A novela do cai-não-cai de Dilma Rousseff cansa a todos os brasileiros que gostariam de mudanças nos rumos da política e da economia, e logo. Ainda mais que o Brasil está faz tempo sem governo federal e mais recentemente sem comando na Câmara dos Deputados. Desde os dois turnos da eleição presidencial de 2014 o país se mostrava dividido. O descontentamento com a maneira da petista e seu grupo governarem era claro, já naquela época. Nem vou abordar questões como as acusações de mentiras pronunciadas na campanha porque político que não mente eu nunca conheci pessoalmente.
No momento seguinte em que venceu a eleição direta, Dilma deveria ter feito um gesto sólido em direção aos que estavam do outro lado do balcão, os milhões que apoiaram um Aécio Neves até então pouco expressivo para o cargo majoritário do Poder Executivo nacional. O primeiro governo da ‘tia’ se mostrou tão fraco na fase final que impulsionou o nome do senador nas urnas eletrônicas.
Logo após a eleição de 2014, o que fez Dilma? Sumiu por um tempo. Só se sabia dela por interlocutores. Depois inventaram que foi fazer regime, outra história mal contada até hoje, embora ela tenha perdido uns bons quilos. Enquanto isso, os indicadores iam deteriorando aceleradamente e o governo fazendo água.
Sendo assim, apesar de Aécio & Cia. terem esperneado e exigido recontagem dos votos, o fato é que sua base de eleitores foi muito impressionante e, com os meses se passando, essa massa que votou na oposição recebeu uma espécie de adesão de milhões de outros brasileiros que passaram a criticar o governo Dilma.
Assim, o País, em vez de dividido como no final de 2014, estava majoritariamente (apontam pesquisas de opinião) adverso à administração Dilma Rousseff.
Para ‘melhorar’, os gênios do Planalto vieram com a ‘brilhante’ estratégia de separar os brasileiros em “Nós” e “Eles”, sendo que os primeiros eram os apoiadores do governo e os “Eles” os que estariam contra. E não bastasse isso, ainda tacharam os “Nós” de pobres e os “Eles” de ricos, como se a má gestão governamental não tivesse ferrado com as expectativas dos pobres, do mesmo jeito que arrasou com as condições de vida da classe média.
A população foi às ruas reclamar da gestão de Dilma e também da situação caótica causada pela corrupção. O governo fez o quê? Usou seu exército de militantes para acusar todos, inclusive gente correta, trabalhadora, pagadora de impostos, cumpridora das leis de ‘fascistas’, ‘golpistas’ etc. Usar camiseta da Seleção Brasileira de Futebol nas manifestações (não é todo mundo que tem roupa verde e amarela), motivo de orgulho durante décadas para várias gerações, virou ‘crime’ na visão dos chamados petralhas.
Naturalmente que nas manifestações públicas e democráticas havia joio e trigo. Havia tanto manés como Bolsonaro e Malafaia, como cidadãos exemplares, porém, a reclamação da galera nas ruas era contra todo um sistema que tem em sua base a corrupção e que isso está cansando os brasileiros. O ataque governista, no entanto, colocou joio e trigo na mesma travessa; ofenderam meio mundo.
Depois se seguiram tantos fatos, entre os quais a lamentável encenação de tornar Lula ministro para garantir foro privilegiado (ato vergonhosamente imitado pelo atual governo de Minas Gerais em relação à esposa), a manutenção de Aloísio Mercadante no Ministério da Educação (da Educação!!!) após ter sido flagrado em gravações tentando melar a Operação Lava Jato, a organização de seguidos comícios políticos do PT e de outras legendas associadas em pleno Palácio do Planalto e tantos outros.
A inabilidade política, a teimosia, a indisposição para o diálogo e para dar solução a certas práticas do sistema partidário, a falta de humildade para uma autocrítica, a incompetência para apontar caminhos alternativos para reverter a crise etc. minaram o poder de Dilma (e do PT), que foi se enfraquecendo visivelmente.
Com Dilma ‘cercada’ de críticos por todos os lados, os gênios que a acompanham apostaram na encenação de vítima para tentar sensibilizar a militância e os incautos para se rebelarem contra um suposto ‘golpe’ – uma forma esperta de desviar a atenção para seu minguado desempenho como gestora de nosso País. Não colou. Lembro até que em um dos discursos alguém da assessoria ou ela mesma adicionou a expressão (não literal) de que “o Congresso a torturava” com o processo de impeachment.
Bastou esta alusão à tortura que sofreu quando presa pela ditadura militar para ela quase chorar ao discursar; ela, que é considerada uma fortaleza para tratar dos mais espinhosos assuntos.
O fato é que é preciso ter muita calma nessa hora.
Dilma, o PT e outros que estão no mesmo barco erraram a mão, foram advertidos, mas ignoraram qualquer aconselhamento, perderam timing em certos momentos, não foram felizes nas ações de comunicação de seus atos positivos, atacaram a imprensa, enfim, abriram espaço para cavarem a própria sepultura por meio do impeachment, ainda em andamento.
Mas lembro: as mazelas do Brasil, do seu estado, da sua cidade, do seu bairro, do seu condomínio ou vizinhança não são todas ‘culpa da Dilma e do PT’. Selecionar alguns para jogar toda a culpa é fácil e pode ser extremamente injusto, a depender do caso. Autocrítica cabe a todos e não só aos que elegemos.
O Brasil está colhendo frutos podres da falta de empenho tanto dos eleitores quanto dos que vencem eleições e dos que atuam nos órgãos públicos em propor, discutir e efetivar ações que equiparem o País a outros que vislumbram avanços sociais, econômicos e políticos, com resultados positivos para a qualidade de vida de suas populações.
Sou otimista que vamos tirar várias boas lições dessa tragédia político-econômica. Só que vai levar um bom tempo para ajustarmos a legislação de modo a espelhar o que julgamos que o Brasil precisa mudar. Portanto, muita calma nessa hora…e nas próximas horas também.