Ao abrir minha caixa postal na manhã de segunda-feira, 30/11, levei um susto. Não estou acostumada a receber centenas de mensagens e notei que 99% dos e-mails e recados inbox eram sobre o mesmo assunto. Decidi, então, conferir a tal página do Movimento pela Reforma de Direitos (MRD) – que, por meio de outdoors em Curitiba, pedia a redução dos “privilégios” das pessoas com deficiência.
Como qualquer pessoa que acompanha internet e redes sociais, é claro que cheguei a pensar em hoax ou teaser, especialmente por estarmos às vésperas do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Mesmo assim, nada justificaria uma ação de tamanho mau gosto, na minha opinião.
Um novo texto publicado na página do MRD, à tarde, fazia a chamada para uma coletiva de imprensa. Decidi esperar, mas compartilhei o post com os seguidores do meu blog e comentei: “Seja ação de marketing ou não, a campanha é de péssimo gosto! Vai ser difícil eu mudar de opinião depois da coletiva. Vamos aguardar”.
Ontem, 1/12, logo após a coletiva de imprensa, enfim a verdade veio à tona. Tudo não passou de uma ação do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência de Curitiba para chamar a atenção de todos e lançar uma nova fase da campanha: “Se tantos se revoltaram, por que tantos ainda desrespeitam?
Realmente, a pergunta e o objetivo são excelentes! Mas continuo não concordando com o estilo da campanha por ‘N’ motivos. Provavelmente, os idealizadores devem ter argumentos que a justifiquem. Mas não há como negar que o grande espaço conquistado na mídia também reforça os pensamentos negativos de muita gente.
A fanpage incitava preconceito. Mesmo assim, conquistou mais de 2,5 mil seguidores. E não há como negar a existência de pessoas que, realmente, acreditam que as pessoas com deficiência têm privilégios demais.
Torço para que o MRD consiga mudar a opinião de muitos “antipatizantes” da causa das pessoas com deficiência. Também espero que os brasileiros entendam que preconceito é crime – incitá-lo, também! Sinceramente, me senti ofendida com a leitura dos posts de ontem e passei muita raiva, sem necessidade.
Agora, sabendo os detalhes da campanha-pegadinha, fica a dúvida: como volto atrás para recuperar o tempo e o sentimento perdidos? Por que causar mal-estar em pessoas que já têm tantos perrengues e injustiças para administrar?
Bom, não sei essas respostas, mas tenho certeza de que os fins não justificam os meios! #simplesasssim
Nathalia Blagevitch, 25 anos, tem mobilidade reduzida por conta de uma paralisia cerebral. Biografada no livro “Tente Outra Vez”, atualmente Nathalia é palestrante, blogueira (www.caminhoacessivel.com.br), advogada, professora tutora de direito do trabalho e estuda para o concurso de magistratura.