Sobre a Década Internacional Afrodescendente

Com tanta confusão no mundo político, passou meio despercebido o lançamento de um livreto sobre a Década Internacional Afrodescendente, iniciativa da ONU aqui no Brasil. O conteúdo consiste em expor, enaltecer e levantar a bandeira contra todo o tipo de preconceito que os afrodescendentes sofreram, e sofrem, até os dias atuais.

No âmbito nacional elucida algumas propostas de como o Brasil pode implementar e fazer valer as políticas públicas que são direcionadas às questões que envolvem o povo negro. O livreto traz alguns pontos que muitos de nós já estamos cansados de ouvir falar: igualdade de direitos, acesso à educação de qualidade, entre outros blá-blá-blás com os quais, infelizmente, nos acostumamos.

A intenção da ONU Brasil é válida e vem na esteira da escolha da própria ONU, de eleger o período 2015-2024 como a tal Década Internacional Afrodescendente. Aliás, tudo o que seja para fazer com que a sociedade não se esqueça da dívida que tem com o povo negro é sempre aceito de bom grado. Mas, até que ponto tudo isso de fato será aplicado em ações públicas e seguido pelos estados e municípios?

Se nas escolas não forem inseridos no currículo as questões da cultura afro-brasileira, por mais que sejam lançados livros, livretos, filmes, documentários, entre outros, como conscientizar o povo, desde cedo, de que a sua cultura e a sua história são tão importantes quanto as de qualquer outro país chamado de berço da civilização?

O material do livreto tem um conteúdo interessante e informativo. Porém, se não houver uma mediação de fato, para uma aplicação efetiva, será apenas mais um esquecido sobre mesas de centro das salas – e, como sabemos, algumas vezes nos gabinetes daqueles que comandam a PM que extermina milhares de jovens negros pelas periferias do Brasil e de outros países com essa mesma realidade desigual.

Por isso, acredito que a mudança para uma consciência étnica se dá em ações de militância, pois somente os que vivem e sentem de fato na pele têm o poder e a credibilidade de trazer para a discussão todos os malefícios sofridos pelo povo negro, com a diáspora que sofremos.

De qualquer forma, que este livreto da Década Internacional Afrodescendente seja mais uma arma de luta contra uma desigualdade que assola e devasta o povo negro no Brasil e no mundo. E, como sempre digo, a identidade de um povo é o que faz com que ele obtenha condições mínimas de desenvolvimento, em suas diferentes formas.

Boa semana a todos!