Nos últimos 15 meses, o setor industrial brasileiro produziu poucas notícias alvissareiras. Aumento da produção? Nem pensar. Expansão de fábricas? Imagina. Contratação de pessoal? Que nada. Diante deste quadro é surpreendente ver o ânimo da japonesa Toyota em relação ao Brasil. E não se trata apenas de palavras. Nesta terça-feira, 10/5, a empresa inaugurou uma fábrica de motores em Porto Feliz, distante cerca de 100 quilômetros da cidade de São Paulo. Mais que os R$ 580 milhões investidos e os 320 postos de trabalho, divididos em dois turnos, a unidade é emblemática por ser a primeira da montadora japonesa na América Latina.
“Hoje fazemos história no Brasil e na região”, afirmou Steve St. Angelo, CEO da Toyota para América Latina e Caribe.
Mais que um peso simbólico, St. Angelo destacou que a unidade terá um papel vital na estratégia de crescimento da montadora. “A fábrica de Porto Feliz nos permitirá responder rapidamente à demanda do mercado.” E não se trata de exagero. St. Angelo explica que tem pago um preço alto por conta de sua visão positiva do futuro da economia do Brasil, em particular, e da América Latina, em geral. “Muitas pessoas me criticam porque sou otimista, especialmente com a situação do Brasil. Mas a minha confiança se baseia em dados macroeconômicos sólidos.”
A lista, segundo ele, inclui desde a relação veículos-habitantes, até a taxa de natalidade, passando pelo aumento da População Economicamente Ativa (PEA). No primeiro caso, os números jogam em favor da tese do executivo. Na América Latina há 1,6 veículo para cada grupo de 10 habitantes, número enormemente inferior ao registrado em países ricos como os Estados Unidos (8), e até mesmo economias emergentes: Malásia (4) e México (3). Mais. No ano passado, das 378 mil unidades Toyota e Lexus (marca de alto luxo da montadora) comercializadas na região, nada menos que 47% foram parar na garagem de brasileiros. Em termos globais, a Toyota vendeu um volume recorde de 10,15 milhões de unidades.
A este cipoal de estatísticas o CEO da subsidiária da Toyota adiciona os números referentes à evolução da PEA, estimada em 10% por ano, e a taxa de natalidade (5%) da região. “Em 2012, quando inauguramos a fábrica do Etios, em Sorocaba (cidade do interior de São Paulo), anunciamos que faríamos uma fábrica de motores. Hoje, cumprimos a nossa promessa”, destacou St. Angelo.
No geral, as ações adotadas sob o comando do executivo, incluindo os R$ 580 milhões da unidade de Porto Feliz, representaram um desembolso de R$ 730 milhões. Nesta conta está a implantação de um Centro de Distribuição, em Pernambuco, a modernização da unidade de São Bernardo do Campo (cidade da região do ABC, de São Paulo), que se tornou o quartel-general da Toyota na região e onde também está sendo instalado o Centro de Tecnologia e Design. “A Toyota confia na evolução da economia e será parte de sua recuperação.”
MAIS QUE MOTORES…
Além do aspecto estratégico, do ponto de vista produtivo, a fábrica instalada em Porto Feliz (SP) coloca a Toyota como uma vitrine das tecnologias limpas desenvolvidas pela maior montadora do planeta. A unidade foi construída no conceito eco factory (fábrica ecológica), por conta disso, é autossuficiente em energia elétrica e não envia resíduos sólidos para aterros. O consumo de água também é reduzido e boa parte dos insumos, como a areia usada na fundição, é reciclada internamente.
Mais que economizar recursos e ficar “bem na foto”, a direção da Toyota enxerga nos atributos da sustentabilidade uma forma de se diferenciar no mercado. Aliás, foi graças à aposta no Prius, o primeiro automóvel híbrido (movido à energia e combustível sólido) a ser comercializado em larga escala, que a montadora conseguiu impor-se no desafiador e restritivo mercado americano.
Hoje, são vendidos cerca de um milhão de Prius por ano, no mundo, e a empresa espera desenvolver esta tecnologia por aqui. Mais ainda há muita estrada para percorrer. “Faltam condições de competitividade”, argumenta o CEO da subsidiária da Toyota. “Mais que redução de tributos, é preciso que os consumidores enxerguem este produto como uma opção.” Hoje, são comercializadas somente mil unidades do tipo no Brasil a um preço em torno de R$ 110 mil, cada
Obs.: o jornalista viajou a Porto Feliz a convite da Toyota