Ao longo dos últimos 10 anos, o paulistano Renato Meirelles, fundador do Instituto Data Popular e do Data Favela, se debruçou sobre inúmeros gráficos, tabelas e textos de pesquisas feitos com pessoas das mais variadas classes sociais. Mas seu olhar sempre esteve mais focado nas faixas média e baixa da pirâmide social e de consumo.
O manuseio de inúmeras pesquisas e o contato direto com os integrantes destes contingentes fez de Meirelles um interlocutor privilegiado de quem pretende entender a cabeça e a alma destes brasileiros. Quer sejam empresários interessados em definir estratégias de investimentos, ou gestores públicos que pretendem “medir o pulso” da população.
Por conta disso, é bom prestar atenção no que ele fala.
Desde meados de dezembro, as pesquisas do Data Popular vêm mostrando uma reversão de tendência no humor dos brasileiros, especialmente da chamada classe C. Um contingente que envolve cerca de 100 milhões de pessoas, capazes de decidir uma eleição presidencial ou mesmo influir no compasso do Produto Interno Bruto (PIB). “O dado mais preocupante e que a maioria esmagadora das pessoas não veem perspectiva de melhora em suas vidas”, diz Meirelles.
Apesar disso, o sócio-fundador do Data Popular e do Data Favela, esta consultoria e instituto em parceria com o empresário carioca, Celso Athayde, diz que ainda há motivo para otimismo. Os dados que compõem o mais novo estudo socioeconômico serão mostrados e debatidos no 2º Fórum A Nova Favela Brasileira, que será realizado em São Paulo, na terça-feira 3.
A seguir alguns trechos da entrevista concedida por Meirelles a 1 Papo Reto:
Diferentemente do que se via em outubro, o humor dos brasileiros azedou em relação ao governo federal. As pesquisas estavam erradas?
Tanto a visão otimista de meados de 2014, quanto o pessimismo de agora são a mais pura expressão da verdade. A queda do otimismo e o baixo astral se devem à deterioração da economia. Em janeiro, a inflação atingiu o maior patamar e 10 anos. Os efeitos da queda de renda já começam a ser sentidos no a dia a dia dos brasileiros e o dado que mais me preocupa é que a maioria não estão vendo perspectivas de melhoras.
Isso explica a queda de popularidade do governo?
Sem dúvida. Lá atrás, houve uma decisão política de que os trabalhadores não iriam pagar a conta dos ajustes da economia. Para manter os níveis de emprego em alta foram criados programas como o Minha Casa, Minha Vida, encarado erroneamente como um projeto habitacional.
Então, podemos dizer que a piora da economia foi o grande estopim do revés da aprovação do governo e também do humor dos brasileiros?
Isso mesmo. As pesquisas mostram que mais da metade da classe média está comprando menos o que comprava há seis meses. O mesmo levantamento mostra que só 12% deles estão comprando mais. Isso quer dizer que, objetivamente, a vida dos brasileiros está pior. Muitas pessoas argumentam que, antes essas pessoas que antes passavam fome e que, graças às políticas de distribuição de renda, criadas pelo PT, conseguiram ingressar no mercado de consumo. É verdade. Mas estes brasileiros se acostumaram a ter uma vida melhor e nenhum deles está disposto a voltar à situação anterior. O poder de compra é que vai definir o ponto de virada ou o agravamento desta questão.
Na terça-feira 3, você e Celso Athayde, sócios no Data Favela, promovem o grande seminário em São Paulo, enfocando a favela, uma parte muito falada no dia a dia dos brasileiros, mas que é pouco compreendida. Pode-se dizer que a consciência dos brasileiros está no estômago?
O poder aquisitivo é um elemento transversal a tudo que afeta a vida dos brasileiros. A renda é um elemento que expressa a melhoria de vida dessas pessoas.
Diante disso, você ainda está confiança em um cenário melhor?
Olha, ainda sou daqueles que enxergam o copo meio cheio. O cenário está pior, é verdade, mas temos muitos indicadores que mostram que ainda há motivos para sermos otimistas. Nada menos que 42% dos integrantes da classe C estão fazendo bico nos finais de semana, para complementar a renda. Isso não é algo ruim, mas sim um indicativo de que os brasileiros estão mais empreendedores e dispostos a buscar saídas no empreendedorismo.
SERVIÇO:
O Fórum acontecerá no dia 03/03 das 8:30 às 19:00 hs no Teatro CEPIT que fica localizado no Complexo Ohtake Cultural – Rua Coropés 88, Pinheiros/SP.
Lembre-se que o evento é gratuito