódios sequenciais (nem todos gerados pelo governo) que nos deixam surpresos, tais como:
- O PT tratar Michel Temer, líder do principal partido da base aliada, como “vice decorativo” e depois desprezar sua atuação como articulador político do governo e desdenhar da sua carta em que expôs suas mágoas à Dilma – deu no que deu meses depois;
- As denúncias (em apuração ainda) de Delcídio do Amaral;
- O ato do ministro da Educação, um político muuuuito próximo à Dilma, Aloísio Mercadante – mais um da antiga galera do PT –, em propor favores ao Delcídio, bem como sua inexplicável permanência no ministério até agora (dizem que é para manter o foro privilegiado);
- A nomeação de um procurador do MP da Bahia pelo governo para ser ministro da Justiça, o qual não pôde assumir porque foi preciso o STF se pronunciar por seu impedimento, demonstrando que faltam cabeças pensantes na assessoria governamental;
- A tentativa de nomear Lula como ministro da Casa Civil de forma atabalhoada, no timing errado, ou seja, no período mais grave das suspeições sobre ele ter cometido maracutaias – mais uma vez foi preciso o STF dar um cala boca no governo;
- Como complemento, tiraram Jaques Wagner da Casa Civil, criaram mais um ministério para ele (chefia de gabinete) e deixaram a Casa Civil acéfala até esses dias;
- Tentativas de manobras discutidas em telefonemas (vazamento das gravações) entre os principais personagens do governo federal e do PT – que não aparentam serem republicanas e, ainda assim, são tratadas por eles com certa naturalidade, como se aquilo fosse prática comum. Não bastasse isso, tais conversas apresentarem ataques absurdos ao Poder Judiciário e ao Ministério Público, o que gerou muitos protestos;
- A desarticulação política do governo que proporcionou o início dos trabalhos da comissão do impeachment na Câmara dos Deputados;
- E tem mais coisas que não cabem aqui.
Enquanto a continuidade do governo Dilma está nas mãos do Congresso Nacional – sem esquecer que a chapa eleitoral Dilma-Temer está sob risco de ser eliminada pelo TSE – terão influência direta no cenário as manifestações nas ruas (pró e contra o governo e contra a corrupção), o andamento das investigações das operações Lava Jato, Zelotes, Xepa, Acrônimo, entre outras, e o apoio político que Dilma, Lula & Cia. conseguirem comprar ou juntar por “afinidade ideológica” (boa esta, né?).
Se Dilma & Cia. conseguirem reverter as expectativas dos opositores e permanecerem no poder até 2018, o jeito será torcer para uma trégua combinada com a apresentação de propostas sérias e consistentes para tirar o Brasil do lodo. E deixar a Justiça trabalhar punindo quem merece.
O que acontece agora é ainda um retrato do período eleitoral, afinal, o país se mostra dividido desde a última eleição presidencial, em que Dilma venceu por apenas “um pescoço” de vantagem. Ali o eleitorado já havia enviado a ela e a seu grupo um claro recado de insatisfação, que agora cresceu e muito.
Foram 54 milhões de votos para ela naquela época, porém, as opiniões das pessoas evoluem com o tempo. A mais recente pesquisa Ibope crava 70% de taxa de reprovação entre a população. Será que isso não bastaria para justificar o afastamento de uma (des)governante como essa? Pela lei, não.
Talvez uma das lições que se tire dessa situação toda é que o Brasil precisa muito de outras regras para garantir a governabilidade, ou seja, que seus eleitos sejam obrigados a cumprir determinadas metas sob pena de perderem a cadeira, independente do término do mandato – mais ou menos o que ocorre em qualquer empresa que tem a sensatez como uma das características de gestão.
Vamos agora aguardar a próxima ½ hora pra ver o que acontece em Brasília…