Um os mais proeminentes intelectuais e militantes político-sociais do Brasil, Abdias Nascimento continua sendo uma referência quando o tema é a luta pelos direitos humanos e a igualdade racial e social no Brasil. Uma boa amostra disso pode ser vista no último dia 4/12, na Universidade Brown, em Providence (EUA), quando foi realizado o simpósio Iniciativa sobre o Brasil da Brown University, em homenagem a Abdias.
O seminário aconteceu no Watson Institute for International and Public Affairs, vinculado à Brown. O encerramento do evento coube a Elisa Larkin Nascimento, viúva de Abdias e autora de sua biografia, com a aparesentação do poema O chifre do carneiro, que narra a trajetória do militante.
Paulista de Franca, Abdias do Nascimento teve uma trajetória multifacetada. Foi escritor, poeta, teatrólogo, artista plástico, parlamentar e professor universitário. Indicado em 2009 ao Prêmio Nobel da Paz, em função de sua defesa pelos direitos civis e humanos dos afrodescendentes brasileiros, ele morreu em 2011, aos 97 anos. Fundador do Ipeafro (Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-Brasileiros), em 1981, Abdias é até hoje uma grande referência quando se fala na luta pela igualdade racial.
Sua militância política começa na década de 1930, quando participa da Frente Negra Brasileira e da Revolução Constitucionalista de 1932. Na década seguinte lança seu olhar arguto para o mundo das artes e funda, em 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN), primeira iniciativa do gênero no Brasil, que abriu as portas da dramaturgia para o protagonismo do negros.
Desta escola surgiu Ruth de Souza, a dama maior do teatro brasileiro, e toda uma estética de teatro baseada nas angústias e alegrias dos afro-brasileiros. O pioneirismo de Abdias abriu caminho para outros realizadores, como Solano Trindade -criador do Teatro Popular Brasileiro, em São Paulo.
Para Abdias, a arte significava um poderoso instrumento de luta. Nunca um fim em si mesmo. Daí a sua preocupação de trabalhar com atores bissextos, recrutados em fábricas, em lojas e em empresas públicas. A partir do teatro ele cria uma verdadeira plataforma de valorização do negro, ao promover inciativas como concursos de beleza para mulheres negras, e de artes plásticas, com o tema Cristo Negro.
Outras grandes realizações político-militantes lideradas por Abdias são: a Convenção Nacional do Negro, em 1945, e o 1º Congresso do Negro Brasileiro, em 1950. Mais. À frente do jornal Quilombo, ele incentiva a candidatura de afro-brasileiros em todos os partidos. Em meio ao golpe militar de 1964 o militante acaba sendo exilado.
A partir daí inicia uma profícua carreira de professor universitário na Nigéria e nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, funda o Ipeafro e ingressa na política partidária como líder da ala afro-brasileira do PDT, fundado por Leonel Brizola em 1981. Abdias foi eleito deputado federal e senador.
Enfim, uma trajetória admirável e maiúscula por qualquer ângulo que se olhe.