Ricardo Boechat, âncora da rádio BandNews FM e do Jornal da Band, morre em queda de helicóptero, em SP
A morte prematura do jornalista Ricardo Boechat, ocorrida hoje (11/2) à tarde, em acidente de helicóptero, veste de luto o jornalismo de qualidade e preocupado com sua função social e cidadã. Não é fácil se firmar como um âncora no rádio e na TV. Mais difícil ainda é não titubear entre qual lado escolher. Em diversos momentos, Boechat enfrentou poderosos, grandes corporações e até "jogou contra" os interesses da casa.
Imprevisível, indomável e dono de um baita senso de humor, poderia representar um grande perigo aos patrões e eventuais contratantes de palestras e debates. Afinal, ele tinha o "péssimo hábito" de falar o que pensava. Algo raro no Brasil, em geral, e no jornalismo, em particular. Fazia troça das patrulhas ao centro, à direita e à esquerda e, suprema heresia!, confessava no ar que devolvia alguns xingamentos que recebia nas redes sociais.
Ao lado do discípulo e amigo Eduardo Barão (que o chamava de “o nosso carequinha”), no estúdio da Rádio BandNews FM, em SP
Não chegamos a trabalhar juntos, apesar de termos atuado em duas empresas na mesma época: a sucursal carioca do Estadão, da qual foi diretor, no final da década de 1980, e a Editora Três, onde até hoje era colunista da IstoÉ. Nestas empresas tive a oportunidade de trocar palavras fortuitas. O mesmo se deu em eventos dos quais participamos, inclusive o Prêmio Os Jornalistas + Admirados do Brasil, onde ele ficou em primeiro lugar, empatado com a querida Miriam Leitão. Faz uns nove anos que abandonei os queridos Milton Young e Heródoto Barbeiro para "tomar café da manhã" com o "maluco* do Boechat". Seus editoriais eram uma boa injeção de ânimo. E a interlocução com José Simão, quase fechando o horário, um sinal que ainda restavam algumas coisas das quais dar risada.
Toda vez que tocavam Ne me quitte pas, clássico do cancioneiro popular francês, a gargalhada era certa. A música já embalou a leitura de declarações de amor entre ouvintes, confiadas ao âncora da rádio, além de ter se tornado fundo musical para momentos hilários na interlocução com Zé Simão.
Alguns dos 100 Jornalistas + Admirados do Brasil, em 2014. Irrequieto, na hora da foto Boechat, que dividiu o primeiro lugar com Míriam Leitão, vira de costas para conversar com um colega (Foto: Jornalistas&Cia)
Hoje, desgraçadamente, eu acordei mais tarde. Perdi 90% do editorial. Mas ouvi o programa até o final, sem a presença do "mala do Milton Neves", que deixou sua participação gravada! Pena ele ter ido sem protagonizar mais um momento de rabugice com "o mala do Merchan Neves", o qual ele brindou com a alcunha de "Pitonisa Neves!"
Vá em paz, grande jornalista!
*Maluco, na gíria do subúrbio carioca, na década de 1980, era um jeito carinhoso com o qual as pessoas mais ousadas e irreverentes eram brindadas.
